Mais de 100.000 menores correm o risco de morrer de desnutrição severa no Haiti, cenário de uma violência crescente das gangues, alertou o Unicef nesta quinta-feira (11/5).
"A violência armada provocou o aumento de cerca de 30% dos menores com desnutrição aguda severa no Haiti em relação a 2022", informou com preocupação o Fundo das Nações Unidas para a Infância por meio de um comunicado.
O Unicef estima que 115.600 menores vão sofrer em 2023 desta forma de desnutrição, a mais letal, e que representa uma das principais ameaças para a sobrevivência dos menores contra os 87.500 que padeceram com ela em 2022.
"No Haiti, cada vez mais pais não têm recursos para proporcionar cuidados médicos e alimentação apropriados aos seus filhos e não podem levá-los a centros de saúde devido ao aumento terrível da violência dos grupos armados", denunciou o encarregado do Unicef no país, Bruno Maes.
"Combinado com a epidemia de cólera atual, (a desnutrição) aumenta rapidamente o número de menores que sofrem com emaciação (perda de gordura e massa muscular) severa e, se não forem tomadas medidas, vão morrer", insistiu.
Desde o novo surto de cólera, que emergiu no país em outubro passado, foram registrados 41.000 casos suspeitos, dos quais cerca da metade afetou menores de 14 anos, segundo o comunicado.
Neste contexto, o Unicef "precisa urgentemente" de 17 milhões de dólares (R$ 84,4 milhões na cotação atual) para detectar os casos de desnutrição aguda severa e dar aos menores vítimas os cuidados e a alimentação necessários.
"A falta de financiamento pode pôr em risco a vida de mais de 100.000 crianças, que correm risco de morte imediata", insistiu o Unicef, destacando que os menores da capital, Porto Príncipe, são os mais afetados.
Aproximadamente uma em cada quatro crianças no país também sofre de desnutrição crônica, com consequências físicas e cognitivas de longo prazo, acrescentou a organização.
Mais de 600 pessoas foram assassinadas apenas em abril em "uma nova onda de violência extrema" que sacudiu vários bairros de Porto Príncipe, segundo a ONU, que não para de repetir seus pedidos para o envio de uma força de intervenção internacional para ajudar a polícia, incapaz de fazer frente à violência das gangues.