Coreio do Norte

O que aconteceu com outros americanos detidos na Coreia do Norte

Cidadãos americanos foram detidos na Coreia do Norte várias vezes desde 1996, incluindo turistas, acadêmicos e jornalistas

Desde que os canhões da Guerra da Coreia silenciaram em 27 de julho de 1953, dezenas de milhares de soldados americanos permaneceram na Coreia do Sul para vigiar o paralelo 38 com a Coreia do Norte, linha imaginária que dividia os dois países.

Juntamente com seus aliados sul-coreanos, as forças dos EUA conduzem regularmente exercícios militares de grande escala na península, frequentemente recebendo repreensões do governo de Pyongyang.

Mas, apesar dessas tensões e da falta de relações diplomáticas formais entre os EUA e a Coreia do Norte, um fluxo pequeno, mas constante, de americanos passou pelo país em viagens organizadas - às vezes com resultados perigosos.

"Não viaje para a Coreia do Norte devido ao sério risco contínuo de prisão e detenção prolongada de cidadãos dos EUA", diz um aviso de viagem no site do Departamento de Estado dos EUA. "O governo dos EUA é incapaz de fornecer serviços de emergência a cidadãos americanos na Coreia do Norte."

Cidadãos americanos foram detidos na Coreia do Norte várias vezes desde 1996, incluindo turistas, acadêmicos e jornalistas.

Em julho de 2017, o governo dos EUA proibiu cidadãos americanos de visitar o país – uma medida que foi estendida até pelo menos agosto deste ano.

Nesta semana, um soldado dos Estados Unidos foi detido na Coreia do Norte depois de cruzar a fronteira sem autorização. A informação foi confirmada por um porta-voz do Pentágono. O militar americano foi identificado como o soldado raso de 2ª classe Travis King, segundo disseram autoridades à CBS News, parceira da BBC nos Estados Unidos.

Aqui estão alguns dos casos mais conhecidos de detenções n?da última década.

Otto Warmbier, 2016

Otto Warmbier, um estudante da Universidade da Virgínia, foi preso enquanto visitava a Coreia do Norte como parte de um grupo de turismo em janeiro de 2016.

A visita, organizada por uma operadora de turismo de baixo custo com sede na China especializada em destinos incomuns, foi uma viagem de cinco dias para conhecer a Coreia do Norte durante o período da véspera de Ano Novo. Seu pai disse mais tarde ao jornal Washington Post que estava "curioso sobre a cultura deles" e "queria conhecer o povo da Coreia do Norte".

Cerca de dois meses após a detenção, em 2 de janeiro, um tribunal norte-coreano condenou Otto Warmbier a 15 anos de prisão com trabalhos forçados sob a acusação de tentativa de roubo de um cartaz de propaganda.

Logo após a sentença, Warmbier sofreu uma lesão neurológica em circunstâncias pouco claras.

Ele foi libertado - gravemente doente - 17 meses após sua prisão e morreu em um hospital seis dias após retornar aos EUA, em junho de 2017.

Médicos americanos descreveram Warmbier como estando em um estado de "vigília sem resposta".

Para a família Warmbier, chamar esse quadro de coma era "injusto". Seu pai disse que o filho estava "se movendo e se sacudindo violentamente, uivando e grunhindo".

Reuters
Otto Warmbier 'confessou' na frente da mídia norte-coreana semanas após sua detenção

Sua cabeça estava raspada, ele estava cego e surdo, seus braços e pernas estavam "totalmente deformados" e ele tinha uma enorme cicatriz no pé, disse. "Parecia que alguém havia pegado um alicate e reorganizado seus dentes inferiores".

"Otto foi sistematicamente torturado e intencionalmente ferido por Kim e seu regime. Isso não foi um acidente", disse seu pai.

Mais tarde, um tribunal federal dos EUA considerou a Coreia do Norte responsável pela tortura e morte de Otto Warmbier.

Embora a Coreia do Norte não tenha contestado formalmente as acusações, o país negou repetidamente qualquer irregularidade.

A Agência Central de Notícias da Coreia afirmou que o jovem recebeu atendimento médico "com toda a sinceridade", apesar de "não ter motivos para mostrar misericórdia a um criminoso do estado inimigo".

Também afirmou que a Coreia do Norte foi "a maior vítima" da morte e subsequente "campanha de difamação" dos EUA.

Bruce Byron Lowrance, 2018

Em outubro de 2018, a Coreia do Norte anunciou que Bruce Byron Lowrance - um homem de 60 anos nascido no Estado de Michigan - havia sido detido ao entrar ilegalmente no país vindo da China.

Mais tarde, autoridades americanas revelaram que um homem com o mesmo nome e descrição havia sido detido na zona desmilitarizada que separa as Coreias do Norte e do Sul.

O homem teria dito aos investigadores que acreditava que sua visita ajudaria a aliviar as tensões geopolíticas entre os dois países.

Lowrance foi libertado cerca de um mês depois de ser detido, o que as autoridades dos EUA sugeriram que pode ter sido um esforço para melhorar as relações com os EUA após conversas entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o então presidente dos EUA, Donald Trump.

Lowrance não comentou publicamente sobre sua detenção e subsequente libertação.

Matheus Miller, 2014

Reuters
Turistas na Coreia do Sul olhando para o norte através da Zona Desmilitarizada que separa os dois países

Matthew Miller, um professor de 24 anos da Califórnia, foi detido pelas autoridades norte-coreanas e acusado de atos de espionagem "hostis" durante uma viagem organizada em abril de 2014.

As autoridades norte-coreanas alegaram mais tarde que ele admitiu ter uma "grande ambição" de explorar o país e investigar as condições da população.

Ele foi condenado a seis anos de prisão com trabalhos forçados em setembro de 2014. Em entrevistas antes e depois de sua libertação, ele disse que passava grande parte do tempo cavando nos campos, removendo pedras e arrancando ervas daninhas, mas, fora isso, era mantido em isolamento.

Miller foi solto no mês seguinte com outro detento americano, Kenneth Bae.

Em uma entrevista ao jornalista Nate Thayer, do site NK News, focado na Coreia do Norte, Miller disse que foi para a Coreia do Norte com a intenção de desertar e conseguir "falar com um norte-coreano comum sobre coisas normais", independentemente da política.

"Eu estava tentando ficar no país", disse Miller. "Eles queriam que eu fosse embora. Logo na primeira noite, eles disseram: 'Queremos que você saia no próximo voo'. Mas eu recusei. Simplesmente não fui embora."

Na entrevista, Miller disse que eventualmente "mudou de ideia" sobre a busca de asilo e pediu ajuda ao governo dos Estados Unidos.

Kenneth Bae, 2012

O homem libertado com Miller, Kenneth Bae, residente no Estado de Washington, foi preso em novembro de 2012.

Missionário cristão evangélico coreano-americano, ele visitou o país várias vezes. Nesta ocasião ele foi parado, e um disco rígido com material cristão foi descoberto.

A Coreia do Norte apresentou uma série de acusações pelo que chamou de "atos hostis" de Bae, incluindo a tentativa de estabelecer bases para atividades antigovernamentais, contrabando de literatura proibida e incentivo a dissidentes.

Ele foi condenado a 15 anos de trabalhos forçados.

A mídia estatal sugeriu que ele só escapou da pena de morte como resultado de uma "confissão sincera".

Durante seu tempo em cativeiro, sua família disse que sua saúde se deteriorou como resultado de más condições e do trabalho difícil. Parte de seu cativeiro foi gasto em um campo de trabalho para estrangeiros em que ele era o único preso.

Bae foi libertado e voltou para os EUA junto com Mathews Miller após uma visita secreta a Pyongyang de James Clapper, diretor de Inteligência Nacional dos EUA.

Após sua libertação, Bae escreveu um livro de memórias, Not Forgotten: The True Story of My Prisonment in North Korea (Não esquecido: a verdadeira história da minha prisão na Coreia do Norte), no qual ele disse que foi interrogado das 8h às 23h todos os dias durante as primeiras quatro semanas de sua prisão.

Seus interrogadores exigiram centenas de páginas de confissões.

Ele disse que um interrogador lhe dizia: "Ninguém se lembra de você. Você foi esquecido pelas pessoas, pelo seu governo. Você não vai voltar para casa tão cedo. Você ficará aqui por 15 anos. Você terá 60 anos antes de ir para casa".

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