Lisboa — Autoridades que estão a par das investigações sobre as ameaças de ataques à Embaixada do Brasil em Lisboa e a estrangeiros que vivem em Portugal, especialmente os brasileiros, não descartam a possibilidade de cidadãos oriundos do Brasil serem os autores das mensagens recebidas por e-mail pelo gabinete do embaixador Raimundo Carreiro. Análises preliminares apontam que determinadas expressões, como o uso de “você”, levantam suspeitas de que o responsável — ou responsáveis — não seria português. As apurações estão sendo conduzidas pelas forças de segurança a pedido do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que foi acionado pela diplomacia brasileira. A mensagem está carregada de xenofobia, racismo e homofobia, além de conter apologia ao nazismo.
“Não descartamos o envolvimento de brasileiros nesse caso”, disse uma autoridade. “Cruzamos vários pontos do e-mail com as ameaças e identificamos que, sim, há expressões muito características do Brasil”, acrescentou. Segundo a fonte, as investigações vão chegar ao responsável, ou as responsáveis, pelas ameaças, pois há informações que permitem rastrear o computador ou o celular de onde o e-mail foi disparado. “É questão de tempo”, complementou. A mensagem com as ameaças chegou à embaixada em 14 de junho. Imediatamente, foi feito um comunicado ao governo português pela virulência contida no texto. “Muita coisa chega à embaixada, mas essa mensagem destoou de todas”, frisou.
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Para as autoridades brasileiras e portuguesas, por mais que a mensagem possa parecer maluquice, é importante tomar providências, sobretudo, porque houve ameaça de bombas em locais públicos, como ônibus. “O certo é que há alguém disposto a tumultuar. Vamos ver o que o autor do e-mail vai dizer quando for pego. Vai falar que foi apenas uma brincadeira de mau-gosto?”, questionou a fonte. Em nota, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal informou que, “tendo em conta o teor da comunicação enviada pela Embaixada da República Federativa do Brasil, a mesma foi remetida às autoridades competentes, em conformidade com os procedimentos que são seguidos pelo MNE nestas situações”.
Segurança maior
O governo de Portugal já determinou às forças de segurança que aumentem o número de agentes que protegem a Embaixada do Brasil em Lisboa e acionem os serviços de inteligência para identificar os autores de ameaças terroristas, nazistas, xenofóbicas, racistas e homofóbicas. Segundo documentos obtidos pelo Correio, há ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chamado de “macaco”, e afirmações como a de que “Portugal é uma terra de brancos e para brancos”, onde não há lugar, para “seres sub-humanos como indianos, nepaleses, marroquinos, muçulmanos, judeus, ciganos, negros, os malditos brasileiros e os LGBTQIAP+”.
O autor da mensagem prometeu “purificar” Portugal e ameaçou “com uma série de atentados terroristas” se, dentro de 60 dias, o governo português não “expulsar todos os homossexuais, estrangeiros e não brancos”. A ameaça é de um “massacre numa zona frequentada por negros e zucas (como os portugueses se referem, de forma pejorativa, aos brasileiros)”. Dados oficiais apontam que já são quase 350 mil os brasileiros vivendo legalmente em território luso. O Itamaraty calcula 400 mil cidadãos.
A preocupação do embaixador Carreiro com as mensagens nazistas e xenofóbicas aumentou diante dos frequentes ataques sofridos por brasileiros em Portugal. Recentemente, um casal, Luís Almeida e Jefferson Tenório, foram violentamente espancados em uma boate em Lisboa. Jefferson teve o rosto desfigurado pelos seguranças do Titanic, que ainda tentaram o afogar no Rio Tejo, que passa atrás do estabelecimento. Em Braga, o pernambucano Saulo Jucá foi agredido por um homem, que dizia não se conformar com a presença de brasileiros no “país dele”. Em julho do ano passado, o brasileiro Jefferson Terra Pinto foi espancado até a morte na saída de uma boate no Parque das Nações, uma das áreas mais nobres de Lisboa.
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