Lisboa — Um dos fatores que mais pesaram para que a Embaixada do Brasil em Lisboa comunicasse às autoridades portuguesas sobre a mensagem com ameaças de ataques a estrangeiros, especialmente brasileiros, que vivem em Portugal foi a realização do jogo entre a Seleção Brasileira e Senegal na última terça-feira (20/6). Segundo o ministro conselheiro da embaixada, João Terra, por mais que as partidas de futebol tenham segurança reforçada, houve a preocupação de se informar o Ministério de Negócios Estrangeiros sobre o e-mail recebido pelo gabinete do embaixador Raimundo Carreiro.
“Se o alvo principal das ameaças de ataques são os brasileiros, o jogo poderia ser alvo de algum tumulto”, afirmou. Ele lembrou que, no e-mail recebido em 14 de junho pelo gabinete do embaixador, há menções sobre explosões de bombas em locais públicos com presença de “negros e zucas” (como os portugueses se referem, pejorativamente, aos brasileiros). “Tomamos a precaução de comunicar o Ministério de Negócios
Estrangeiros sobre o fato. Cabe às autoridades portuguesas investigarem, se acharem conveniente”, acrescentou. A mensagem, inclusive, faz ataques a autoridades brasileiras, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chamado de “macaco”, e o ministro da Justiça, Flávio Dino, definido como “porco”.
Em nota, o Ministério de Negócios Estrangeiros informou que repassou a denúncia da embaixada às forças policiais. Um cruzamento de metadados permitirá chegar ao autor ou autores do e-mail que contém saudações ao nazismo, xenofobia, homobofia e racismo. O texto preconceituoso destaca que “Portugal é uma terra de brancos e para brancos”, onde não há lugar para “seres sub-humanos como indianos, nepaleses, marroquinos, muçulmanos, judeus, ciganos, negros, os malditos brasileiros e os LGBTQIAP+”.
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O autor da mensagem prometeu “purificar” o país e ameaçou “com uma série de atentados terroristas” se, dentro de 60 dias, o governo português não “expulsar todos os homossexuais, estrangeiros e não brancos”. A ameaça é de um “massacre numa zona frequentada por negros e zucas”.
Terra reconheceu que, nos últimos meses, aumentaram os casos de xenofobia envolvendo brasileiros em Portugal. “São fatos que nos chamam a atenção. São poucos, mas muito preocupantes”, frisou. Segundo ele, é importante, contudo, destacar que a maioria dos brasileiros que vivem em território luso está totalmente integrada à sociedade local. “De qualquer forma, acreditamos que a ameaça de ataques a brasileiros deve ser investigada”, assinalou, ressaltando que ninguém da embaixada ainda foi chamado pela polícia portuguesa para prestar esclarecimentos. A comunidade brasileira é a maior entre os imigrantes que vivem em Portugal. São cerca de 350 mil cidadãos registrados legalmente.