Uma enorme barragem na área ocupada pela Rússia no sul da Ucrânia foi rompida, desencadeando uma inundação no rio. Mas quem se beneficiaria com a destruição da barragem?
Com ambos os lados da guerra — Rússia e Ucrânia — culpando o outro pelo rompimento da barragem, há ecos das inexplicáveis explosões do gasoduto Nordstream no ano passado. Em ambos os casos, as suspeitas ocidentais recaíram imediatamente sobre a Rússia. Mas nas duas vezes Moscou respondeu com: "Não fomos nós. Por que faríamos isso? Isso nos prejudica".
No caso do rompimento da barragem de Kakhovka, a Rússia pode enumerar pelo menos duas maneiras de prejudicar seus próprios interesses.
Primeiro, a inundação de terras próximas ao rio forçou a Rússia a evacuar tropas e civis para o leste, longe de Kherson e das margens do amplo rio Dnipro. Isso proporcionará uma pausa para os residentes de Kherson, que tiveram que conviver com a artilharia russa e os ataques de mísseis diários.
Em segundo lugar, isso pode afetar o abastecimento de água da Crimeia ocupada pela Rússia, uma península árida que depende de água doce de um canal próximo à barragem rompida.
Mas o rompimento da barragem de Kakhovka precisa ser visto no contexto mais amplo da guerra na Ucrânia e mais especificamente à luz da contraofensiva de verão da Ucrânia, que mostra sinais de já estar em andamento.
Para que essa contraofensiva seja bem-sucedida, ela precisa quebrar o domínio da Rússia sobre uma faixa de território que liga a Crimeia à região de Donbass, no leste da Ucrânia. Se a Ucrânia conseguir encontrar uma maneira de romper as linhas defensivas russas ao sul de Zaporizhzhia e dividir esse território em dois, poderá isolar a Crimeia e obter uma importante vitória estratégica.
Mas os russos aprenderam muitas lições desde a invasão iniciada em fevereiro do ano passado. Eles descobriram onde a Ucrânia tem mais probabilidade de atacar e passaram os últimos meses construindo linhas de fortificações formidáveis para bloquear qualquer avanço ucraniano em direção ao Mar de Azov.
Não há certeza de que a Ucrânia planejava enviar suas forças para o lado oeste dessas defesas. O Alto Comando em Kiev obviamente mantém tudo em sigilo.
Mas a destruição da barragem — seja de quem tenha partido a iniciativa — agora torna essa opção muito mais problemática.
O Dnipro já é um rio largo quando chega ao sul da Ucrânia. Atravessar ali uma brigada blindada, sob artilharia, mísseis e drones russos seria algo extremamente perigoso.
Com a barragem agora rompida e grandes extensões de terra inundadas, a área na margem esquerda (leste) oposta a Kherson tornou-se efetivamente uma região proibida para os blindados ucranianos.
A Rússia tem história nessa região. Em 1941, as tropas soviéticas explodiram uma barragem no mesmo rio Dnipro para bloquear o avanço das tropas nazistas. Milhares de cidadãos soviéticos teriam morrido devido às inundações que se seguiram.
O ponto principal agora, porém, é que quem violou a barragem de Kakhovka esta semana perturbou o tabuleiro de xadrez estratégico no sul da Ucrânia, forçando ambos os lados a fazer uma série de ajustes importantes e possivelmente atrasando o próximo movimento da Ucrânia em sua contraofensiva.
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