Insurgentes de nacionalidade russa contrários ao governo Vladimir Putin anunciaram a captura de soldados de seu país na região de Belgorod, perto da fronteira com a Ucrânia.
O governador de Belgorod respondeu que concordaria encontrar integrantes do grupo paramilitar se os soldados capturados ainda estivessem vivos.
Mais tarde, porém, os insurgentes disseram que o governador "não teve coragem" de encontrá-los e que entregariam os prisioneiros à Ucrânia.
Autoridades ucranianas afirmam que paramilitares russos formam os grupos Legião da Liberdade da Rússia (FRL) e Corpo de Voluntários Russos (RDK), que defendem a derrubada do regime de Putin e condenam a invasão do território ucraniano, iniciada em fevereiro do ano passado.
A Rússia afirma que eles são na verdade militantes ucranianos e culpou Kiev por ataques recentes a seu território. O governo ucraniano nega envolvimento direto.
O exército russo disse neste domingo (4/6) que sua artilharia atingiu um grupo "terrorista" perto da vila de Novaya Tavolzhanka, acrescentando que "o inimigo se dispersou e recuou".
Há cerca de duas semanas, a Rússia diz ter cercado os insurgentes em Belgorod e matado mais de 70 deles, fazendo o restante recuar de volta para a Ucrânia.
Mais cedo a Legião da Liberdade da Rússia publicou no Telegram um vídeo mostrando a captura de dois soldados russos. A BBC não conseguiu confirmar as identidades dos homens que aparecem no vídeo.
A mensagem foi postada como uma declaração conjunta com o Corpo de Voluntários Russos — que mais tarde divulgou outro vídeo apresentando o que seria um número maior de soldados russos capturados.
"Nem os militares nem a liderança civil estão interessados" no destino dos homens capturados, disse o RDK.
Vyacheslav Gladkov, governador da região de Belgorod, chamou os paramilitares de "canalhas, assassinos, fascistas", mas prometeu "garantir a segurança" se as negociações acontecerem.
Andriy Yusov, da diretoria de inteligência de Kiev, afirmou que ambos os grupos estavam trabalhando "autonomamente no território da Rússia" e que os ucranianos não estavam envolvidos, enquanto a TV ucraniana disse que eles eram milicianos e "voluntários russos".
O Corpo de Voluntários Russos ganhou destaque em março de 2023, participando de um ataque na região de Bryansk, na Rússia, que envolveu 45 pessoas.
Reportagens russas não confirmadas mencionaram tiros, vítimas e reféns, enquanto o RDK afirmou que havia cruzado a fronteira para convocar os russos a se rebelarem contra seu governo. O grupo disse que não havia feito reféns e que recuou com segurança para o território ucraniano.
Nacionalistas russos
O líder do Corpo de Voluntários Russos é conhecido como Denis Kapustin ou Denis Nikitin, um nacionalista russo, e o grupo defende abertamente um estado russo monoétnico.
Em 2020, um site investigativo ucraniano alegou que ele tinha ligação com grupos neonazistas, e Nikitin falou no passado que pertencia a um movimento de hooligans do futebol.
O RDK acusa a oposição tradicional da Rússia de ficar em cima do muro na guerra da Ucrânia.
Outro membro do grupo, chamado Fortuna, disse à imprensa ucraniana em novembro passado que eles somavam 120 pessoas.
"Somos uma unidade voluntária, não somos recrutas ou militares contratados."
A Legião da Liberdade da Rússia é uma organização bem diferente que luta ao lado das tropas ucranianas contra as forças russas. O grupo usa uma bandeira azul e branca, vista por parte da oposição russa como a bandeira da "Rússia livre".
Nikitin, disse que, embora ambos buscassem a "derrubada do regime de Putin", os combatentes da legião estavam mais inclinados a se autodenominar centristas.
No entanto, em 22 de maio, a legião anunciou que havia "libertado" o vilarejo russo de Kozinka, do outro lado da fronteira ucraniana, a sudoeste de Belgorod.
"A Legião e o RDK continuam a libertar a região de Belgorod", afirmou.
"Mais uma vez, o mito de que os cidadãos russos estão seguros e a Federação Russa é forte foi desconstruído", acrescentou.
Em seguida, postou vídeos de balões carregando sua bandeira sobre Moscou.
O tamanho da legião não é claro, mas de acordo com seu site, o grupo afirma estar "lutando em total cooperação com as Forças Armadas da Ucrânia e sob a liderança do comando ucraniano".
Um membro conhecido como Caesar, o soldado mais conhecido, insistiu que "não há pessoas na legião que foram forçadas a se juntar a ela" — e todos os membros eram soldados contratados da legião internacional da Ucrânia.
Embora ele tenha dito que um pequeno número eram soldados russos que se renderam às forças ucranianas, eles haviam feito isso justamente para mudar de lado.
Em resposta à decisão de Moscou de rotulá-lo como "organização terrorista", o grupo indicou que havia sido denunciada antes como inexistente.
Há algumas dúvidas sobre o significado militar dos dois grupos. O especialista ucraniano Volodymyr Fesenko afirma que há várias unidades diferentes — e elas parecem ser mais sobre relações públicas do que ação de verdade.
O ex-parlamentar russo Ilya Ponamarev, que agora é cidadão ucraniano, disse no Facebook em agosto de 2022 que o FRL e o RDK, além de outro grupo chamado Exército Nacional Republicano haviam assinado uma declaração concordando com o objetivo comum de libertar a Rússia do governo de Vladimir Putin.
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