Com 140 mil habitantes, Annecy se situa no norte dos Alpes Franceses, entre o lago de mesmo nome e montanhas cobertas de neve. O charme da cidade deu lugar, na manhã desta quinta-feira (8/6), ao horror. Armado com uma faca, um refugiado sírio de 31 anos — cristão, casado e pai de uma menina de três anos — perseguiu mães com carrinhos de bebê e golpeou seis pessoas, ferindo dois adultos e quatro crianças, inclusive um bebê de 1 ano e 10 meses. Três crianças corriam risco de morte. Agentes dispararam contra as pernas do criminoso e o prenderam. As autoridades descartam motivação terrorista.
"Ataque de absoluta covardia, nesta manhã, em um parque de Annecy. Crianças e adultos estão entre a vida e a morte. A nação está em choque. Nossos pensamentos estão com eles e com suas famílias", escreveu, no Twitter, o presidente da França, Emmanuel Macron. A primeira-ministra, Élisabeth Borne, visitou Annecy, elogiou a rápida intervenção das forças de segurança e explicou que o criminoso não tinha antecedentes criminais ou psiquiátricos conhecidos. A promotora de Annecy, Line Bonnet-Mathis, detalhou que o homem não agiu sob efeitos de drogas ou álcool. O atentado comoveu a França. Na Assembleia Nacional, em Paris, os parlamentares se levantaram e prestaram um minuto de silêncio.
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De acordo com a agência de notícias France-Presse, o sírio obteve proteção na Suécia dez anos atrás, onde morava. Ele se mudou para a França no fim de 2022 e entrou com um pedido formal de asilo. Um vídeo que foi replicado pelas redes sociais e apagado várias vezes mostrou o ataque. Vestido de preto e com um lenço na cabeça, o homem caminha com uma faca na mão direita e segura um crucifixo preso a uma corrente no pescoço. Ouve-se gritos de desespero e de horror de mulheres e homens presentes no local. O agressor pula um muro e investe contra uma mãe, que grita: "Saia!". Ele esfaqueia o bebê no carrinho, corre e retorna para novo ataque. Outra mãe, com o filho nos braços, corre em direção contrária. Dois dos menores feridos têm nacionalidade holandesa e britânica.
A escritora norte-americana Eleanor Vincent, 75 anos, chegou à cidade no domingo passado (4/6). Por volta das 10h desta quinta-feira (5h em Brasília), ela caminhava à beira do Lago Annecy quando escutou o barulho de um helicóptero do serviço de paramédicos, sobrevoando o perímetro do Parque Champs de Mars. "Ao mesmo tempo, recebi um alerta, pelo celular, da emissora BBC News sobre um ataque a facas onde eu estava. Percebi que algo horrível tinha acabado de correr. Escutei o som das sirenes e vi policiais correndo, vindo de todos os lugares", contou ao Correio, por telefone.
Vincent acredita que o atentado aconteceu 20 minutos antes de sua chegada ao parque. "Ainda estou em choque. Isso é horrível. Sinto profundamente pelas vítimas desse ataque terrível, também pelo agressor. Pelo horror que deve ter passado por sua mente para cometer um crime desses." Segundo a escritora, o refugiado sírio foi forçado a se separar da mulher e da filha na Suécia. "Ele tem uma criança de três anos, a mesma idade dos bebês que ele esfaqueou. Várias pessoas contaram que ele ficou sentado naquele parque nos últimos três dias."