GUERRA NA EUROPA

Europa desafia Putin e apoia entrada da Ucrânia na UE e Otan

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se reúne com 50 líderes da Comunidade Política Europeia, na Moldávia, pede entrada do país na UE e na Otan e recebe apoio irrestrito

Rodrigo Craveiro
postado em 02/06/2023 06:00
O presidente da França, Emmanuel Macron, conversa com Zelensky (D), em Bulboaca: solidariedade e acordo para treinar pilotos de caça -  (crédito: Ludovic Marin/AFP)
O presidente da França, Emmanuel Macron, conversa com Zelensky (D), em Bulboaca: solidariedade e acordo para treinar pilotos de caça - (crédito: Ludovic Marin/AFP)

Menos de duas semanas depois da participação na cúpula do G7, em Hiroshima (Japão), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tornou a apostar na diplomacia e participou de uma reunião de 50 líderes da Comunidade Política Europeia (CPE) na comuna de Bulboaca, na Moldávia. Durante o encontro, o ucraniano pediu aos governantes que intensifiquem o apoio a Kiev e tornou a defender a entrada de seu país na União Europeia (UE) e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Simbólico, o local do encontro — a apenas 20km da fronteira com a Ucrânia e próximo à Transnístria, região separatista moldávia de população formada por russos étnicos — representou uma mensagem desafiadora ao governo do presidente russo, Vladimir Putin.

"A Rússia de Putin se excluiu desta comunidade ao lançar esta guerra contra a Ucrânia", avisou Josep Borrell, alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança. "Queremos enviar uma mensagem firme de união contra a guerra de Putin na Ucrânia", acrescentou o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez. O presidente francês, Emmanuel Macron, e Zelensky conversaram e anunciaram a disposição em estabelecer um cronograma para o treinamento de pilotos ucranianos de aviões de combate.

Dionis Cenusa, especialista do Centro de Estudos sobre o Leste Europeu, em Vilnius (Lituânia), explicou à reportagem que a guerra na Ucrânia "contradiz todos os valores europeus, que se baseiam na paz e no respeito ao direito internacional". "A Comunidade Política Europeia e sua segunda cúpula, na Moldávia, são uma resposta geopolítica da UE e dos líderes europeus à agressão militar russa. A Ucrânia e a Moldávia se beneficiam do maior apoio da UE à luz do conflito. No entanto, isso não significa que o bloco aceitará um processo de adesão acelerado para esses países. A UE adota as decisões de adesão com base na unanimidade entre os Estados-membros", comentou.

O estudioso vê os planos da UE de forjarem um cronograma de ajuda financeira de quatro anos à Ucrânia como algo natural. Cenusa frisou que um fundo de apoio será essencial nos esforços de reconstrução do pós-guerra. Professor da Universidade Fairleigh Dickinson e da Universidade de Nova York, e ex-embaixador da Moldávia na ONU, Vlad Lupan admitiu ao Correio que a solidariedade para com a Ucrânia é "uma questão de valores e um tema existencial".

Ele lembrou que a UE foi criada após a Segunda Guerra Mundial para evitar a reincidência de conflitos, por meio de um sistema de Estado de Direito e de comércio mútuo. "Em 2014, os ucranianos saíram 'em massa' para protestar contra a retirada desses valores. A guerra contra a Ucrânia viola as liberdades pelas quais os ucranianos morreram durante as manifestações de nove anos atrás. Se a Rússia ocupar outro território da ex-União Soviética, Putin se sentirá encorajado a continuar as conquistas por meio da subversão e da ocupação, o que seria uma ameaça à Europa", advertiu Lupan.

O ex-embaixador moldávio entende como simbólico o fato de a cúpula da Comunidade Política Europeia ter sido organizada em Moldávia, um país que sofreu com uma guerra com forças pró-Moscou. "É um claro sinal de apoio à Ucrânia em direção à UE. A cúpula e os encontros entre EU, Moldávia e Ucrânia representam um indício de apoio político a ambos", disse. Lupan afirmou que, bem antes da guerra, alertou políticos de um "grande país da UE" a manterem um "diálogo realista" com o Kremlin. "Nações europeias tentarão ajudar países do Leste que aspiram o Estado de Direito e a democracia, e que sofrem os resultados das ações hostis da Rússia."

Ataques

Era Dia das Crianças em muitas ex-repúblicas soviéticas. Por volta das 3h de ontem (21h de quarta-feira em Brasília), Anton Suslov — especialista da Escola de Análise Política (em Kiev) — foi despertado pelo som de várias explosões. "Eu me encontrei com vizinhos no corredor e discutimos se deveríamos nos refugiar na estação de metrô. Enquanto escutava os estrondos, olhei pela janela e vi gente entrando na galeria subterrânea. Decidimos permanecer em casa, ainda que as sirenes aéreas não tenham cessado", relatou ao Correio.

Uma menina de 9 anos e a mãe, além de outro adulto, morreram durante o impacto de um míssil, no bairro de Desnianski. Dez pessoas ficaram feridas. Na região de Belgorod, no lado russo da fronteira, a Rússia alegou ter frustrado uma invasão de tanques e de 70 homens armados à cidade de Shebekino. Vídeos divulgados pelas redes sociais mostravam prédios em chamas.

 

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Zelensky diz ainda esperar encontro com Lula

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, revelou que ainda deseja se encontrar com Luiz Inácio Lula da Silva para escutar as propostas para pôr fim à guerra iniciada pela Rússia e admitiu que o colega brasileiro quer ser "original" em suas propostas. As declarações foram feitas ao jornal Folha de S. Paulo.

Zelensky negou ter sido o responsável por não se reunir com Lula durante a cúpula do G7, em Hiroshima, em 21 de maio. Ele também criticou a falta de vontade e de tempo do colega brasileiro, além da ausência de apoio do Brasil para a criação de um tribunal especial internacional para julgar crimes de guerra cometidos pelas tropas de Vladimir Putin na Ucrânia.

A reunião entre Zelensky e Lula, à margem da cúpula do G7, chegou a ser anunciada como certa. Bandeiras da Ucrânia e do Brasil foram fotografadas sobre uma mesa, em uma das salas do evento, onde ocorreram os encontros bilaterais entre chefes de Estado e de governo.

"Não apareceu"

Durante entrevista coletiva, Lula disse que a reunião não aconteceu porque Zelensky se atrasou e não apareceu. "O fato é muito simples, tinha uma bilateral com a Ucrânia aqui, neste salão, às 15h15. Nós esperamos e recebemos a informação de que eles tinham se atrasado. Enquanto isso, eu atendi o presidente do Vietnã. Quando ele foi embora, a Ucrânia não apareceu." O Itamaraty informou ter disponibilizado três horários a Zelensky, os quais não foram aceitos.