Durante quase 10 minutos, Manuel Ranoque, pai das quatro crianças perdidas durante 40 dias na selva colombiana e encontradas na tarde da última sexta-feira (9), falou com exclusividade ao Correio, por telefone. Ele contou que as quase seis semanas sem notícias dos filhos foram "os instantes mais tristes" de sua vida. No entanto, revelou que jamais perdeu a fé e a esperança.
De acordo com Ranoque, na sexta-feira, antes de os integrantes da Guarda Indígena da Colômbia iniciarem uma nova rodada de buscas por Cristin Neriman Ranoque Mucutuy, 1 ano; Tien Noriel Ronoque Mucutuy, 5; Soleiny Mucutuy, 9; e Lesly Jacobo Bonaire, 13, ele teve o pressentimento de que os filhos seria encontrados naquele dia. Ele contou que encontrou com as crianças ainda na selva e que, no helicóptero, os pequenos lhe pediram comida. O pai não tem dúvidas de que os filhos são produto de um milagre. "O Pai Criador esteve 40 dias ajoelhado na selva, orando", disse. Ranoque também desqualificou as denúncias de maus-tratos que pesariam contra ele. "É uma invenção. (...) Estão pensando no dinheiro", respondeu.
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O senhor participou das buscas aos seus filhos. Como pode descrever esses 40 dias?
Foram os instantes mais tristes que pude passar na vida. Não saber nada, nem onde, nem quando e nem a que horas eu poderia reencontrar os meus filhos. Mas sempre tive muita fé no Pai Criador. Foi Ele quem me deu a oportunidade do reencontro com as crianças.
O que eles contaram para o senhor sobre o tempo em que ficaram perdidos na selva?
Na verdade, não tenho informação concreta disso, pois temos que entender que as crianças estavam em um estado muito delicado e não procurei retirar informações delas, por respeito nesse sentido.
Como foi o reencontro com os quatro filhos? O que eles disseram quando o viram?
A primeira reação... Senti muita alegria, muita felicidade. Por ver meus quatro filhos... A menininha de 1 ano (Cristin), a de 13 anos (Lesly), o de 9 anos (Soleiny) e o de 5 anos (Tien). Encontrá-los vivos, de verdade, para mim, foi mais um milagre. Voltar a tê-los, a olhar para eles. Agora, o mundo crê que existem, todavia, milagres.
No momento em que vocês vasculhavam a mata, o senhor chegou a perder a esperança e a achar que estivessem mortos?
Nunca perdemos a esperança. Sempre soubemos que os encontraríamos vivos. Foi um milagre, porque as crianças, muito pequenas, perdidas na floresta.
Na sexta-feira (9/6), quando seus filhos foram encontrados, o senhor estava na selva?
Eu participei das buscas na selva. Na sexta-feira, os mais velhos, os sabedores (indígenas), saíram para procurar por eles. Eu tive que ficar preparando a refeição para eles.
Quando foi exatamente que o senhor os viu pela primeira vez após o resgate?
Nós havíamos tido o pressentimento de que os encontraríamos naquela sexta-feira. Todos os socorristas me abraçaram, felizes, contentes, me dizendo: "Não perca a fé, que hoje traremos os seus filhos sãos e salvos". Seus desejos e suas palavras foram cumpridos.
Qual foi a primeira reação das crianças quando viram o senhor?
Eu me encontrei ainda na sexta-feira com as crianças. Eu estava em outro ponto da floresta preparando a refeição. Saí da selva com elas e fomos de helicóptero, com eles, até Calamar. De Calamar seguimos para Guaviare. E, de Guaviare, embarcamos em um voo militar para a capital.
Durante o voo, o que seus filhos falaram com o senhor?
Sim, a primeira coisa que as crianças fizeram foi me pedir comida. Mas eles já estavam nas mãos dos médicos do Exército colombiano. Não pude intervir, pois eles têm algumas medidas, e eu, como pai, de igual maneira, respeito todas essas decisões.
O avô dos meninos, Narciso, contestou a versão de que Lesly teria dito que Magdalena demorou quatro dias para morrer. Ele disse que essa versão, anunciada pelo senhor no domingo, não é real...
Na verdade, não posso dizer nada. Esse senhor, Narciso, não sabe o que está dizendo. É um avô que nunca se preocupou com isso. Eu, quando necessitava de um grande favor, ele negou. Pediu-me que não perdesse tempo. Eu lhe disse que arrumasse gente para ajudar nas buscas e viesse. Ele me disse: "Não perca tempo, nunca vão encontrar essas crianças". Não deem atenção a Narciso, à Maria de Fátima (avó dos meninos) e a Fidencio. Esse depoimento sobre a mãe a própria Lesly dará.
O jornal El Tiempo informou que existe uma denúncia contra o senhor de maus-tratos contra seus filhos...
É uma invenção, é algo que não faz sentido. O que estão fazendo é escurecendo o meu caminho. Eles apenas estão pensando no dinheiro, não estão pensando em coisa boa. Penso que isso não servirá de nada.
Seus filhos contaram ao senhor o que comeram durante os 40 dias?
Não, na verdade, como eu lhe disse, não pude tratar desses temas com eles.
Que lição fica para o senhor, pai, ao ver seus filhos resgatados e recuperando a saúde?
Isso significa que o Pai Criador esteve 40 dias ajoelhado na selva, orando. Por 40 dias, Moisés também esteve orando. É uma prova de que há um grande futuro para as crianças. O mundo tem que entender isso.
Quais foram os momentos mais difíceis das buscas na floresta?
A região é de uma selva muito virgem, sem contato com o homem. Foi bastante complicado, pois estávamos sob o domínio da natureza. Nós vimos as crianças e as retiramos de lá. Devemos dizer, agora, que esse é um território dos indígenas que participaram das buscas.