Liron Bahash, 30 anos, aproveitou o horário de almoço no trabalho como professor de futebol em uma escola próxima e resolveu fazer compras na farmácia Super Pharm, na Rua Pinchas Rosen, situada no bairro Neot Afka, região norte de Tel Aviv. Era pouco antes das 13h (7h em Brasília) desta terça-feira (4/7). "No momento em que eu entrava na loja, bem na minha frente, a uns 300m, vi uma picape cinza se lançando contra um ponto de ônibus. Uns 20 segundos depois, o motorista saiu do carro pela janela, como nos filmes!", relatou ao Correio. "Ele segurava uma faca. As pessoas queriam ajudá-lo, pois achavam que ele tinha sofrido um acidente. Quando vimos a arma, percebemos que era um atentado. Ele conseguiu golpear várias pessoas, até que um civil disparou e o neutralizou", acrescentou. Nove israelenses ficaram feridos, incluindo uma gestante, que perdeu o bebê. Dois deles em estado gravíssimo.
"Ele nada disse. Apenas tinha sanha assassina nos olhos", disse Bahash. "Os palestinos sabem que nós queremos a paz. Nunca mataremos inocentes. Eles vêm até nós e fazem isso", acrescentou. Ainda segundo Bahash, no momento em que percebeu tratar-se um ataque, ele tentou ajudar os feridos. Citado pelo jornal Haaretz, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, elogiou "o corajoso israelense que neutralizou (matou) o terrorista e todos os heróis que carregam armas para salvar vidas".
O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, destacou à reportagem que atentados são uma realidade que nenhum país deveria aceitar. O ataque desta terça-feira (4), de acordo com o diplomata, pode ser "compreendido" no contexto da atividade israelense no campo de refugiados de Jenin.
Hazem Qassem, porta-voz do movimento fundamentalista islâmico Hamas, assumiu a autoria do atentado e admitiu ao Correio que foi uma resposta aos "crimes da ocupação". O autor do atentado, Abed al-Wahab Khalaila, tinha 20 anos e entrou no território de Israel sem permissão. De acordo com as autoridades, Khalaila não possuía ficha criminal ou questão de segurança.
A 65km dali, no campo de refugiados de Jenin, as Forças de Defesa de Israel (IDF) reduziam a presença das tropas, após dois dias da maior incursão na Cisjordânia ocupada desde 2002, que contabilizou 12 palestinos mortos e 100 feridos, 20 deles em estado grave. Durante a operação desta terça-feira, confrontos ocorreram do lado de fora de um hospital. Um soldado israelense morreu em meio à troca de tiros. Desde a segunda-feira (3/7), 120 suspeitos foram detidos e um "centro de operações conjuntas" que funcionava como ponto de comando da Brigada Jenin foi destruído. As IDF também anunciaram que atingiram um paiol de armas, um local de "observação e reconhecimento" e um esconderijo para proteger os autores de supostos ataques contra alvos israelenses.
Para Mustafa Sheta, 43 anos, gerente geral do Freedom Theatre (o único centro cultural e teatro de Jenin e do norte do território palestino), a operação militar fomenta a violência. "Essa punição faz com que os jovens palestinos sintam mais ódio de Israel e lutem contra a ocupação. O ataque em Tel Aviv ocorreu porque eles nos atacaram em Jenin. Este ou outro ataque palestino ocorreria mais tarde para mostrar aos israelenses que somos pessoas, temos dignidade e possuímos o direito de nos defender", desabafou ao Correio. "Existe um ciclo de violência, mas ele foi iniciado por Israel. Temos uma história de ocupação, e ela não terminará com o perdão e a tolerância, mas com a concessão de direitos humanos plenos ao povo palestino."
"Zona de guerra"
Sheta contou que os primeiros foguetes de Israel atingiram o campo de refugiados na manhã de segunda-feira. "Houve uma grande invasão. Jipes israelenses e soldados atacaram Jenin e destruíram nossa infra-estrutura, as estradas e as ruas. A ideia de Israel é pôr fim à resistência e à revolução em Jenin. Nós ainda protegemos o conceito de dignidade para o nosso povo e a identidade palestina. Por mais de 75 anos, os moradores do campo de refugiados estão no mesmo cenário e condição. Durante a invasão, ficamos sob estresse, com medo e assustados", afirmou. "Tenho quatro filhos, entre 5 e 15 anos. Não é fácil vivermos nessa situação, é como uma zona de guerra."
De acordo com Sheta, o Freedom Theatre ajuda as crianças e os jovens de Jenin a desenvolverem sua capacidade de representarem no palco e a sonharem com uma vida melhor. "Esse ataque torna o nosso trabalho realmente difícil. Israel destruiu o jardim de nosso teatro e bombardeou as portas. O palco de nosso teatro é onde os moradores de Jenin podem se expressar. Israel quer transformar Jenin em uma prisão", desabafou. Ele relatou que, na manhã de ontem, seus filhos o acordaram e disseram que jipes israelenses estavam em frente à casa da família. "Fiquei assustado, porque imaginei que tivessem vindo me prender. Meus filhos, minha esposa e minha mãe começaram a chorar."
O embaixador Daniel Zonshine explicou que a ação em Jenin visou eliminar a "habilidade de organizações terroristas de realizar ataques contra civis e soldados israelenses", além de permitir que os moradores do campo de refugiados prossigam com suas vidas. Na madrugada de hoje, pelo menos cinco foguetes foram lançados da Faixa de Gaza em direção ao sul de Israel.
TRÊS PERGUNTAS PARA
HAZEM QASSEM, porta-voz do Hamas
O Hamas está por trás do ataque em Tel Aviv?
Sim, um membro do Hamas realizou o ataque em Tel Aviv. A razão foi responder aos crimes da ocupação contra o campo de Jenin. A operação foi feita por um morador da cidade ocupada de Hebron (Cisjordânia).
O senhor não vê o risco de isso fomentar um ciclo de violência?
A ocupação israelense abasteceu a violência com seu massivo ataque ao campo de refugiados de Jenin.
O que é necessário para evitar novos ataques por parte do Hamas?
A ocupação deve parar com a agressão contra nosso povo e nossas santidades. Deve se retirar da terra palestina que ocupa, de acordo com o que estabelece o direito internacional.
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