A maior tragédia da história do Mediterrâneo levou a Organização Internacional das Migrações (OIM), parte do sistema da ONU, e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) a cobrarem uma "ação decisiva e urgente para prevenir mais mortes" nas rotas migratórias pelo mar. Até ea noite desta sexta-feira (16/6), 78 corpos e 104 sobreviventes tinham sido resgatados.
Não se descarta que 568 migrantes — em sua maioria procedentes da Síria, do Egito e do Paquistão — tenham morrido no naufrágio do barco pesqueiro Pylos, que zarpou do Egito sem passageiros, atracou em Tubruk, na Líbia, e afundou na costa do Peloponeso, a 47 milhas náuticas (ou 87km) do continente, no Mar Jônico, um dos pontos mais profundos do Mediterrâneo, com 3.900m. Entre 50 e 100 crianças estão desaparecidas.
De acordo com a OIM, a tripulação reportou que estava em apuros na manhã de terça-feira (13 de junho), e a operação de busca e o resgate somente ocorreu na manhã seguinte, horas depois da catástrofe. No entanto, a Guarda Costeira Helênica (da Grécia) informou que foi notificada pela Itália, no mesmo dia, sobre "um barco com grande número de estrangeiros a bordo". A Grécia teria mobilizado patrulheiros para tentarem localizar a embarcação. Um avião da Frontex (agência de fronteiras da União Europeia) detectou o Pylos na terça-feira à tarde e, depois, dois navios que se encontravam na área.
Em entrevista exclusiva ao Correio, Eugenio Ambrosi — chefe de gabinete da OIM — defendeu uma coordenação mais proativa liderada por Estados nos esforços de busca e de resgate no Mar Mediterrâneo. "Os países estão legalmente obrigados a ativar missões de busca e resgate para barcos em perigo. Todas as embarcações marítimas, incluindo navios comerciais, têm a obrigação legal de prestar socorro nessas situações", explicou. Ambrosi também afirmou que as nações precisam resolver os atrasos e as lacunas nessas operações. Além disso, ele lembrou que as pessoas resgatadas precisam ser rapidamente desembarcadas em um porto seguro.
Por sua vez, Federico Soda — diretor do Departamento de Emergências da OIM — admitiu que a abordagem atual para o Mediterrâneo é "impraticável". "Ano após ano, essa continua sendo a rota migratória mais perigosa do mundo, com alta taxa de letalidade. Os países têm que se unir e abordar as lacunas nas buscas e resgates proativos, no rápido desembarque e nos trajetos regulares seguros", declarou. "Os esforços coletivos deveriam ter os direitos humanos dos migrantes e o ato de salvar vidas no centro de qualquer resposta", acrescentou.
Para Gillian Triggs, alta comissária assistente do Acnur, a União Europeia (UE) deve colocar a segurança e a solidariedade no coração de suas ações no Mediterrâneo". Ela destacou que, em face do aumento do fluxo de refugiados e de migrantes, uma coordenação maior entre todos os países mediterrâneos, a solidariedade e a partilha de responsabilidade, são essenciais para salvar vidas. "Isso inclui o estabelecimento de um mecanismo de desembarque regional pactuado e de redistribuição para pessoas que chegam por meio do mar, o qual continuamos a defender."
A Comissão Europeia — órgão executivo da UE — culpou as máfias de atravessadores do Mar Jônico e explicou que o número de barcos pesqueiros superlotados de migrantes aumentou 600% neste ano. Ylva Johansson, comissária para Assuntos Internos, disse que "os traficantes que embarcaram essas pessoas não as enviavam para a Europa, mas para a morte". Nove egípcios foram detidos sob suspeita de envolvimento no naufrágio.