Jornal Correio Braziliense

Oriente Médio

Morte de líder da Jihad Islâmica acirra tensão no Oriente Médio

Situada a 5km da fronteira com a Faixa de Gaza, Sderot foi alvo de ataques disparados por militantes da Jihad Islâmica e do Hamas, que deixaram ao menos 12 civis feridos

Às 21h22 de ontem (15h22 em Brasília), o israelense Dov Trachtman, 31 anos, falava ao Correio pelo WhatsApp quando relatou: "Mais foguetes acabam de ser disparados contra a nossa cidade". Situada a 5km da fronteira com a Faixa de Gaza, Sderot foi alvo de ataques disparados por militantes da Jihad Islâmica e do Hamas, que deixaram ao menos 12 civis feridos. "Foram duas explosões fortes. Nossa casa chacoalhou. Foram menos de cinco segundos entre a sirene e a detonação", contou o relações públicas. Pela manhã, Dov soube que Khader Adnan, 45, um dos líderes da Jihad Islâmica, morreu em uma prisão de Israel, depois de manter greve de fome por 80 dias. "A primeira barragem de foguetes foi lançada às 6h37 (hora local). Ameaças foram enviadas de Gaza de forma constante." A aviação israelense revidou os disparos de cerca de 30 foguetes com bombardeios contra o enclave palestino. 

"Alguns foguetes causaram incêndios que cobriram Sderot de fumaça e tornaram difícil respirar", disse Dov. Os lançamentos ocorreram no momento em que os pais de cidades e kibbutzim do sul de Israel buscavam seus filhos nas escolas. Em Sderot, vários carros estacionados foram danificados pelos estilhaços dos artefatos. Um dos foguetes caiu no jardim de uma casa, na mesma cidade. 

De acordo com o Serviço Prisional de Israel, Adnan foi encontrado inconsciente dentro de sua cela. O jornal israelense The Jerusalem Post informou que ele se recusou a ser submetido a exames médicos e a receber tratamento de saúde durante a greve de fome. Transferido para o Hospital Assaf Harofeh, a 15km de Tel Aviv, ele foi submetido a ressuscitação cardiopulmonar e declarado morto pouco depois. Foi o primeiro palestino a falecer durante um protesto do tipo. 

"Khader Adnan é um dos símbolos de nosso povo palestino. Ele ficou detido pelas autoridades da ocupação por oito anos", afirmou ao Correio Hazem Qassem, porta-voz do movimento fundamentalista islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza. "Estamos em uma escalada, há bombardeios em Gaza perto de nós", acrescentou, ao encerrar a entrevista às 23h26 (17h26 em Brasília).

Antes, Qassem condenou o "assassinato deliberado do prisioneiro Khader Adnan" e denunciou uma "execução a sangue frio pelo Serviço Prisional" de Israel. "O caminho da revolução e da resistência se intensificará em toda a Palestina em resposta a este crime e a todos os crimes da ocupação", advertiu o porta-voz, que criticou o silêncio da comunidade internacional. "Hoje, o Hamas e as demais facções palestinas realizaram uma resposta militar contra as posições do Exército de ocupação."

Também em Gaza, Motea Abusabeh, ativista político do Hamas, relatou que caças israelenses atacaram várias áreas do enclave. "Sem dúvida, a ocupação israelense carrega total responsabilidade pelas consequências da escalada. A resistência palestina jamais se calaria diante da agressão israelense, pois tem o direito legítimo de defender o povo.

Fogo amigo

As Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram que "dezenas de foguetes foram disparados de Gaza em civis israelenses, fazendo com que corressem para os abrigos antiaéreos". "Isso tem sido a realidade para muitos em Israel, hoje." Ainda segundo as IDF, dois foguetes falharam e caíram sobre Beit Hanoun, dentro da Faixa de Gaza. Cinco civis palestinos ficaram feridos.