O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quinta-feira (22/06) em Roma, na Itália, que vai interceder e conversar com o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, sobre a perseguição aos católicos e a liberação de um bispo preso no país.
"Pretendo falar com o Daniel Ortega (presidente da Nicarágua) para liberar o bispo. Vou tentar ajudar, se puder ajudar. Nem todo mundo é grande para pedir desculpas; a palavra é simples, mas exige grandeza", disse Lula a jornalistas no hotel onde está hospedado, próximo ao Vaticano, antes de viajar a Paris, na França.
Católicos vêm sofrendo perseguição na Nicarágua. Dom Rolando José Álvarez, bispo de Matagalpa, foi condenado por um tribunal nicaraguense por "desestabilizar o país" e se encontra em prisão domiciliar. Ortega, por sua vez, chamou a Igreja Católica de "ditadura perfeita".
Em comunicado sobre o encontro de Lula e o papa Francisco, ocorrido nesta quarta-feira (21/06), o Vaticano disse que o pontífice conversou com o brasileiro sobre a situação política na América Latina.
Guerra na Ucrânia
Lula voltou a cobrar o fim da a guerra na Ucrânia e afirmou ter falado sobre uma solução de paz com o pontífice argentino.
"Estou de acordo com o papa Francisco (sobre a paz). É preciso encontrar uma solução pacífica. Não é justo gastar bilhões com guerra com tanta gente passando fome", disse.
"O melhor negócio para a guerra é terminar essa guerra. O nosso papel é tentar convencer Zelensky (Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia) e Putin (Vladimir Putin, presidente da Rússia)", acrescentou.
"O que não dá [é para imaginar] uma luta infinita. Já durou demais. Os dois presidentes têm que ter isso em conta".
Taxa de juros
Lula voltou a criticar taxa básica de juros, a Selic, e disse ser "irracional o que está acontecendo no Brasil".
Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter os juros a 13,75% ao ano pela sétima vez consecutiva e o comunicado não parece ter dado espaço para uma eventual queda em agosto, em linha à expectativa do mercado.
Questionado sobre se o governo estaria sofrendo "boicote" do BC, Lula afirmou que o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, "joga contra os interesses da economia brasileira. Não há explicação aceitável".
"Quem está brigando com o BC é a sociedade brasileira", assinalou.
Giorgia Meloni
Lula também falou sobre o encontro com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, de direita radical, ocorrido na quarta-feira e confirmado de última hora. Disse que a convidou, assim como ao presidente da Itália, Sergio Mattarella, com quem havia se reunido mais cedo, a visitar o Brasil. E que não se importa com as diferenças ideológicas.
"Quando um chefe de Estado se encontra com outro chefe de Estado, não está em jogo a questão ideológica. O objetivo é o que os dois países possam ganhar. Não me preocupo com o pensamento ideológico do presidente e é isso que levo em conta", disse.
Lula ainda elogiou Meloni por ser mulher num ambiente ainda predominantemente machista e desejou-lhe sorte em seu governo. Segundo ele, ainda há muito "preconceito".
Meloni, de 46 anos, é a primeira mulher primeira-ministra da Itália e venceu as eleições no ano passado. É considerada por muitos como fascista.
Ela rejeita o rótulo e insiste que deixou a ideologia no passado. A premiê também já fez várias críticas a Lula no Twitter no passado, especialmente em relação à extradição de Cesare Battisti.
O petista recusou-se a extraditá-lo a pedido da Itália em seu segundo mandato.
No ano passado, Battisti foi preso na Bolívia e extraditado — ele cumpre atualmente uma pena de prisão perpétua em uma prisão de segurança máxima por quatro homicídios ocorridos no fim dos anos 70.
Lula também afirmou que houve "uma perda de discurso da esquerda da União Europeia".
"É preciso que a gente reconstrua uma nova utopia para vencer a utopia criada pela direita", afirmou.
Mercosul e clima
Lula falou ainda sobre o veto do Parlamento francês ao acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia e disse que vai conversar sobre o assunto com o presidente da França, Emmanuel Macron.
"Não é correto você estar discutindo um acordo e alguém colocar punição para o parceiro do acordo. Um acordo pressupõe uma via de duas mãos. Todo mundo precisa conquistar alguma coisa".
"A carta que a UE mandou para o Mercosul é inaceitável. Países ricos não cumpriram o Acordo de Paris. É preciso que tenhamos mais sensibilidade. Vou estar na França hoje e pretendo conversar com o presidente Macron porque a França é muito dura na defesa dos seus interesses agrícolas", acrescentou.
Lula também cobrou novamente apoio financeiro dos países desenvolvidos para combater as mudanças climáticas.
Da Itália, o presidente segue para França, onde participa de uma cúpula sobre financiamento global, na qual deve discursar no encerramento, e se encontrar com o presidente francês, Emmanuel Macron.
Lula também deve falar num festival de música em defesa do meio ambiente a convite do vocalista da banda Coldplay, Chris Martin.
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