Num momento de elevada tensão com o Ocidente, em especial com os Estados Unidos, o ministro da Defesa da China, Li Shangfu, criticou, ontem, o estabelecimento de alianças militares do "tipo Otan" na região Ásia-Pacífico. Ao participar da reunião de segurança Diálogo de Shangri-La, em Cingapura, ele alertou que essas organizações podem resultar em uma série de conflitos. As declarações aconteceram um dia após as manobras perigosas de navios militares da China e dos EUA perto do Estreito de Taiwan, evento que irritou as duas potências.
"As tentativas de estimular (alianças do) tipo Otan na Ásia-Pacífico são uma forma de sequestrar os países da região e de exagerar os conflitos e os confrontos", advertiu Li. Para ele, um tratado dessa natureza "vai apenas afundar a Ásia-Pacífico em um turbilhão de disputas e conflitos", alertou o ministro chinês na reunião mais importante sobre segurança na região.
O representante de Pequim não mencionou nenhum país diretamente, mas o discurso foi interpretado como um recado aos Estados Unidos, que reforçaram suas parcerias na região. A maior potência do mundo integra a aliança AUKUS, ao lado de Austrália e Reino Unido. Também integra o grupo QUAD, com Japão, Índia e Austrália.
"Atualmente, a Ásia-Pacífico precisa de uma cooperação aberta e inclusiva, não de pequenas camarilhas", insistiu o ministro de Xi Jinping. "Não devemos esquecer os grandes desastres que as duas guerras mundiais levaram às populações de todos os países. E não devemos permitir a repetição de uma história tão trágica", acrescentou.
Interação tímida
Na véspera, o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, que também participa do encontro, ressaltou que o diálogo entre Washington e Pequim "é essencial" para evitar erros de cálculo que possam levar a um conflito. A Casa Branca havia proposto uma reunião formal entre Austin e Li durante o fórum, mas os chineses recusaram o convite. Os dois apertaram as mãos e se falaram brevemente pela primeira vez no jantar de abertura da reunião em Singapura.
Embora a interação tenha ficado aquém da expectativa do Pentágono, houve sinais de avanços no diálogo. Além do aceno de Austin, o diretor da CIA, William Burns, fez uma viagem secreta à China no mês passado, anunciou uma fonte do governo americano na sexta-feira. Nos próximos dias, o subsecretário de Estado para o sudeste asiático, Daniel Kritenbrink, também irá ao país asiático.
Ao mesmo tempo, no entanto, os exércitos dos dois países executaram manobras perigosas nas duas áreas mais sensíveis da região: o Estreito de Taiwan e o Mar da China Meridional. Navios de guerra dos Estados Unidos e Canadá navegaram no sábado pelo Estreito que separa a China da ilha autogovernada de Taiwan.
Washington acusou um navio militar chinês de manobrar de "forma perigosa" perto de seu destróier Chung-Hoon. "Peço às autoridades (chinesas) que adotem as medidas necessárias para acabar com esse tipo de comportamento", declarou Austin, ontem, em Cingapura, em referência ao incidente do dia anterior. "O melhor seria que todos os países, e em particular seus aviões e navios de guerra, não entrassem no espaço aéreo e nas águas territoriais de outros países", respondeu Li.
Há alguns dias, o governo dos Estados Unidos denunciou uma "manobra desnecessariamente agressiva" de um caça chinês diante de um de seus aviões de vigilância no Mar da China Meridional. Pequim considera Taiwan parte de seu território e também reivindica a soberania sobre a maior parte do Mar da China Meridional.
Em Cingapura, o porta-voz do Pentágono, Pat Ryder, condenou as atividades cada vez mais arriscadas e coercitivas do Exército Popular de Libertação na região, inclusive nas últimas semanas. Uma fonte do Departamento de Defesa americano afirmou à imprensa que "ações falam mais alto que palavras".
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