Guerra no Leste Europeu

Prigozhin está na Rússia, revela presidente de Belarus

Alexander Lukashenko garante que chefe do Grupo Wagner não se encontra em território bielorrusso e cita Moscou como paradeiro. Após motim, mercenário firmou acordo com o Kremlin, que impôs a condição de exílio. Ataque russo a Lviv mata seis civis

Yevgeny Prigozhin está em Moscou, apesar de um acordo feito com o Kremlin estabelecer que o líder do Grupo Wagner se exilasse em Belarus, depois do motim fracassado de 23 de junho passado. "Quanto a Prigozhin, ele está em São Petersburgo. Onde ele está esta manhã? Ele pode ter partido para Moscou ou outro lugar, mas não está em território bielorrusso", disse Alexander Lukashenko, presidente de Belarus, durante entrevista à imprensa estrangeira em Minsk. "Tenho certeza de que ele está livre." Um dos principais aliados de Vladimir Putin, Lukashenko relatou que falou ao telefone com Prigozhin na última quarta-feira (5/7).

O chefe dos mercenários que se rebelaram contra a cúpula militar do Kremlin assegurou que "continuaria trabalhando para a Rússia", mas não aparece em público desde sua partida da cidade de Rostov-on-Don. Dmitry Peskov, porta-voz do governo russo, desconversou, ao ser questionado sobre o assunto. "Não estamos acompanhando seus movimentos (de Prigozhin)", rebateu. 

Horas antes da declaração de Lukashenko, Lviv — no extremo oeste da Ucrânia — foi atacada com uma série de mísseis russos durante a madrugada, que mataram pelo menos seis pessoas. Durante visita à República Tcheca, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, publicou um vídeo com imagens de drones mostrando a destruição na cidade. "Lviv. Consequências do ataque noturno pelos terroristas russos. Infelizmente, há feridos e mortos. Minhas condolências aos familiares. Definitivamente, haverá uma resposta ao inimigo. Uma resposta forte", escreveu. O Exército russo assegurou que os bombardeios visaram lugares de "destacamento temporário" de soldados ucranianos. "Todas as instalações designadas foram atingidas", declarou, por sua vez, o Ministério da Defesa russo.

Yuriy Dyachyshyn/AFP - Socorristas observam prédios residenciais parcialmente destruídos por mísseis na cidade de Lviv, no oeste do país: madrugada de terror

Zelensky se reuniu com o presidente tcheco, Petr Pavel, em Praga, antes de uma importante cúpula da Otan em Vilnius, na Lituânia, prevista para 11 e 12 de julho. O ucraniano aproveitou a ocasião para fazer uma cobrança à aliança militar ocidental. "Exigimos honestidade em nossas relações com a Otan", disse Zelensky à imprensa. "É hora de demonstrar a coragem e a força dessa aliança."

Sobre a presença de Prigozhin na Rússia, Angelo Segrillo — professor de história da Universidade de São Paulo (USP), explicou ao Correio que o líder do Grupo Wagner tinha uma série de negócios na Rússia que estão sendo vasculhados pelas autoridades de Moscou. "As tevês russas fizeram reportagens negativas sobre ele, algumas mostravam batidas policiais em suas mansões. A campanha na mídia da Rússia tem o aval do Kremlin", observou. Para o historiador, isso põe por terra a tese de orquestração entre Putin e Prigozhin ou de um motim "arranjado".

Telegram/AFP - Yevgeny Prigozhin, em vídeo feito de 24 de junho: última aparição

"Talvez Prigozhin tenha voltado de Belarus para saber como ficará a sua situação, se ele perderá todo o dinheiro. O retorno à Rússia mostra como a situação é volátil. Se ele tiver costas quentes com o alto escalão do Exército russo, pode tentar reativar alguma parceria do Grupo Wagner com Moscou", disse Segrillo.

Mísseis na madrugada

Professor de história da Universidade Católica Ucraniana e morador de Lviv, Yaroslav Hrytsak se assustou com os estrondos no meio da madrugada desta quinta-feira, entre 2h e 3h (entre 20h e 21 de quarta-feira, em Brasília). "Houve três explosões. Na primeira, creio que o míssil foi interceptado, porque era um som ao qual estamos acostumados. No entanto, a última, por volta das 2h40, foi uma explosão muito grande e todos a escutamos. Moro a cerca de 2km do prédio atingido, e o câmpus da universidade em que trabalho fica a 200m. Temos sorte porque o edifício onde fica meu escritório foi construído com nova tecnologia. Ainda assim, tivemos janelas e portas quebradas", contou ao Correio, por telefone. 

De acordo com Hrytsak, o prédio residencial destruído é um dos mais icônicos de Lviv. "Ele foi erguido durante o domínio polonês e se tornou um símbolo. Os russos tentaram atingir uma unidade militar próxima, mas a falta de precisão fez com que destruíssem um alvo civil", disse. O professor descreveu a devastação como "enorme". "Estive lá pela manhã e vi a destruição. Você não tem a dimensão até ver as fotos tiradas por drones. O que os russos fizeram foi inimaginável. É um ato de barbárie."

A Unesco condenou o bombardeio — "o primeiro que afeta uma área protegida pela Convenção sobre o Patrimônio Mundial desde o início da guerra, em 24 de fevereiro de 2022" — e  o qualificou de uma "violação" deste acordo. A agência especializada da ONU sediada em Paris também apontou um desrespeito à Convenção de Haia de 1954 para a proteção de bens culturais em caso de conflito armado".

Hrytsak destacou que a população de Lviv tem mostrado resiliência e resistência nos últimos meses. Para ele, os ataques de ontem transmitem a ideia de que a cidade é importante para Putin. "Nossa cidade é um significativo centro da resistência. Putin quis afetar o moral das pessoas daqui", aposta. Ele acredita que o bombardeio foi um recado para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "Lviv se situa muito perto da fronteira entre Ucrânia e Polônia, membro da Otan", ressaltou.

Chefe da administração militar regional de Lviv, Maksym Kozytskyy relatou ao Correio que os trabalhos de resgate contam com 668 pessoas e 139 maquinários. "São socorristas, médicos, policiais e voluntários. Ainda não conseguimos contato com uma família que morava no prédio destruído", afirmou. 

DUAS PERGUNTAS PARA - Maksym Kozytskyy, chefe da administração militar regional de Lviv

Arquivo pessoal - Maksym Kozytskyy, chefe da administração militar regional de Lviv

Qual é a situação em Lviv após este ataque?

Por volta das 3h (desta quinta-feira, pelo horário local), um míssil russo atingiu um prédio residencial, na cidade de Lviv. Seis pessoas morreram e 36 ficaram feridas, das quais 14 estão hospitalizadas. Mais de 300 precisaram receber suporte psicológico. Hoje, tivemos o ataque mais prejudicial à nossa cidade até agora. Isso prova que a Rússia está combatendo todos os ucranianos, não apenas os militares, pois estão atacando os civis.

Mas Moscou sempre tem insistido que não ataca civis. Como vê isso?

A Rússia ataca civis ucranianos com frequência. Ao longo das últimas semanas, vimos como seus mísseis mataram civis em Kremenchuk, em Sumy e em Zaporizhzhia. O ataque desta noite contra Lviv é outro importante lembrete de que devemos fazer tudo o que pudermos para ganhar essa guerra, a fim de que nossos filhos e netos não tenham que lutar contra o mau totalitário russo. Nós não vamos nos quebrar. Vamos deixar que o modesto humilde nem mesmo tenha esperança. (RC

Saiba Mais

Yuriy Dyachyshyn/AFP - Socorristas observam prédios residenciais parcialmente destruídos por mísseis na cidade de Lviv, no oeste do país: madrugada de terror
Reprodução - Armas apreendidas em mansão do bilionário foram exibidas na tevê
Arquivo pessoal - Maksym Kozytskyy, chefe da administração militar regional de Lviv

Duas perguntas para

Maksym Kozytskyy, chefe da administração militar regional de Lviv 

Qual é a situação em Lviv após este ataque?  

Hoje (ontem), por volta das 3h, um míssil russo atingiu um prédio residencial, na cidade de Lviv. Seis pessoas morreram e 36 ficaram feridas, das quais 14 estão hospitalizadas. Mais de 300 precisaram receber suporte psicológico. Hoje, tivemos o ataque mais prejudicial à nossa cidade até agora. Isso prova que a Rússia está combatendo todos os ucranianos, não apenas os militares, pois estão atacando os civis. 

Mas Moscou sempre tem insistido que não ataca civis. Como vê isso?

A Rússia ataca civis ucranianos com frequência. Ao longo das últimas semanas, vimos como seus mísseis mataram civis em Kremenchuk, em Sumy e em Zaporizhzhia. O ataque desta noite contra Lviv é outro importante lembrete de que devemos fazer tudo o que pudermos para ganhar essa guerra, a fim de que nossos filhos e netos não tenham que lutar contra o mau totalitário russo. Nós não vamos nos quebrar. Vamos deixar que o modesto humilde nem mesmo tenha esperança. (RC)

 

Xi Jinping advertiu Putin a não usar armas nucleares

O jornal The Financial Times divulgou que o presidente da China, Xi Jinping, fez uma advertência ao colega russo, Vladimir Putin, sobre o eventual uso de armamento nuclear na Ucrânia. O alerta do líder chinês, importante aliado de Moscou, foi feito pessoalmente, durante visita a Moscou, em março passado. Segundo o diário britânico, a influência de Pequim sobre a Rússia levantou esperança de que Xi possa impedir Putin de lançar um ataque com armas atômicas, sob o risco de comprometer o relacionamento dos dois países. 

Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, saudou a posição de Xi. "Esta é uma posição importante da China em relação à ameaça nuclear dos terroristas russos insanos", escreveu, no aplicativo de mensagens Telegram, ao publicar o artigo do Financial Times sobre o assunto. Alguns especialistas não descartam que Moscou utilize uma arma nuclear estratégica para desacelerar a contraofensiva de Kiev. 

Também em março, Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE), declarou que a visita de Xi ao Kremlin reduz o risco de guerra nuclear. "Eles (os chineses) deixaram isso muito, muito claro", comentou ele, à época. Nos últimos dias, Kiev e Moscou trocaram acusações em relação a um suposto plano para explodir a usina atômica de Zaporizhzhia, a maior da Europa, no sul da Ucrânia. Ontem, Nataliya Gumenyuk, porta-voz do Exército ucraniano. 

O governo dos Estados Unidos deve anunciar, hoje, um novo pacote de ajuda militar para a Ucrânia. Oficiais de defesa revelaram à emissora CNN que o pacote conteria, pela primeira vez, munições de fragmentação. Esse tipo de armamento é proibido por mais de 100 países, porque espalha pequenas esferas explosivas em grandes áreas que podem não explodir durante o impacto e representam risco a civis. No entanto, nem Washington, nem Kiev assinaram o acordo para vetar essas munições.