GUERRA NA UCRÂNIA

Usina nuclear da Ucrânia corre risco após explosão de barragem; entenda

Sem o resfriamento, os reatores, mesmo desligados, podem aquecer e explodir — uma ação catastrófica que afetaria não apenas a Ucrânia, mas toda a região próxima ao país

Talita de Souza
postado em 08/06/2023 17:49 / atualizado em 08/06/2023 17:49
Foto tirada em 2009 mostra a usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia
 -  (crédito: Ralf1969/Wikimedia Commons)
Foto tirada em 2009 mostra a usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia - (crédito: Ralf1969/Wikimedia Commons)

A usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, está em estado de alerta após o operador da barragem de Kakhovka, explodida na terça-feira (6/6), informar que as as reservas de água da represa não são mais suficientes para resfriar os reatores da usina. O comunicado foi feito nesta quinta-feira (8/6).

De acordo com Igor Syrota, chefe da operadora da barragem, o nível da água está “abaixo do limite crítico de 12,7 metros” e não é capaz de alimentar “as piscinas da central nuclear” que são incumbidas de resfriar os reatores.

Sem o resfriamento, os reatores, mesmo desligados, podem aquecer e explodir — uma ação catastrófica que afetaria não apenas a Ucrânia, mas toda a região próxima ao país, ao menos. Para evitar a condição, especialistas convidados pela agência das Nações Unidas estão na usina e desenharam um plano de ação para evitar a tragédia nuclear.

Uma das primeiras medidas foi a limitação do consumo da água que ainda está na barragem: ela deve ser consumida apenas para “atividades essenciais relacionadas com a segurança nuclear”, afirmou Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), à AFP.

A AIEA também comunicou, em nota oficial publicada na tarde desta quinta-feira (8/6), que, até o momento, as águas da barragem ainda conseguem resfriar os reatores — apesar dos especialistas acharem que não seria possível continuar as operações. Uma nova estimativa aponta que a água deve conseguir resfriar os seis reatores da usina se estiver com nível de 11 metros ou até menos.

Mesmo assim, o grupo busca fontes alternativas de água, “incluindo a grande lagoa de resfriamento ao lado da usina, bem como suas lagoas de resfriamento de aspersão menores e poços no local”.

“No entanto, a segurança nuclear geral e a situação de proteção permanecem muito precárias e potencialmente perigosas”, relata Grossi no comunicado.

O comunicado sobre o limite crítico de 12,7 metros foi feito horas depois de o ministro ucraniano da Energia, German Galushchenk, ter informado à AFP que não há “risco iminente” de instabilidade na usina nuclear. No momento da fala, o nível da piscina de resfriamento estava com 16,6 metros.

Desastre humanitário

A barragem, localizada em Nova Kakhovka, no sul da Ucrânia, rompeu após uma ataque explosivo contra o local, no início desta terça-feira (6/6). De acordo com a AFP, o comando militar do sul do exército ucraniano, a barragem foi explodida por forças russas, mas a Rússia diz ser um “ato terrorista de sabotagem”.

O rompimento da barragem significa não apenas um agravamento do conflito entre os dois países como também um risco iminente de vida para milhares de pessoas que vivem na região. O enorme reservatório pode inundar dezenas de povoados e cidades inteiras devido ao grande volume de água que retém — a barragem tem 30 metros de altura e centenas de metros de largura, além de cerca de 18 quilômetros cúbicos de água.

A destruição da represa causou, ainda, um desastre ambiental imediato para a água potável que corria na barragem. De acordo com o governo ucraniano, 150 toneladas de óleo de máquina, que estavam nas instalações da barragem, caíram no rio Dnipro e há risco de vazamento de mais 300 toneladas.

O ministro das relações exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, culpou a Rússia pelo ataque e disse que a explosão causou “provavelmente o maior desastre tecnológico da Europa em décadas e colocando milhares de civis em risco”. “Este é um crime de guerra hediondo. A única maneira de parar a Rússia, o maior terrorista do século 21, é expulsá-la da Ucrânia”, declarou o ministro.

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