JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

Cardeal diz que Igreja promete punição a padres pedófilos

Dom Manuel Clemente rebate críticas de religiosos, que cobram mais diversidade dentro da estrutura comandada a partir de Roma. Quase 5 mil casos de abusos sexuais foram identificados em Portugal desde 1950

Lisboa — Cardeal patriarca de Lisboa, dom Manuel Clemente rebateu, nesta segunda-feira (31/07), as críticas de religiosos de que a Igreja Católica é racista e impede a ascensão de integrantes negros a cargos de liderança. Um dia antes do início oficial da Jornada Mundial da Juventude, que contará com o Papa Francisco, ele disse que é questão de convicção que se tenha uma Igreja inter-racial e intercultural, sem distinção de cor e ideologia. “Temos feito tudo para que haja uma Igreja e uma sociedade intercultural e que abranja a todos”, assinalou, durante entrevista coletiva, em resposta ao Correio.

Na sexta-feira, Frei David, que dirige a Educafro, instituição que defende os direitos da população afrodescendente, e organizou um grupo de quilombolas e jovens da periferia que participarão da Jornada, afirmou que os jovens negros não se sentem representados na estrutura comandada a partir de Roma. Para ele, o distanciamento da Igreja, que, no entender dele, “é branca e racista”, explica a fuga da população brasileira do catolicismo. As previsões são de que o Censo de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrará, pela primeira vez, que os católicos são menos de 50% da população.

Dom Manuel ressaltou que, em Portugal, as pesquisas mostram que sete em cada 10 jovens se dizem católicos, o que, para ele, é um número significativo. Ele admitiu, porém, que a Igreja deve estar atenta para cativar essa juventude que será a responsável, no futuro, pela sobrevivência do catolicismo. “A Jornada é um dos instrumentos para dar voz a esses jovens, que têm demonstrando uma esperança renovada”, destacou. Diretor nacional da Pastoral Juvenil, o padre Filipe Diniz, se disse surpreso com o engajamento dos jovens com a Jornada, que deve reunir mais de 1 milhão de pessoas entre os 1 e 6 de agosto em Lisboa.

O cardeal destacou, ainda, que, nas paróquias da capital portuguesa, é cada vez maior o número de fiéis e de líderes religiosos oriundos de países africanos. Isso, na avaliação dele, é um retrato claro de que a Igreja está aberta a todos. Especialistas acreditam que a Igreja portuguesa viu nesses imigrantes uma forma de compensar a perda de fiéis brancos, decepcionados, sobretudo, com os contantes escândalos sexuais envolvendo religiosos. Entre os brasileiros que emigraram para Portugal, boa parte é evangélica.

Abusos sexuais

Questionado sobre os quase 5 mil casos de abusos sexuais desde 1950 identificados por uma comissão independente, Dom Manuel afirmou que a Igreja está enfrentando o problema de forma rigorosa e com todo empenho para resolver essa questão dentro da lei. “Estamos dando todo apoio às vítimas e aos familiares delas. Criamos uma rede de proteção”, frisou. Não se sabe, porém, de nenhuma punição severa para os abusadores — vários já morreram — e se algum dia haverá. As vítimas se organizaram para pedir uma indenização à Igreja, pois carregam sequelas profundas, a ponto de algumas terem tentado por fim à própria vida.

O Papa Francisco tem encontro agendado com algumas das pessoas que denunciaram os casos de pedofilia dentro da Igreja portuguesa. Segundo Dom Manuel, ainda não se sabe quantas delas o pontífice conversará. Há uma enorme preocupação entre elas de que seus nomes não sejam divulgados. Apesar do gesto do Papa, grupos da sociedade civil organizaram uma série de manifestações durante a Jornada, nas quais ostentarão cartazes denunciando os crimes sexuais dentro da Igreja católica. “Estamos numa democracia. Todos têm o direito de se manifestarem”, enfatizou o cardeal.

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