A 531 dias das eleições presidenciais dos Estados Unidos, o governador da Flórida, Ron DeSantis, 44 anos, oficializou, nesta quarta-feira (24/5), a entrada na disputa pela indicação do Partido Republicano. Escolheu lançar a pré-candidatura em uma tumultuada conversa ao vivo, pelo Twitter, com o bilionário Elon Musk — dono da rede social, da Tesla e do Space X. O ex-advogado se postula como o principal adversário do magnata Donald Trump, 76, que planeja retornar à Casa Branca depois de governar os EUA entre 2017 e 2021.
Marcada para as 19h (hora de Brasília), a conversa com Musk teve que ser interrompida por problemas técnicos. O som foi cortado logo após DeSantis assumir o microfone. Vinte e cinco minutos depois, o mediador David Sacks retornou e brincou: "Eu acho que você quebrou a internet aqui". "Os servidores estão sobrecarregados um pouco", comentou Musk, ao citar a participação de 400 mil pessoas na sala virtual. Com a transmissão normalizada, DeSantis tornou a falar.
"Eu estou disputando a Presidência dos Estados Unidos para liderar o nosso 'Grande Retorno Americano'", confirmou ele, ao prometer restaurar a "sanidade da nação" e revitalizar os Estados Unidos. "Devemos restabelecer a integridade de nossas instituições. Isso significa que devemos revigorar a Constituição e devolvê-la a quem lhe possui por direito: o povo", declarou o governador da Flórida, que citou a segurança na fronteira, a criminalidade nas cidades e a vulnerabilidade econômica como os problemas mais urgentes do país.
"Nós podemos e devemos entregar grandes resultados para os norte-americanos. (...) Vamos construir uma economia que garanta um bom padrão de vida. (...) Se vocês me indicarem, podem mudar seu relógio para meio-dia de 20 de janeiro de 2025, pois serei o 47º presidente dos EUA", avisou DeSantis, em um recado ao Partido Republicano. Sacks e Musk destacaram que a história estava sendo realizada pelo Twitter.
O primeiro anúncio de uma candidatura presidencial feito pelas redes sociais foi precedido por um vídeo de 74 segundos publicado no Twitter, no qual o governador da Flórida fez a primeira remissão ao slogan "Grande Retorno Americano" — alusão ao termo adotado pela campanha de Trump, Make America Great Again ("Tornar a América Grande Novamente").
A campanha de DeSantis conta com doações de US$ 110 milhões (cerca de R$ 545 milhões) até agora. No entanto, a corrida eleitoral promete ser desafiadora para ele. O adversário de Trump aparece em uma pesquisa da emissora CNN como candidato de 26% dos americanos, enquanto o ex-presidente magnata tem a preferência de 53%.
Pela manhã, Donald Trump provocou o adversário. "DeSantis precisa desesperadamente de um enxerto de personalidade", zombou o magnata em publicação na Truth Social, rede social criada por ele para divulgar sua ideologia.
"Trump 2.0"
Diretor do Projeto sobre Ética em Comunicação Política e professor da Universidade George Washington, Peter Loge afirmou ao Correio que DeSantis está em sintonia com muitas das posições de Trump. "Se ele vencer em 2024, não dará início a uma era pós-Trump. Seria mais um Trump 2.0", comparou. "DeSantis parece ter dois trunfos: o primeiro deles é o fato de ser o governador popular de um grande estado (Flórida). Governadores costumam se eleger presidentes dos Estados Unidos, e isso pode ser visto como uma força com a qual DeSantis pode contar. No entanto, ele não parece se aproveitar disso."
O segundo trunfo do desafiante de Trump, segundo Loge, é que DeSantis parece uma versão do magnata republicano, sem os indiciamentos, os processos judiciais, as acusações de abuso sexual e os fracassos nos negócios. "Ele tem toda a raiva e o ressentimento de Trump, todo o nacionalismo e a indignação, mas sem as acusações e os problemas com a lei. DeSantis busca ser Trump sem a bagagem do magnata. Vejo lógica nessa abordagem, mas sou cético de que possa funcionar", comentou. Para o especialista, um movimento conservador pós-Trump se pareceria mais com o senador Tim Scott ou com o ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson.
Como as primárias começarão em janeiro, o governador da Flórida e seus adversários terão tempo suficiente para apresentar os argumentos ao eleitorado norte-americano. Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington), explicou ao Correio que a vitória nas eleições a candidatos que não sejam favoritos requer pelo menos um de três fatores: uma questão candente, uma extensa organização popular ou uma personalidade inspiradora. "DeSantis não tem nenhuma dessas vantagens nas primárias republicanas."