Esta é uma tragédia dentro de outra tragédia. Mas, também, uma história de amor, de entrega e de esperança. Khaled Al Rahal, de apenas 4 anos, tem leucemia. O sírio Thaer Al Rahal, 38, se despediu do menino com beijos e abraços há cerca de dois meses. Saiu de casa, no campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, carregando apenas uma mochila e a esperança de cura para Khaled. "O garoto estava sendo cuidado em hospitais jordanianos, mas o tratamento estava muito caro", contou ao Correio Mohammed Asakra, um ativista dos direitos humanos natural da cidade de Daraa, na Síria. Thaer viveu na região até 2012.
Para ter condições de pagar o tratamento do filho, Thaer partiu rumo à Líbia e embarcou no Pylos. O barco-pesqueiro, superlotado, carregava cerca de 750 pessoas, incluindo pelo menos 50 crianças. Mais de 50 moradores de Daraa também estavam a bordo. Thaer jamais conseguiu chegar à Europa.
O abraço e o beijo dados em Khaled, registrados em vídeo, foram os últimos. Ele morreu em 14 de junho passado, quando o Pylos naufragou no Mar Jônico, um dos pontos mais profundos do Mar Mediterrâneo, na costa do Peloponeso. "Todos os conhecidos que estavam com Thaer no barco também se afogaram. A família de Thaer não quer falar, pois vive o luto", relatou Asakra.
"Thaer não gostava da ideia de viajar à Europa e sempre sonhava em voltar para sua terra natal. Mas a busca pela cura de seu filho o fez se voltar para o mar traiçoeiro", desabafou Abdul Rahman Al Rahal, em entrevista à TV Al-Jazeera. Apenas 104 das cerca de 750 pessoas a bordo do Pylos foram resgatadas com vida.