Alemanha

Ex-CEO da Audi é condenado à prisão no escândalo 'Dieselgate'

No início da investigação e ao longo das audiências, que começaram em setembro de 2020, o ex-CEO de 60 anos negou as acusações apresentadas

O ex-CEO da Audi Rupert Stadler, primeiro executivo do grupo Volkswagen julgado pelo caso "Dieselgate", foi condenado nesta terça-feira (27/6) na Alemanha a 21 meses de prisão com suspensão condicional da pena, depois de se declarar culpado no escândalo mundial de motores manipulados.

Stadler, que comandou a empresa, filial da Volkswagen, entre 2007 e 2018, também foi condenado a pagar multa de 1,1 milhão de euros (1,2 milhão de dólares, 5,7 milhões de reais) por um tribunal de Munique.

Vestido com um terno azul escuro, Stadler não demonstrou reação quando a decisão foi proferida.

O ex-executivo, de 60 anos, teve "conhecimento" em julho de 2016 "no mais tardar" de que dispositivos ilegais estavam sendo instalados em modelos da marca Audi e VW, mas não tomou as "medidas necessárias" para interromper sua comercialização, explicou o juiz Stefan Weickert durante a leitura da sentença.

No início da investigação e ao longo das audiências, que começaram em setembro de 2020, o ex-CEO de 60 anos negou as acusações apresentadas. Mas no final do processo, em maio, ele se declarou culpado, por proposta do tribunal, para ser beneficiado por uma pena menor aos 10 anos de prisão a que poderia ser condenado. Em 2018, ele passou quatro meses em prisão preventiva.

O escândalo "Dieselgate" abalou a reputação da indústria automobilística alemã.

Em 2015, após acusações da Agência de Proteção do Meio Ambiente dos Estados Unidos (EPA), a Volkswagen admitiu que 11 milhões de motores do tipo "EA 189" de seus veículos a diesel foram equipados com um software que apresentava resultados menos poluentes em testes de laboratório e nas estradas.

Clemência

No processo também foram julgados Wolfgang Hatz, ex-diretor da Audi e Porsche, e seu braço direito na Audi, Giovanni Pamio. Os dois confessaram que adulteraram os motores de veículos para que não superassem os limites legais das emissões de poluentes durante os testes, mas não nas estradas.

Nesta terça-feira, Hatz foi condenado a uma pena suspensa de dois anos de prisão e a pagar multa 400.000 euros (437.000 dólares, 2,08 milhões de reais). Pamio foi condenado a uma pena suspensa de 21 meses de prisão e a pagar multa de 50.000 euros (55.000 dólares, 262.000 reais).

A declaração de culpa dos acusados e as penas relativamente brandas propostas pelo tribunal provocaram críticas na Alemanha, devido à dimensão do caso.

"Um gigantesco escândalo econômico, milhões de clientes enganados em todo o mundo, bilhões de euros de multas para a empresa. E o único alto executivo julgado até o momento sai com uma condenação tão clemente?", questionou o jornal Süddeutsche Zeitung.

A remuneração de Rupert Stadler era de quase 5 milhões de euros (US$ 5,4 milhões, R$ 17,8 milhões na cotação da época) em 2017, antes de ser demitido, de acordo com o relatório anual da Volkswagen.

Stadler provocou perdas de até 41 milhões de euros (45 milhões de dólares, 214,6 milhões de reais na cotação atual) pela comercialização equivocada de 17.000 veículos entre 2016 e 2018, segundo o julgamento.

Questões sem respostas

O grupo Volkswagen teve que pagar desde então mais de 30 bilhões de euros (33 bilhões de dólares, 157 bilhões de reais) a título de reembolsos, indenizações e custas de processos judiciais. A maior parte da quantia foi paga nos Estados Unidos.

Stadler é o primeiro alto executivo do grupo Volkswagen condenado por este escândalo, mas o processo deixou muitas perguntas sem respostas: Quem iniciou a fraude? Quais outros executivos da Volkswagen estavam a par e permitiram que a fraude prosseguisse?

Todos os olhares estão voltados agora para o tribunal de Brunswick (norte), perto da sede histórica da montadora, onde outro grande processo penal começou em setembro de 2021 contra quatro ex-diretores da Volkswagen acusados de fraude.

Audiências estão programadas para acontecer até 2024, mas sem a presença do principal acusado, Martin Winterkorn, que era CEO da empresa no momento do escândalo, mas que foi dispensado do julgamento por razões médicas.

Os investidores também pedem indenizações, pois as ações da Volkswagen caíram quase 40% nos dias posteriores à explosão do escândalo.

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