Dezesseis dias depois de se antecipar a um julgamento político que poderia lhe custar o cargo, dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições gerais antecipadas, o presidente do Equador, Guillermo Lasso, abriu caminho para o fortalecimento da centro-direita. Em vídeo divulgado por meio do Twitter, o líder anunciou a desistência da disputa por mais quatro anos no comando do Palácio de Carondelet, em Quito. "Não aceitarei a nomeação para ser candidato à Presidência da República nas próximas eleições de 20 de agosto. Faço isso com um profundo amor pela democracia e por respeito a vocês, cidadãos", declarou. "Quando decretei a dissolução da Assembleia Nacional, disse o que repito agora: é uma decisão que me permite devolver aos cidadãos o poder de eleger um novo presidente e uma nova Assembleia Nacional."
Até o fim do mandato, em dezembro, Lasso se comprometeu a trabalhar "o dobro" pelos equatorianos, "pelo bem-estar da população e pela prosperidade" do país. "Tudo o que eu tinha previsto fazer em dois anos farei o meu maior esforço para poder cumpri-lo nos próximos seis meses", concluiu, em um pronunciamento de apenas 76 segundos. Mais tarde, em discurso na sede do Executivo, disse que o anúncio é fruto de uma "reflexão profunda". "Este não é, nem de longe, um ponto final", avisou o presidente, que enfrentava acusações de corrupção. "Para mim, não faz sentido fazer campanha quando o país precisa que eu me dedique aos cidadãos, quando ainda há metas a alcançar e desafios a superar", justificou-se.
Em entrevista ao Correio, especialistas do Equador avaliaram que a renúncia de Lasso à corrida eleitoral debilita o correísmo — a vertente da esquerda apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), exilado na Bélgica e sentenciado a oito anos de prisão por corrupção. A reportagem entrou em contato com a assessoria de Correa e obteve a resposta de que ele não comentará o anúncio do atual chefe de Estado.
André Benavides, advogado constitucionalista baseado em Quito, afirmou que a decisão do presidente era aguardada. "Acredito que o momento político do governo e os problemas do país não dão condições para a postulação da candidatura de Lasso", observou. Ele entende que a ausência de Lasso do pleito evitará a "atomização do voto dos contrários ao correísmo". "Isso permitirá ter um candidato de consenso da direita para enfrentar o correísmo", explicou.
Também advogado constitucionalista na capital equatoriana, Gonzalo Muñoz considera o gesto de Lasso como um "ato de desprendimento". "Isso fortalece a unidade da tendência de centro-direita. Sob o meu ponto de vista, é uma ação absolutamente positiva. O correísmo se beneficiaria de um cenário com vários candidatos, algo que se evita com a renúncia eleitoral de Guillermo Lasso."
Para Mario Prado Mora, advogado e especialista em direito público de Quito, admitiu que, após a atribuição constitucional de Lasso de dissolver o Congresso, os setores políticos se desequilibraram diante de uma situação inédita, para a qual não estavam preparados. "Uma das dúvidas foi se Lasso se apresentaria como candidato para terminar seu mandato. No entanto, ele foi muito cauteloso ao lidar com o tema da reeleição. Ainda que tenha acenado que não disputaria a reeleição, em entrevistas à imprensa internacional, ele manteve o diálogo até o dia de hoje", disse.
Mora lembrou que as opiniões sobre a candidatura de Lasso estavam divididas. "Alguns analistas sustentavam que, frente à proliferação de candidatos e à fragmentação da tendência de direita, o presidente partiria com uma votação dura de 18%, que seria suficiente para entrar na disputa. Outros, no entanto, argumentavam que a candidatura enfraqueceria a centro-direita. Nessas circunstâncias, a decisão de não concorrer nas eleições é positiva para seu espectro político."
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Popularidade em queda vertiginosa
A aceitação do presidente Guillermo Lasso caiu para apenas 10%, de acordo com pesquisa realizada pela empresa privada Perfiles de Opinión. Por sua vez, a popularidade da Assembleia Nacional do Equador despencou para 2%, no começo de maio. Apesar da violência ligada ao narcotráfico e da instabilidade política, o Equador se mantém calmo depois da dissolução do Parlamento, justamente pelo fato de o Legislativo não gozar de credibilidade.