Mais uma vez, Donald Trump, 77 anos, se vê às voltas com problemas na Justiça. "O transtornado Jack Smith, o procurador do Departamento de Justiça do (presidente dos Estados Unidos) Joe Biden, enviou uma carta (no domingo à noite!) na qual declara que sou alvo da investigação do grande júri sobre o 6 de janeiro. Ele me deu um período muito curto de quatro dias para me reportar ao grande júri, o que quase sempre significa prisão e indiciamento", desabafou o ex-presidente republicano em sua rede Truth Social. O magnata acusou suposta perseguição política. "Nada assim aconteceu em nosso país. (...) Eles espionaram ilegalmente minha campanha, me atacaram com um dossiê falso financiado por Hillary Clinton e pelo Comitê Nacional Democrata, tentaram meu impeachment por duas vezes", acrescentou. Trump voltou a falar em "caça às bruxas" e o "total armamento político da aplicação da lei".
Em 6 de janeiro de 2021, uma horda de simpatizantes de Trump invadiu o Capitólio, sede do Congresso norte-americano, o momento em que os legisladores certificavam a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais. Durante o ataque, transmitido por televisões do mundo inteiro, cinco pessoas morreram e 138 policias ficaram feridos, além de um número desconhecido de vândalos. Trump foi indiciado em dois outros casos — suborno contra a ex-atriz pornô Stormy Daniels, com quem teve um caso extraconjugal; e a posse de documentos secretos em seu resort privativo de Mar-a-Lago, na Flórida (veja quadro).
Dissolvida no começo do ano pela nova maioria do Partido Republicano na Câmara dos Representantes, uma comissão de investigação sobre o 6 de janeiro concluiu que Trump incitou os simpatizantes antes do ataque e "falhou em seu dever como comandante-em-chefe" durante os atos violentos. Em seu relatório final, publicado em dezembro de 2022, a comissão parlamentar destacou que Trump não deveria ocupar cargos públicos.
O Departamento de Justiça "emitiu efetivamente uma terceira acusação e pedido de prisão do oponente político número um de Joe Biden, que está dominando amplamente a corrida pela Presidência", afirmou Trump. O republicano Ron De Santis, governador da Flórida, disse à emissora CNN esperar que Trump não seja formalmente acusado por algo que ocorreu quatro anos atrás. "Acho que não vai ser bom para o país. Tenho que focar em olhar adiante, e isso é o que vamos fazer", comentou. O jornal The Washington Post informou que uma carta em que se avisa uma pessoa que está sendo investigada não implica que ela será acusada.
Líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell preferiu o silêncio, ao ser questionado sobre o fato de Trump ser alvo de uma nova investigação federal. Por sua vez, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, limitou-se a dizer que "Biden tem sido muito firme em garantir que o estado de direito volte à Casa Branca e ao atual governo, de forma mais ampla".
Professora de ciência política da Brown University (em Rhode Island), Wendy J. Schiller-Kalunian afirmou ao Correio que a investigação envolvendo os ataques ao Capitólio é "o caso mais importante pendente contra Trump por trazer consigo uma possível acusação de traição ou sedição". "Uma condenação o impediria de assumir um cargo federal", explicou. Para a especialista, parece haver evidência de que ele se engajou no planejamento para reverter o resultado das eleições. "Trump via os comícios como uma forma possvel de impedir a certificação das eleições por parte do Congresso. Se ele sabia ou esperava violência, isso fará parte do caso que os promotores terão que fazer."
NA MIRA DA JUSTIÇA
Confira os principais problemas judiciais do magnata Donald Trump
Arquivos da Casa Branca
Ao deixar a Casa Branca, Trump levou consigo caixas repletas de documentos, apesar de uma lei de 1978 obrigar os presidentes americanos a enviarem e-mails, cartas e outros documentos de trabalho aos Arquivos Nacionais. Em janeiro de 2022, Trump devolveu 15 caixas, mas o FBI, a polícia federal dos EUA, estimou que o ex-presidente provavelmente tinha mais em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida. Agentes do FBI fizeram uma revista com mandado judicial por "retenção de documentos sigilosos" e "obstrução de investigação federal", e confiscaram cerca de 30 outras caixas. Trump foi indiciado a nível federal no começo de junho. O magnata compareceu a um tribunal federal de Miami, onde se declarou não culpado das 37 acusações que lhe são imputadas.
O caso Stormy Daniels
Trump foi indiciado, no começo de abril, por ter "orquestrado" pagamentos para silenciar três pessoas cujas revelações poderiam ter-lhe prejudicado no período anterior às eleições presidenciais de 2016, da qual foi vencedor. Concretamente, ele é acusado do pagamento de US$ 130 mil (cerca de R$ 624 mil reais na cotação atual) à atriz pornô Stormy Daniel para que ela ficasse em silêncio sobre uma suposta relação extraconjugal que remonta a 2006. Esses pagamentos não são ilegais, mas o problema é que Trump os classificou como "honorários jurídicos" nas contas de sua empresa, a Trump Organization. Como consequência, ele enfrenta 34 acusações por "falsificação de documentos contábeis". O ex-presidente, que compareceu ao tribunal de Nova York em 4 de abril, se declarou não culpado.
Eleições na Geórgia
Uma procuradora da Geórgia investiga desde 2021 as "tentativas de influenciar as operações eleitorais" naquele estado do sul do país, onde Joe Biden venceu por estreita maioria em 2020. Em um telefonema, cuja gravação foi tornada pública, Trump pediu a Brad Raffensperger, alto funcionário local, que "encontrasse" quase 12 mil votos a seu favor. Fani Willis, promotora do condado de Fulton, que inclui Atlanta, nomeou um grande júri para determinar se há provas suficientes para indiciar o ex-presidente.
Assuntos financeiros
Em janeiro, a Trump Organization foi condenada, em Nova York, a pagar uma multa de até US$ 1,6 milhão (R$ 8,3 milhões) por fraude fiscal e financeira.