Nas eleições deste domingo (23/7) na Espanha, há tanto interesse em qual será o partido mais votado como em saber qual partido será o terceiro colocado.
A expectativa é de que os partidos tradicionais espanhóis - o Partido Popular (PP, centro-direita) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE, centro-esquerda) sejam novamente os mais votados.
Mas a disputa-chave pode ser a de quem ficará em terceiro, posição disputada pelo partido de ultradireita Vox e pela coalizão de esquerda Sumar.
Segundo pesquisas de opinião do início da última semana (as mais recentes, segundo as regras eleitorais), o PP tem vantagem na disputa pela liderança. Mas talvez não consiga sozinho alcançar a maioria absoluta de 176 assentos para governar (é a metade mais um dos 350 assentos do Parlamento).
Por isso, é possível que o PP precise do apoio do Vox para formar maioria.
Um eventual acordo para um governo de coalizão entre PP e Vox - liderados, respectivamente, por Alberto Nuñez Feijóo e Santiago Abascal - significaria que, pela primeira vez desde a redemocratização da Espanha, um partido de ultradireita estaria presente no gabinete ministerial.
Essa é a possibilidade mais provável, segundo as pesquisas de opinião.
Mas analistas não descartam outro cenário: de o PSOE, do atual presidente de governo (premiê) Pedro Sánchez, conseguir a liderança na eleição e precisar do apoio do Sumar para formar um novo governo de centro-esquerda.
Portanto, o desempenho do Vox e do Sumar, que disputam o terceiro posto nas pesquisas, se coloca como crucial para determinar se o próximo governo espanhol será uma coalizão de centro-direita ou centro-esquerda.
No início da semana, a consultoria Eurasia Group estimava em 70% a possibilidade de um governo de centro-direita contra 30% de um de centro-esquerda.
Do multipartidarismo à polarização
Não é raro que o partido governante precise de outros para governar.
Margarita León, professora de Ciências Políticas da Universidade Autônoma de Barcelona, explica que a Espanha se caracterizava por um "bipartidarismo imperfeito", em que PP e PSOE já chegaram a governar com maioria absoluta, mas também já precisaram do apoio de partidos menores (principalmente os regionais e nacionalistas), embora sem incorporá-los em cargos de governo.
"Esse bipartidarismo imperfeito se rompe a partir de 2015, quando surgem partidos novos como Podemos (esquerda) e Ciudadanos (centro-liberal)" e os partidos maiores sentem o golpe, explica León.
Historicamente, PP e PSOE costumavam aglutinar cerca de 80% dos votos, cifra que caiu para menos de 50% nas eleições de 2019 - o que, por consequência, deu início ao primeiro governo de coalizão da era democrática: o atual mandato do PSOE com o Unidas Podemos, que se dissolveu recentemente e do qual o Sumar é herdeiro.
Carmen Beatriz Fernández, consultora e professora de Comunicação Política da Universidade de Navarra, diz que, a partir de 2016, o sistema "passou de um bipartidarismo a um tetrapartidarismo ou até pentapartidarismo".
Depois de pleitos regionais em maio passado cujos resultados desfavoráveis ao PSOE levaram Pedro Sánchez a antecipar as eleições gerais, parecia que o sistema pluripartidário seguiria vigente.
Mas pode haver surpresas.
"Parecia que, nestas eleições, rumamos a um cenário de debilidade dos dois grandes partidos e que, portanto, não haveria maiorias absolutas, e sim a necessidade de coalizões, como foi este último governo. Mas, na forma como as coisas estão evoluindo, isso já não está tão claro", aponta León.
Carmen Beatriz Fernández explica que, tanto pelos resultados das eleições de maio - em que PP e PSOE somaram 60% dos votos - como pela evolução das pesquisas de opinião, o bipartidarismo histórico pode estar voltando.
"O PP e o PSOE estão crescendo novamente e provavelmente somarão mais do que esses 60%", diz ela.
Esse possível crescimento se deve ao desaparecimento do Ciudadanos, mas também à recuperação de espaços que haviam sido ocupados pelo Vox e pelas forças de esquerda.
"Desde o fim de junho, as pesquisas mostram uma clara tendência a favor dos grandes partidos, PP e PSOE, em detrimento dos seus aliados menores e mais radicais: Sumar e Vox", aponta a análise do Eurasia Group.
Tanto PP quanto PSOE fizeram uma convocação ao voto útil - ou seja, pedindo que a população vote nos partidos majoritários em vez de nos menores, explica José Luis Manfredi, da Universidade de Castilla-La Mancha.
Entre governo "Frankenstein" e "Francostein"
A coalizão que tem mantido Sánchez no poder foi questionada por adversários como uma aliança "Frankenstein", por sobreviver graças ao apoio não somente do PSOE e do Unidas Podemos (agora Sumar), mas também de grupos nacionalistas e pró-independência da Catalunha e do País Basco.
Curiosamente, o nome de "governo Frankenstein" foi cunhado em 2019 por Alfredo Pérez Rubalcaba, antecessor de Sanchéz no comando do PSOE.
Segundo Margarita León, essa coalizão conseguiu um saldo positivo na gestão política - em especial no manejo da pandemia de covid-19 e das consequências da guerra na Ucrânia.
Mas nem todos os resultados foram tão bons, ela ressalta.
"O nível de vida das pessoas, em geral, piorou. Há um problema de pobreza relativa e extrema muito importante na Espanha. Apesar de ter havido políticas como o aumento do salário mínimo, esse ganho foi praticamente anulado pela inflação, então tampouco (o governo) pode fazer discursos triunfalistas", diz a especialista.
A alternativa a essa coalizão seria, agora, um "governo Frankenstein", termo usado pelos cientistas políticos britânicos Paul Kennedy e David Cutts para se referir à possível aliança entre PP e Vox - já que ela significaria a primeira vez que a ultradireita ocuparia o poder desde a morte de Francisco Franco.
Essa coalizão, aliás, já é real no Poder Executivo de algumas regiões espanholas desde as eleições regionais de maio.
Margarita León considera que possível o triunfo dessa coalizão em âmbito nacional pode prejudicar políticas relacionadas à igualdade de gênero e à imigração - temas clássicos da extrema direita que também estão na agenda do Vox.
"Há muita evidência empírica de que a extrema direita acaba conseguindo que a direita moderada se mova a posições mais restritivas", ela diz.
Já Carmen Beatriz Fernández acha que o impacto em determinadas políticas públicas seria ao menos parcialmente contido pelo fato de a Espanha integrar a União Europeia.
"Algumas linhas estratégicas e macro estão definidas pela Europa e pelo Banco Central Europeu. Em política fiscal e monetária, que são dois eixos das políticas públicas, há pouco o que se pode fazer (por conta própria)", ela argumenta.
Fernández diz ainda que, diante das tendências sinalizadas pelas pesquisas mais recentes, não se descarta um cenário em que, por exemplo, embora o PP não consiga uma maioria absoluta, acabe obtendo um número suficientemente alto de assentos que o permita formar um governo minoritário que não dependa do Vox.
Na Espanha, para que um governo possa tomar posse, precisa de 176 votos. Mas, na ausência deles, pode acontecer uma segunda votação em que basta ter maioria simples para vencer.
O Eurasia Group acha que a chance de isso acontecer é de 15% - e pode virar realidade se o PP conseguir entre 155 e 160 assentos.
Em contraste, a probabilidade de que se mantenha uma coalizão PSOE-Sumar foi calculada pela consultoria em 30% e a de que se forme uma entre partidos de direita é de 55%.
Portanto, se as pesquisas de opinião estiverem certas, a chance de que Vox ou Sumar terminem formando parte do próximo governo é bastante alta.
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