América do Norte

Fumaça tóxica transforma a rotina nos Estados Unidos e no Canadá

Incêndios florestais se alastram no território canadense e expõem milhões a níveis de poluição alarmantes. Casa Branca e especialista relacionam o fenômeno às mudanças climáticas. Biden oferece ajuda para controlar o fogo

Rodrigo Craveiro
postado em 09/06/2023 03:55
Incêndio em Dawson Creek, na província da Colúmbia Britânica (Canadá) -  (crédito: BC Wildfire Service/AFP)
Incêndio em Dawson Creek, na província da Colúmbia Britânica (Canadá) - (crédito: BC Wildfire Service/AFP)

Dos 429 incêndios florestais ativos no Canadá, 231 seguiam sem controle, na noite desta quinta-feira (7/6). A fumaça tóxica produzida pelas queimadas mudou a paisagem na capital dos EUA, Washington, e em metrópoles como Nova York e Filadélfia, na Pensilvânia. A Agência de Proteção Ambiental (EPA) elevou o alerta a partes da região do Médio Atlântico para o "Código Vermelho-Escuro", a categoria mais alta do índice de qualidade de ar, após a exposição a níveis de poluição cinco vezes acima do padrão consideado aceitável — algo sem precedentes desde o início dos registros pela ciência.

"Milhões de norte-americanos estão experimentando os efeitos da fumaça resultante dos incêndios florestais devastadores do Canadá, outro lembrete do impacto das mudanças climáticas", declarou o presidente dos EUA, Joe Biden. Havia a expectativa de que a névoa atingisse a Noruega. Na quarta-feira (6/6), Biden conversou por telefone com o premiê canadense, Justin Trudeau, e ofereceu ajuda adicional para a rápida contenção do fogo, principalmente na província de Quebec, responsável pelo impacto direto nos EUA.

Trudeau acusou a oposição de lutar contra a implementação de seu plano contra as mudanças climáticas. "É vergonhoso que o líder da oposição considere que os incêndios florestais que estão tirando pessoas de suas comunidades e destruindo suas casas são uma mera distração", desabafou. "Ele não tem nada a dizer sobre isso porque se recusa a apresentar qualquer plano real para lutar contra as mudanças climáticas e não faz nada além de lutar contra nosso plano de lutar contra as mudanças climáticas."

A Estátua da Liberdade aparece praticamente encoberta pela névoa
A Estátua da Liberdade aparece praticamente encoberta pela névoa (foto: Michael M. Santiago/Getty Images/AFP)

Em Washington, os passageiros do transporte público começaram a usar máscaras N-95, comuns durante a pandemia da covid-19. As autoridades cancelaram um evento em homenagem ao mês do Orgulho Gay e uma partida de beisebol profissional. As atividades ao ar livre em escolas públicas, incluindo exercícios físicos e competições, foram suspensas. Em Nova York, peças teatrais da Broadway — como Shakespeare no Parque, Hamilton e Camelot — estão suspensas. A Estátua da Liberdade e o skyline de Manhattan com seus arranha-céus ficaram parcialmente cobertos pela fumaça.

A agência France-Presse informou que, ante a baixa visibilidade, a Administração Federal de Aviação considerou necessário "gerenciar o fluxo tráfego com segurança em Nova York, Washington, Filadélfia e Charlotte (Carolina do Norte)". Os voos para o Aeroporto LaGuardia, de Nova York, e o Aeroporto Internacional da Filadélfia foram retomados após uma pausa.

Em Washington, a fumaça obscurece parcialmente prédio do Capitólio
Em Washington, a fumaça obscurece parcialmente prédio do Capitólio (foto: Mandel Ngan/AFP)

Problemas de saúde

Morador de Toronto, capital da província de Ontário (centro-leste do Canadá), Darcy Higgins — diretor da ONG Lift 360 Foundation — contou ao Correio que nunca viu tanta fumaça. "Em minha cidade, a visibilidade está baixa e algumas pessoas experimentam problemas de saúde, como olhos lacrimejantes e tosse.  A fumaça torna o céu mais cinza, e o sol parece avermelhado", disse.

O ativista de 37 anos acrescentou que vários focos de incêndio estão fora de controle. "Será preciso chover para que sejam debelados. Em algumas regiões, muitas pessoas perderam suas casas. Há uma arrecadação de donativos para ajudá-las", comentou Higgins. 

Professora do Instituto para Saúde e Política Social e do Departamento de Epidemiologia da Universidade McGill, também em Montreal, Jill Baumgartner explicou ao Correio que a maior ameaça à saúde está no fato de a fumaça ser formada por pequenas partículas que penetram os pulmões. "Estudos relacionados a incêndios florestais mostram que podem levar a doenças respiratórias e à hospitalização de adultos e crianças, especialmente  pessoas com asma ou com doenças pré-existentes."

Caroline Brouilette — diretora da Rede de Ação Climática do Canadá — admitiu à reportagem que as mudanças climáticas aumentam a intensidade e a frequência de eventos extremos, como os incêndios florestais. "As temperaturas mais altas ampliam a temporada de incêndios e contribuem para tornar os ecossistemas mais áridos. Temos visto incêndios em quase todas as províncias canadenses. Uma região sem precedentes está em chamas, e o verão nem começou."

 


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  • A Estátua da Liberdade aparece praticamente encoberta pela névoa
    A Estátua da Liberdade aparece praticamente encoberta pela névoa Foto: Michael M. Santiago/Getty Images/AFP
  • Moradores da capital utilizam máscara, em frente à Casa Branca
    Moradores da capital utilizam máscara, em frente à Casa Branca Foto: Kevin Dietsch/Getty Images/AFP
  • Em Washington, a fumaça obscurece parcialmente prédio do Capitólio
    Em Washington, a fumaça obscurece parcialmente prédio do Capitólio Foto: Mandel Ngan/AFP

Eu acho...

 (crédito: Arquivo pessoal )
crédito: Arquivo pessoal

 

"A intensidade e a magnitude dos incêndios são enormes, mas estudos climáticos têm mostrado, há muito tempo, que o risco de incêndios florestais está aumentando. As mudanças climáticas levaram a rápidas transformações em nossos ecossistemas, que incluíram secas prolongadas, florestas mais secas e verões mais quentes. Tudo isso contribui para incêndios mais intensos e mais demorados. A menos que mudemos de rumo e façamos grandes mudanças para lidar com as mudanças climáticas e seus impactos, o que estamos vivenciando agora provavelmente se tornará o novo normal."

Jill Baumgartner, professora do Instituto para Saúde e Política Social e do Departamento de Epidemiologia da Universidade McGill (Montreal)

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