Casa e Jardim. Sob esse nome, as Forças de Defesa de Israel (IDF) lançaram a maior operação militar em duas décadas na Cisjordânia. Amparados por blindados e drones, centenas de soldados invadiram o campo de refugiados de Jenin, enquanto escavadeiras destruíram ruas para desarmar explosivos. Dez alvos foram bombardeados pelas aeronaves não tripuladas. Tropas israelenses e militantes palestinos trocaram tiros, e civis aremessaram pedras contra o Exército judeu. Três mil dos 14 mil moradores abandonaram suas casas, no acampamento, e aguardavam as gestões das autoridades locais e da ONU para serem abrigados em escolas. Até o fechamento desta edição, nove palestinos tinham sido mortos durante a incursão. Cinquenta ficaram feridos, dez em estado grave.
As IDF anunciaram que o objetivo da operação foi desmantelar uma "infraestrutura terrorista" e um "centro de operações conjuntas", que estariam sendo usados pelas Brigadas de Jenin, grupo militante islâmico fundado dois anos atrás por Jamil Al-Amouri, integrante da Jihad Islâmica. Por meio do Twitter, o Exército israelense informou que a unidade de combate Magellan e o serviço de segurança Shin Bet destruíram um laboratório que continha centenas de explosivos. Moradora de um vilarejo próximo a Jenin, a jornalista palestina Shatha Hanaysha contou ao Correio que a operação começou com ataques a casas por foguetes lançados de drones. "Depois, os soldados chegaram ao campo por entradas diferentes", disse.
O premiê Benjamin Netanyahu informou que a incursão visava "deter terroristas que buscam destruir Israel". "Soldados tentaram alcançar, sem serem detectados, o alvo mais legítimo do planeta — pessoas que aniquilariam nosso país", assegurou. Por sua vez, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, destacou a aplicação como uma "estratégia proativa" contra o terrorismo.
O Ministério das Relações Exteriores palestino acusou Israel de ter lançado "uma guerra aberta contra a população em Jenin". O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, interrompeu os contatos e reuniões com o governo israelense, e manteve a suspensão da coordenação de segurança, em retaliação à ofensiva. Abbas recebeu, em Ramallah, representantes de várias facções palestinas, em uma reunião de emergência para acordar uma "visão nacional abrangente e unir as fileiras para enfrentar a agressão israelense", segundo Nabil Abu Rudaineh, porta-voz da Presidência da AP. A operação em Jenin é um capítulo a mais da escalada de tensão na Cisjordânia. Desde o início do ano, 192 palestinos, 25 israelenses, um ucraniano e um italiano morreram.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, se disse "profundamente preocupado" com os desdobramentos em Jenin e sublinhou que "todas as operações militares devem ser conduzidas com total respeito pelo direito humanitário internacional". A Liga Árabe convocou uma reunião de urgência para esta terça-feira.
O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, explicou ao Correio que, nos últimos meses, Jenin tornou-se uma área de onde se iniciaram muitas "atividades terroristas e ataques contra civis israelenses". "Desde o começo do ano, 29 pessoas morreram nesses atentados, incluindo um palestino que trabalhava em Israel e foi morto por um foguete", lembrou. "Isso tem a ver com o enfraquecimento da Autoridade Palestina e a luta pela sucessão a Mahmud Abbas. Muitos desses ataques assassinaram israelenses. O campo de refugiados de Jenin se tornou o centro dessas atividades de mentores do Hamas e da Jihad Islâmica, algumas vezes de pessoas do Fatah. Eles se reuniram para criar atividades terroristas", acrescentou.
Segundo Zonshine, houve uma escalada na região, duas semanas atrás. "Forças de Israel entraram no campo para prender suspeitos e encontraram uma resistência muito forte, que disparou e colocou explosivos nas ruas. Israel tornou a entrar no campo para atingir a infraestrutura e os laboratórios de fabricação de explosivos, com o mínimo de danos para as pessoas que vivem em Jenin."
Responsabilização
"O povo palestino não é terrorista, mas combatente pela liberdade, e não abrirá mão dos direitos em seu Estado independente. Israel pratica terrorismo de Estado organizado e deve ser responsabilizado. Seus líderes devem ser levados às Cortes internacionais", disse ao Correio Ibrahim Alzeben, embaixador da Palestina no Brasil.
De acordo com o diplomata, com a operação em Jenin, Israel "voltou a trilhar o caminho sangrento e fechado". "O povo da Palestina não levantará a bandeira branca. Que Netanyahu e aqueles que estão com ele, entre os assassinos, olhem para trás para ver os remanescentes de 56 invasores que passaram pela terra da Palestina. Cada invasor usou seu poder para acabar com a Palestina e seu povo. A Palestina permaneceu e apenas alguns remanescentes dos invasores permaneceram", acrescentou. Ele lembrou que a operação em Jenin é "a mais ampla e cruel em 20 anos", afirmou Alzeben.
O embaixador Qais Shqair, chefe da Missão da Liga Árabe no Brasil, relatou que cerca de mil soldados israelenses equipados com armas de alta tecnologia invadiram o campo. "Escavadeiras derrubaram casas de civis. Mais de 3 mil moradores foram deixados nas ruas, incluindo crianças e idosos, apenas para que Netanyahu ganhe popularidade junto à opinião pública israelense", disse à reportagem. Shqair defende que o ciclo de violência se encerre com o fim da ocupação de Israel. "Esta é a causa raiz do derramamento de sangue."
Analista política em Ramallah (Cisjordânia), Nour Odeh disse à reportagem que a incursão em Jenin é "parte do esforço do governo israelense de esmagar os palestinos em todas as frentes e a ideia de um Estado, como disse Netanyahu".