Europa

Mergulhada na incerteza, Espanha se esforça para formar governo

Premiê Pedro Sánchez, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), e Alberto Núñez Feijóo, líder do conservador Partido Popular, buscam apoio de bascos e catalães para garantir a formação de gabinete. Nenhum dos dois partidos obteve a maioria

A ressaca das urnas na Espanha trouxe a difícil missão de negociar questões muitas vezes irreconciliáveis. Sem conquistarem a maioria, o primeiro-ministro Pedro Sánchez, líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), e o conservador Alberto Núñez Feijóo, do Partido Popular (PP), começaram as articulações para a formação de um novo governo e a designação de um premiê.

Ao contrário dos prognósticos, Sánchez foi bem-sucedido em barrar o avanço da oposição de direita nas eleições do último domingo (23/7). Ao fim da apuração, o PP obteve 136 das 350 cadeiras do Congresso dos Deputados, enquanto o Vox — de extrema-direita e seu único aliado potencial — perdeu 19 assentos e ficou com 33. Ambos somam 169 cadeiras, sete a menos do necessário para alcançar a maioria absoluta para designar o governo.

Apesar de o PSOE ter feito 122 deputados e o Sumar, seu aliado de esquerda radical, 31, a coalizão de Feijóo parece em melhores condições de criar uma aliança com os partidos regionais do País Basco e da Catalunha. 

No entanto, na noite desta segunda-feira (24), Andoni Ortuzar, presidente do Partido Nacionalista Basco (PNV), avisou a Feijóo que nem sequer abrirá negociações que possam levá-lo a tomar posse como premiê. Sánchez passou parte do dia reunido com a diretoria do PSOE e expressou a esperança em encontrar uma "fórmula de governabilidade". O partido catalão Junts, de Carles Puigdemont, conseguiu eleger sete deputados e deixou claro que não apoiará nem Sánchez nem Feijóo. O Sumar, outra legenda da Catalunha, iniciou as negociações com o Junts para "explorar todas as vias de acordo". 

Professor de ciência política da Universidad de Málaga, Ángel Valencia Sáiz afirmou ao Correio que Feijóo tentará governar por ter vencido as eleições. "O problema é que seus possíveis sócios de coalizão não lhe permitem comandar o país. A maior dificuldade viria do Vox, que não entraria em um pacto no qual o PNV se fizesse presente. Sánchez poderia governar, se, além da coalizão com Sumar, o fizesse com os partidos nacionalistas basco e catalão, inclusive o Junts", disse. No entanto, Sáiz sustentou que a aritmética das urnas pode implicar exigências inacessíveis. "A situação política deixada pela vitória mínima do PP dificulta, e muito, os pactos na Espanha. Não se descarta a possibilidade de repetição de eleições", alertou Sáiz. 

Para o professor de Málaga, a Espanha não consegue retornar ao bipartidarismo. Ele avaliou que Sánchez conseguiu resistir, ganhar votos e impedir um governo de coalizão do PP com o Vox, o principal derrotado nas urnas. "Por enquanto, os espanhóis não querem que a extrema-direita faça parte do governo da nação", disse. Manuel Villoria Mendieta, professor de ciência política da Universidad Rey Juan Carlos (URJC, em Madri), lembrou ao Correio que, pelo fato de a Espanha ser um sistema parlamentarista, deve governar aquele que tiver mais apoios no Parlamento. "Feijóo pediu para formar o governo, mas é impossível que ele consiga apoio suficiente. Sánchez também tentará fazê-lo, mas será uma missão muito difícil, pois precisará de uma aliança com Junts, cujo líder (Puigdemont) é foragido da Justiça espanhola e pode solicitar, em troca de sua inocência, coisas impossíveis, tanto do ponto de vista legal quanto político."

Mendieta aponta a estabilidade política como a "grande derrotada" nas eleições. "O Vox é o partido que mais perdeu. O PP não subiu muito, mas se esperava muito mais do partido de Sánchez. O mais importante, para mim, é que a Espanha não está disposta a aceitar a extrema-direita no governo nacional. Nós, espanhóis, somos muito mais progressistas. Isso torna quase inviável para o PP governar, a não ser que alcance resultados espetaculares, superiores a 36% dos votos."

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