Lisboa — Na tentativa de se reaproximar da América Latina e do Caribe, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou, nesta segunda-feira (17/07), que o bloco europeu investirá 45 bilhões de euros (cerca de R$ 242 bilhões) na região. Há, segundo ela, mais de 135 projetos em análise, lista que pode crescer à medida que o estreitamento dos laços entre a União Europeia e os países latinos e caribenhos foram se estreitando. O anúncio dos investimentos foi feito durante um seminário com empresários, pouco antes da abertura, em Bruxelas, da reunião de cúpula entre a EU e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac).
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“Temos mais de 135 projetos em análise, de hidrogênio verde a minerais críticos, de rede de cabos de dados de alta performance à produção de vacinas ainda mais eficientes. Juntos, poderemos escolher os setores e cadeias de produção que deverão ser priorizados”, afirmou Von der Leyen. “Nós o chamamos esse programa de Global Gateway (Entrada global). Com ele, propomos fazer mais de 45 bilhões de euros (cerca de R$ 242 bilhões) em investimentos europeus de alta qualidade”, acrescentou.
Na avaliação da presidente da Comissão Europeia, a reunião de cúpula em Bruxelas marca um novo começo para uma amizade antiga. “A América Latina e o Caribe e a Europa precisam um do outro hoje mais do que nunca. O mundo em que vivemos é mais competitivo e conflituoso do que nunca. Precisamos reforçar nossas economias, enfrentar desigualdades e a pobreza em nossas sociedades e formar parcerias com países com os quais compartilhamos valores”, frisou.
Mercosul e UE
Para Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, que assumiu a presidência temporária da União Europeia, é fundamental que o encontro com a Celac facilite o caminho para que se possa concluir o acordo comercial entre UE e Mercosul ainda no segundo semestre de 2023. “Depois de mais de 20 anos de negociações, acreditamos que temos uma grande janela de oportunidade para concluir o acordo nesses seis meses de presidência. Acredito que será benéfico para ambas as regiões e estamos trabalhando intensamente para concluir o acordo nas questões que dizem respeito ao meio ambiente”, assinalou.
O ponto crucial para que o tratado entre União Europeia e Mercosul saia do papel é preciso superar o descontentamento dos países sul-americanos em relação a uma side letter (carta complemento) enviada pelos europeus. No documento, foram incluídas punições contra o desmatamento. Tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto os demais sócios do Brasil no bloco regional viram as proposições da União Europeia como ameaças. “E não se amaça parceiros”, tem ressaltado o líder brasileiro, que defende o fechamento do acordo ainda neste ano, desde que as condições sejam boas para os dois lados.
Presente na reunião de cúpula, Lula, que também participou do fórum com empresários, destacou, em seu discurso, a importância da cooperação e das parcerias econômicas entre países latino-americanos e europeus. Esse, no entender dele, é o caminho para se enfrentar desafios como as mudanças climáticas e a luta contra as desigualdades sociais, gerando empregos e renda. “Os países da América Latina e do Caribe continuarão a desempenhar um papel estratégico para a Europa e o mundo, porque somos uma região com enormes oportunidades de investimento e de ampliação do consumo”, afirmou.
Parceiro comercial
De acordo com Lula, os países latinos e do Caribe demandam investimentos em infraestrutura logística diversificada, infraestrutura social e urbana. “Somos sociedades em processo de forte mobilidade social, nas quais se constituem novos e dinâmicos mercados internos, integrados por centenas de milhões de consumidores”, acrescentou. Na visão dele, a parceria do Brasil com a União Europeia tem enorme peso do ponto de vista comercial e, consequentemente, pelos desdobramentos que o tratado negociado entre os europeus e o Mercosul podem trazer ao longo das próximas décadas para ambos os lados.
O líder brasileiro lembrou que a União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com uma corrente de comércio que poderá ultrapassar a marca de US$ 100 bilhões em 2023. “Um acordo entre Mercosul e União Europeia equilibrado, que pretendemos concluir ainda este ano, abrirá novos horizontes. Queremos um acordo que preserve a capacidade das partes de responder aos desafios presentes e futuros”, disse.