Horas depois de os serviços de inteligência dos Estados Unidos anunciarem que o general Sergei Surovikin sabia com antecedência que Yevgeny Prigozhin e seus mercenários do Grupo Wagner lançariam um motim contra o comando militar da Rússia, o jornal The Moscow Times informou que o alto oficial está preso. Surovikin não é visto desde o último sábado (24/6). A publicação citou duas fontes próximas ao Ministério da Defesa que falaram sob condição de anonimato. "A situação dele não é boa. Não posso dizer mais nada", comentou uma das fontes. A segunda disse que o ex-comandante das forças de Moscou na Ucrânia teria sido capturado "no contexto de Prigozhin". "Aparentemente, ele (Surovikin) escolheu o lado de Prigozhin durante o levante, eles o pegaram pelas bolas." Por sua vez, o The Wall Street Journal, ao citar funcionários ocidentais não identificados, divulgou que Prigozhin pretendia capturar o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior, general Valery Gerasimov, durante uma viagem planejada ao sul do país.
Em visita ao Daguestão, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, assegurou que jamais duvidou do apoio da população durante o motim do Grupo Wagner. "Nunca duvidei da reação (da população) no Daguestão, nem em todo o país", declarou o chefe do Kremlin, ao se reunir com o líder da república do Cáucaso russo, segundo um trecho do encontro transmitido pela televisão. O norte-americano Joe Biden, afirmou que Putin se tornou um "pária" e que está "perdendo" a guerra na Ucrânia. No entanto, reconheceu ser prematuro dizer se está fragilizado pela rebelião do Grupo Wagner.
Para Angelo Segrillo, professor de história da Universidade de São Paulo (USP), a prisão de Surovikin, caso confirmada, será considerada uma "grande surpresa". "Surovikin é uma figura muito importante na Rússia. Foi ele quem comandou a intervenção russa na Síria e liderou toda a operação na Ucrânia, entre outubro de 2022 e janeiro passado, até ser substituído por Valery Vasilyevich Gerasimov, que teve problemas com Prigozhin. Se isso for verdade mesmo que Surovikin apoiou ou não denunciou o motim, então, o levante não era uma bravata individual do Prigozhin. Nesse caso, havia gente muito poderosa no comando das defesas da Rússia e seria algo bem mais sério, pois se pensava que era uma ação isolada do Grupo Wagner", comentou o especialista. Segrillo afirmou que as informações ainda são desencontradas. "Alguns falam que ele está desaparecido; outros, que está preso."
Por sua vez, Giovana Branco, mestre em relações internacionais pela USP, admitiu que a revolta do último sábado surpreendeu até mesmo analistas que acompanham a política doméstica e externa da Rússia com proximidade. "Mesmo com as tensões que Prigozhin vinha tendo com alguns comandantes do Exército russo e com pessoas importantes da política russa, uma revolta militar foi algo inesperado, assim como onde ela conseguiu alcançar. Os soldados do Grupo Wagner chegaram muito próximo de Moscou e impuseram uma grande ameaça para a liderança política do governo Putin", avaliou, por telefone. "É claro que, nesse momento, vão começar as investigações; literalmente, uma caça às bruxas dentro do governo russo para entender se o motim foi produto de um movimento espontâneo do Prigozhin e dos soldados do Grupo Wagner ou se houve algum tipo de apoio interno entre os generais e o alto comando do Exército russo."
Branco prevê queo Kremlin abrirá mais processos de investigação. "A suposta prisão do general Surovikin pode ser um indicativo nesse sentido", comentou. "Uma das coisas que ficaram claras é que Prigozhin esperava algum apoio à revolta do Grupo Wagner entre os próprios soldados do Exército russo e que os batalhões seguissem os mercenários até Moscou e fizesse parte do motim. No entanto, não observamos isso", lembrou a especialista.
Nataliya Sekretareva, advogada da ONG russa Memorial, ganhadora do Nobel da Paz em 2022, admitiu ao Correio que o motim de Prigozhin foi algo "muito estranho, para dizer o mínimo". "A verdade é que os militares do Wagner não encontraram quase nenhuma resistência. A internet está repleta de cidadãos conversando e tirando fotos com os mercenários", disse.
Mísseis
Prefeito de Kramatorsk, Oleksandr Honcharenko disse ao Correio, por meio do WhatsApp, que a Rússia lançou mísseis Iskander sobre um café no centro da cidade e em uma área residencial. "Pelo menos 10 pessoas morreram, entre elas três crianças. As operações de buscas nos escombros prosseguem", afirmou. "A Rússia é um país terrorista. Com outro ataque terrorista, ela confirmou o seu status", acrescentou. Em 8 de abril de 2022, um bombardeio atribuído à Rússia a uma estação ferroviária, também em Kramatorsk, havia matado 57 pessoas. "Os moradores participam das ações de resgate, removendo os escombros e ajudando as vítimas." O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a polícia deteve a pessoa que coordenou o "ataque terrorista" de anteontem. "A punição possível é a prisão perpétua."
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