Colômbia

Indígena que liderou buscas na selva defende homenagem às crianças

Coordenador da Guarda Indígena comenta plano das autoridades de homenagear integrantes da operação de resgate dos quatro irmãos perdidos na floresta. Ele destaca o uso do conhecimento ancestral pelos pequenos para sobreviverem

Durante 25 dos 40 dias em que as quatro crianças estiveram desaparecidas na selva amazônica da região de Guaviare, Luis Acosta — coordenador nacional da Guarda Indígena da Colômbia — comandou e acompanhou 85 indígenas nas buscas aos irmãos. O governo de Gustavo Petro anunciou que, na próxima semana, planeja realizar uma cerimônia para homenagear os indígenas e militares envolvidos na Operação Esperança. Em entrevista exclusiva ao Correio, na noite desta terça-feira (13), Acosta elogiou a iniciativa. "Seria algo bonito para a integração entre indígenas e militares. Reconhecer isso daria forças aos rapazes que foram até lá, com toda a humildade, para acompanhar as buscas. Também lhes daria forças para seguirem defendendo a vida, além de sentirem que fizeram parte de algo muito importante", afirmou, por telefone.

Acosta destacou que uma força espiritual contribuiu para vislumbrar a estratégia para cuidar e proteger os envolvidos por esse poder. "Os conhecimentos ancestrais da comunidade indígena desempenham um papel importante para resolver as problemáticas da sociedade. Distanciar-se dos conhecimentos ancestrais, da capacidade que os povos indígenas têm, seria um erro para qualquer povo, para qualquer nação. Um indígena necessita de um celular que o capitalismo lhe dá. Mas a riqueza para a humanidade está no conhecimento cultural e espiritual dos povos indígenas", declarou. 

No entanto, o coordenador nacional da Guarda Indígena fez questão de frisar que os merecedores de uma homenagem são os próprios irmãos Lesly, 13 anos; Soleiny, 9; Tien, 5; e Cristin, 1, que conseguiram sobreviver por 40 dias na floresta, após a queda da aeronave em que viajavam. "Creio que, se eu receber uma homenagem, eu a darei às quatro crianças. Elas foram grandes, por posicionarem o conhecimento ancestral dos povos. A homenagem é mais a elas do que a nós. Graças ao seu saber, elas sobreviveram. Essa é uma homenagem pela proteção e pela defesa da vida", concluiu Acosta.

Acosta explicou que os indígenas que participaram da Operação Esperança realizaram rituais com tabaco e com yagé (ayahuasca, bebida enteógena feita com o cipó mariri e folha da planta chacrona). "Houve vários rituais, antes de ingressarmos na mata. O yagé foi usado para limpar o terreno e o espírito, e ver com mais profundidade a selva. Em todo o território da Colômbia, todos os povos indígenas se sentaram em suas malocas e fizeram uma mensagem nacional para ajudar nessa força espiritual em prol das buscas e auxiliar as crianças a resistirem", comentou, em entrevista publicada pelo Correio na última segunda-feira (12). 

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