Foi mais um elemento na escalada de tensão registrada na Cisjordânia. Na terça-feira (20/6), dois atiradores palestinos mataram quatro civis israelenses em um posto de gasolina no assentamento de Eli, na área central do território ocupado. No dia seguinte, Israel utilizou um drone para disparar contra um carro perto de Jalamah e do campo de refugiados de Jenin. Um palestino foi morto a tiros por dezenas de judeus em Turmus Ayya, também na Cisjordânia. "Entre 200 e 300 civis israelenses entraram esta tarde na cidade de Turmus Ayya, onde incendiaram terrenos agrícolas, casas e dezenas de veículos", relataram à agência France-Presse moradores e o prefeito da cidade, Lafi Adib. Ainda na terça-feira, ataques tinham sido registrados em várias localidades palestinas no norte da Cisjordânia, como Huwara, Al-Lubban al-Sharqiya, perto de Eli, e Beit Furik.
Porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), Daniel Hagari informou que o veículo atingido próximo a Jenin levava três pessoas e armamentos. "As identidades dos ocupantes estão sendo investigadas pelo Shin Bet (agência de segurança israelense). Esse tipo de ação ocorreu, pela última vez, em 2006. Trata-se de remover uma ameaça. Identificamos um veículo atirando no cruzamento e removemos a ameaça", escreveu no Twitter. O Exército israelense informou que eliminou uma "célula terrorista". Na segunda-feira (19/6), as IDF lançaram uma operação, também em Jenin, que terminou com sete mortos.
Por sua vez, Hazem Qassem, porta-voz do movimento fundamentalista islâmico Hamas, advertiu ao Correio, por telefone, que o ataque contra o carro, em Jenin, é "um nível mais perigoso da ocupação sionista", com "a introdução de uma nova ferramenta de matar". Assim como Bassem Naim, um dos líderes do Hamas, Qassem disse que o incidente abre as portas para uma ampla escalada na região. "O governo de Israel carrega total responsabilidade pelas repercussões."
Embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben citou ao Correio as palavras de Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional de Israel: "Peço aos colonos judeus na Cisjordânia que peguem em armas e peço ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e ao ministro da Segurança Gallant. É hora de lançar uma operação militar na Cisjordânia e voltar a realizar assassinatos seletivos contra palestinos. É hora de demolir casas nas cabeças de seus ocupantes, bombardeando-as do ar".
Segundo o diplomata, o ataque perto de Jenin partiu de uma ordem de governo. "Esta escalada expressa mais o medo, a covardia e o atual estado de desespero de Israel diante da resistência palestina do que algo como demonstração de força. Como sempre fizeram, desde 1947, a tática é buscar apagar a chama da resistência pelo terror. Será em vão. Isso não os livrará do que os espera: o fim da ocupação da Palestina e de todos estes criminosos sentarem nos bancos dos réus por seus crimes de lesa-humanidade", declarou Alzeben. A reportagem entrou em contato com o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, mas ele não estava disponível.
Novo patamar
Para a analista política palestina Nour Odeh, baseada em Ramallah (Cisjordânia), o ataque nas imediações de Jenin leva as tensões na região a um novo patamar. "É seguro prever que a situação se tornará ainda mais letal para os palestinos, que ainda se recordam do alto número de civis mortos em tais ataques, nos anos anteriores, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia", afirmou ao Correio. Odeh acrescentou que a ocupação é "uma agressão aberta". "A situação na Cisjordânia é diferente daquela vista na Faixa de Gaza, em relação à possibilidade de uma guerra total. Na Cisjordânia, o conflito é "maior e mais disperso". "Mesmo em 2002, quando Israel reinvadiu o território, o fez em fases."
Alon Ben-Meir — professor de relações internacionais da Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio — admitiu à reportagem que a escalada de tensão aumenta a violência contínua entre os dois lados. "Ela não terminará em um futuro próximo. A ocupação israelense e o tratamento dispensado aos palestinos são suficientes para provocar esses tipos de ataques terroristas", advertiu."Enquanto a ocupação prosseguir, não vejo como a violência, seja ela precipitada por israelenses ou palestinos, chegará ao fim."