Jornal Correio Braziliense

Sérvia

Adolescente que matou 8 crianças em escola carregava lista com nome dos alvos

O pré-adolescente matou três alunos no corredor e dirigiu-se à porta de uma das salas de aula. Tornou a disparar contra a professora de história e outros alunos

Tudo começou às 8h40 (3h40 em Brasília). Um garoto de 13 anos entrou na Escola Primária Vladislav Ribnikar, na região central de Belgrado, determinado a cometer um massacre. Carregava uma lista com os nomes de potenciais vítimas, além de duas pistolas — uma delas calibre 9mm — e quatro coquetéis Molotov. O primeiro a tombar, morto, foi o segurança da escola, considerado herói por funcionários e autoridades, após colocar-se na linha de tiro para proteger os estudantes.

O pré-adolescente matou três alunos no corredor e dirigiu-se à porta de uma das salas de aula. Tornou a disparar contra a professora de história e outros alunos. Além do segurança, oito crianças morreram, sete meninas e um menino. Dois estudantes e a professora foram hospitalizados em estado grave. Outros quatro alunos ficaram feridos.

O assassino caminhou até o pátio e telefonou para a polícia, cerca de dois minutos depois. "Eu sou K. Atirei em várias pessoas", anunciou. De acordo com o chefe da polícia de Belgrado, Veselin Milic, as crianças mortas tinham entre 7 e 15 anos. As armas utilizadas no crime pertencem ao pai do atirador, um médico — ele e a mãe foram detidos pouco depois do ataque.

"O pai afirma que as armas estavam guardadas em um cofre, mas parece que o menino conhecia a senha, pois conseguiu pegar as pistolas e três carregadores com 15 balas cada um", afirmou o ministro do Interior da Sérvia, Bratislav Gasic. Segundo autoridades sérvias, o pai visitou, recentemente, estandes de tiros, acompanhado do filho.

Veselin Milic anunciou que o agressor "planejou o ataque a tiros por um mês e fez uma lista das crianças que planejava matar". "O esboço parece um videogame ou filme de terror, o que indica que ele planejou detalhadamente, por sala, quem iria matar", descreveu. Astrid Merlini, cuja filha estava na escola, afirmou que os professores rapidamente esconderam as crianças.

Mais tarde, o atirador foi filmado saindo da escola, sob escolta policial, algemado e cobrindo o rosto com uma jaqueta. Entrou em um carro descaracterizado, que partiu em alta velocidade.

Aluna da segunda série, Tanjug contou à emissora N1, de Belgrado, que não levou a sério o início do ataque. "Achei que alguém estivesse jogando bombinhas nos corredores da escola. Depois, vi o segurança cair no chão, mas não porque atiraram nele. Desci, corri e falei para os professores de educação física que achava que estavam atirando. Foi quando escutamos mais disparos", relatou Tanjug.

"Onde está minha filha?"

O pai de uma estudante da Escola Primária Vladislav Ribnikar descreveu uma manhã caótica. "Eu me dirigia ao banco, quando vi um bando de policiais. Vim correndo. Vi o psicólogo da escola e os funcionários; os professores estavam em choque", relatou à N1. "A polícia veio rapidamente e perguntei a eles onde estava minha filha. Um homem disse que a professora de história tinha sido baleada. Voltei ao meu apartamento para ver sua agenda escolar e percebi que ela estava na aula de história", acrescentou. Ao retonar à escola, ele viu o segurança deitado sob uma poça de sangue. "Perguntei aos funcionários: 'Onde está minha filha?'. Ninguém disse nada."

O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, afirmou que o atirador será internado em uma instituição especial psiquiátrica e acrescentou que ele não demonstrou nenhum sinal de remorso. Na Sérvia, crianças não podem ser responsabilizadas criminalmente. Vucic dirigiu-se ao país e lamentou o que chamou de "um dos dias mais difíceis da história contemporânea" da Sérvia.

Segundo a Promotoria, amostras de sangue do atirador foram coletadas para a realização de exames toxicológicos, a fim de apurar se ele agiu sob influência de álcool ou de substâncias psicoativas. "Todas as circunstâncias deste caso, como ele conseguiu a arma, bem como os motivos deste crime hediondo estão sendo investigados", disse o organismo, por meio de um comunicado.

Esse tipo de violência é extremamente raro na Sérvia, onde a compra de uma arma de fogo requer uma permissão especial. O ministro de Educação, Branko Ruzic, chamou o ataque de "a maior tragédia" já ocorrida no sistema escolar sérvio, e anunciou três dias de luto oficial.