Colômbia

'Que meus sobrinhos tenham uma vida digna', diz tio de crianças resgatadas da selva

Uma semana depois do resgate, Dairo Juvenal Mucutuy afirmou, em entrevista exclusiva ao Correio, que os quatro sobrinhos se recuperam bem no Hospital Militar de Bogotá, mas não podem ficar sozinhos

Uma semana depois do resgate, Dairo Juvenal Mucutuy afirmou que os quatro sobrinhos se recuperam bem no Hospital Militar de Bogotá, mas não podem ficar sozinhos, e que a caçula enfrenta medo do escuro. Ele relatou que o cão farejador Wilson jamais esteve com as crianças na floresta e desmistificou a ideia de que Lesly, 13 anos, é uma heroína. "Isso tem a ver com a forma como se cria as crianças indígenas na selva e como podem sobreviver, o que podem comer", disse.

Dairo também falou sobre como vê o futuro de Lesly, Soleiny (9), Tien (5) e Cristi (1). "Que sejam livres, apesar de tudo. (...) Tenham uma vida digna, carinho, amor, paz e tranquilidade", desabafou. Ele também afirmou que a família busca ajuda financeira para colaborar com os indígenas que resgataram as crianças. "Muitos deles estão quase que abandonados e em estado de saúde crítico", revelou. Os socorristas desembarcam neste sábado, em Bogotá, para encontrarem a família dos meninos e para realizarem consultas médicas.

Às 17h (19h em Brasília) da última sexta-feira (9/6), terminava a angústia para quatro crianças perdidas na selva amazônica após o pesadelo de perderem a mãe em um acidente aéreo. Quatro crianças indígenas da etnia huitoto abandonadas por 40 dias na floresta depois que os três adultos que as acompanhavam no monomotor (a mãe, Magdalena; o piloto e uma liderança de ONG) morreram no desastre. Uma semana depois do resgate que comoveu o mundo, Lesly Mucutuy, 13 anos; Soleiny Mucutuy, 9; Tien Noriel Ranoque (5); e Cristin Neriman Ranoque (1) se recuperam no Hospital Militar de Bogotá.

Arquivo Pessoal - Uma semana depois do resgate, tio afirma que os quatro sobrinhos se recuperam bem no Hospital Militar de Bogotá
Arquivo Pessoal - Uma semana depois do resgate, tio afirma que os quatro sobrinhos se recuperam bem no Hospital Militar de Bogotá
Arquivo Pessoal - Uma semana depois do resgate, tio afirma que os quatro sobrinhos se recuperam bem no Hospital Militar de Bogotá
Arquivo Pessoal - Uma semana depois do resgate, tio afirma que os quatro sobrinhos se recuperam bem no Hospital Militar de Bogotá
Arquivo Pessoal - Desenho das crianças resgatadas
Arquivo Pessoal - Desenho das crianças resgatadas

Em entrevista exclusiva ao Correio, Dario Juvenal Mucutuy Valencia, tio das crianças colombianas e irmão de Magdalena, falou sobre a recuperação; desmentiu informações sobre o cão farejador Wilson, usado nas buscas; e negou que a família tenha recebido ajuda do governo de Gustavo Petro.

Que balanço o senhor faria desses sete dias de seus sobrinhos no hospital?

A evolução das crianças tem sido perfeitamente positiva. A nutricionista os avaliou e permitiu-lhes que recebessem alimentos típicos, consumidos por nós, indígenas, como farinha, casabe (massa de mandioca com arepa) e coisas, assim, que elas podem manipular. Estão evoluindo bastante e já conversam de maneira mais cômoda. Cistin teme a escuridão, não gosta que apaguem a luz. De resto, tudo está positivo.

Como sua família se mobilizou para ajudar as crianças? Vocês têm recebido solidariedade de pessoas que queiram auxiliar de alguma forma?

Nós estamos manejando bem a situação, mas não recebemos nenhum tipo de ajuda externa, nem nacional, nem internacional. Temos que reconhecer, pelo menos, as senhoras que colaboram com os cuidados às crianças. Os dois meninos e as duas meninas não podem permanecer sozinhos. Há voluntários chegando de regiões distintas. E eles vêm de coração. Como família, devemos reconhecer essas pessoas que fazem isso de coração. Mas não recebemos nenhum tipo de ajuda até o momento. Amanhã (sábado), receberemos pessoas que estiveram na busca, que encontraram as crianças. Muitos deles estão quase que abandonados e em estado de saúde crítico. Precisam de cuidados médicos. Eles conseguiram as passagens aéreas, mas estamos buscando meios de viabilizar a hospedagem, aqui, em Bogotá, além da alimentação e do deslocamento entre as clínicas e o hotel. Gostaria de pedir ajuda. Saber como as pessoas podem colaborar.

De que modo o senhor define essa última semana, do ponto de vista psicológico e emocional, para a família?

Do ponto de vista emocional, mas também físico. Na verdade, esse processo de recuperação das crianças nos afeta bastante, muito bem. As coisas estão andando bem, ainda que alguns meios divulguem desinformações que nada têm a ver com a saúde das crianças. Para nós, a prioridade é a recuperação e a estabilidade das crianças. Que possam se sobressair depois de todo esse trauma, de ficarem perdidos por 40 dias na selva.

Como o senhor imagina o futuro de seus sobrinhos depois de tudo o que passaram?

Nós, enquanto familiares, temos visto que as redes sociais colocam Lesly como uma heroína. Isso tem a ver com a forma como se cria as crianças indígenas na selva e como podem sobreviver, o que podem comer. O futuro delas? Espero que tenham uma vida digna, que possam fazer suas coisas, estudar e ver o que mais lhes importa. Que sejam livres, apesar de tudo. Mas o que mais queremos é que tenham uma vida digna, carinho, amor, paz e tranquilidade.

Sobre os 40 dias na selva, o que eles contaram aos familiares?

Nós não estamos pressionando as crianças para que comentem ou contem como passaram os dias na selva. Para nós, seria abusivo fazer perguntas. Esperamos que as próprias crianças nos deem essa confiança e nos contem, com calma, tudo o que ocorreu. As crianças contaram que o cão Wilson, na verdade, jamais esteve com elas. Meus sobrinhos nunca o viram.

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