Ucrânia

Ataques russos em Odessa destroem histórica catedral ortodoxa

A Catedral da Transfiguração, localizada no centro histórico da cidade que foi declarado patrimônio mundial da Unesco, também sofreu graves danos

BBC
James Waterhouse - Correspondente da BBC na Ucrânia
postado em 23/07/2023 22:45 / atualizado em 23/07/2023 22:46
A Catedral da Transfiguração foi construída no final do século 18 -  (crédito: Getty Images)
A Catedral da Transfiguração foi construída no final do século 18 - (crédito: Getty Images)

Ao menos uma pessoa morreu e 19 ficaram feridas em ataques com mísseis russos na cidade ucraniana de Odessa no domingo (23/7), disseram autoridades locais.

A Catedral da Transfiguração, localizada no centro histórico da cidade que foi declarado patrimônio mundial da Unesco, também sofreu graves danos.

A Rússia atribuiu o ataque à defesa aérea ucraniana.

O governador regional, Oleh Kiper, disse que 14 pessoas, incluindo quatro crianças, foram levadas ao hospital no domingo após as explosões, que também destruíram seis prédios residenciais.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou represálias.

A catedral

Kiev acusou a Rússia de "destruir" a catedral como parte de uma campanha para atacar "sistematicamente" a Igreja Ortodoxa no país.

"Um crime de guerra que nunca será compreendido ou perdoado", tuitou o Ministério de Relações Exteriores da Ucrânia, que ao fim da mensagem usou uma hashtag que dizia "Rússia é um Estado Terrorista".

O dano é tão colossal quanto a própria catedral. As rachaduras ao longo de suas paredes representam a tensão que toma conta de Odessa após uma semana de constantes ataques aéreos.

Não há dúvida de que foi um impacto direto de um míssil.

A maior parte do telhado está faltando. As antigas paredes do edifício continuam em pé, mas o ângulo de inclinação dos vários pilares é preocupante.

Nas primeiras horas da manhã, as equipes recolheram os danos do impacto e encontraram fragmentos do que afirmam ser o míssil russo que destruiu o local de culto.

A catedral após ataque
Getty Images
Ucranianos limparam os escombros da histórica Catedral da Transfiguração

O edifício é a maior igreja ortodoxa de Odessa e foi consagrado em 1809. Foi demolido pela União Soviética em 1939, antes de ser reconstruído em 2003.

Andriy Palchuk, arquidiácono da catedral, disse que foi a primeira pessoa a chegar ao local.

"A destruição é enorme. A metade da catedral ficou sem teto, os pilares centrais e os alicerces foram destruídos", disse.

"Todas as janelas e molduras de estuque estão expostas. Houve um incêndio parcial, na parte da igreja onde são vendidos os ícones e as velas, pegou fogo. Tudo estava pegando fogo, queimando."

Chamado internacional

Agência cultural da ONU, a Unesco, disse estar "profundamente chocada e condena nos termos mais fortes" o ataque ao centro histórico de Odessa.

A organização pediu repetidamente que a Rússia cessasse os ataques a Odessa. O centro histórico da cidade foi declarado Patrimônio da Humanidade em perigo no início deste ano, apesar da oposição russa.

Em uma atualização publicada no Facebook, o comando do sul da Ucrânia disse que a Rússia tinha como alvo a região de Odessa com pelo menos cinco tipos de mísseis.

O chefe do gabinete presidencial ucraniano, Andriy Yermak, reiterou os pedidos de mais mísseis e sistemas de defesa após o último ataque a Odessa.

"Este é o terror indisfarçável de uma cidade pacífica", escreveu Yermak no Telegram. "O inimigo deve ser privado da oportunidade de atacar civis e infraestrutura."

Por que Odessa?

Mapa da rota de grãos no Mar Negro
BBC

Moscou tem lançado ataques quase constantes a Odessa desde que foi retirado na segunda-feira (17/7) do acordo que permitia à Ucrânia exportar grãos com segurança através do Mar Negro.

Uma greve no início desta semana destruiu cerca de 60.000 toneladas de grãos, disseram autoridades.

Odessa é o maior porto da Ucrânia e, sob os termos do acordo, milhões de toneladas de grãos foram embarcadas de suas docas.

O acordo, mediado pela Turquia e pela ONU, entre a Rússia e a Ucrânia foi concluído em julho de 2022 e permitiu que navios de carga navegassem por um corredor no Mar Negro.

A Ucrânia acusou a Rússia de visar prejudicar o transporte de suprimentos de grãos e infraestrutura vitais para o acordo.