Com um tapa-olho e trajando macacão de presidiário de cor laranja, Stewart Rhodes, 58 anos, não esboçou remorso ao escutar o veredicto proferido pelo juiz Amit Mehta. "Ouso dizer, senhor Rhodes... E nunca disse isso a ninguém que condenei... Você representa uma ameaça contínua e um perigo para a nossa democracia e para a estrutura deste país", declarou o magistrado, ao anunciar a sentença de 18 anos de prisão para o fundador do Oath Keepers, o grupo de extrema direita baseado na Flórida que participou da invasão ao prédio do Capitólio, em Washington. Rhodes cumprirá a pena pelo crime de conspiração sediciosa.
Em 6 de janeiro de 2021, uma horda de simpatizantes de Donald Trump, entre eles militantes do Oath Keepers, atacou a sede do Legislativo, na tentativa de impedir os congressistas de certificarem Joe Biden como vencedor das eleições de novembro de 2020. Cinco pessoas morreram durante a invasão, entre elas Brian Sicknick, um policial do Capitólio que foi espancado e atingido na cabeça por um extintor de incêndio. Pelo menos 1 mil pessoas foram acusadas formalmente pela invasão.
"A conspiração sediciosa é um dos crimes mais graves que um norte-americano pode cometer", advertiu o juiz. "Você é inteligente, carismático e convincente, e isso é francamente o que o torna perigoso", acrescentou Mehta. "Ouso dizer que, agora, todos nós prendemos a respiração coletivamente, quando uma eleição se aproxima. Será que teremos outro 6 de janeiro de novo? Isso ainda está para ser visto."
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Terrorismo
O magistrado assegurou que Rhodes ordenou outros membros do grupo a tomarem o Capitólio de assalto e ajudou a organizar a invasão. Os promotores pediam uma pena de 25 anos de detenção para o líder do Oath Keepers, ao classificarem o crime cometido por ele como "terrorismo" e ao destacarem que os atos de 6 de janeiro de 2021 não têm precedentes nos EUA.
A Justiça também condenou Kelly Meggs, considerado número dois do Oah Keepers, a 12 anos de detenção, em um julgamento ocorrido separadamente. Rhodes manteve a empáfia diante do magistrado. "Sou um prisioneiro político. Meu único crime é me opor a quem destrói nosso país", declarou ao tribunal, ao traçar uma comparação com o famoso dissidente soviético Aleksandr Solzhenitsyn. Pouco depois, o juiz o repreendeu e o acusou de ter se preparado "para levantar armas e fomentar uma revolução", apenas por não ter simpatizado com o resultados da urnas. "Você não é um preso político, senhor Rhodes. O senhor está aqui por suas ações."
Cofundadora do Projeto Global contra Ódio e Extremismo, Heidi Beirich considera "pesada" a sentença de Stewart Rhodes. "Ela fará com que outras pessoas reconsiderem esse tipo de atividade. Os Oath Keepers estão quase desmoronando por conta das acusações e enfrentam um processo de fratura — apenas algumas franquias funcionam. De qualquer forma, o veredicto deveria enviar um sinal a todos os extremistas de que há consequências de suas ações", explicou ao Correio, por e-mail. "Acho que alguém vai pensar sempre duas vezes antes de se engajar em atos desse tipo. Também vejo a decisão da Justiça como um lembrete de que o governo federal está de olho e que haverá prestação de contas. Esperamos que isso ajude a reprimir atividades extremistas", reiterou.
Democracia frágil
Para Beirich, a acusação de conspiração sediciosa escancara a extrema fragilidade da democracia norte-americana. "Neste momento, há negacionistas eleitorais em cargos públicos. Trump continua atacando o sistema, e os grupos de ódio estão em ascensão. Este é um lembrete de que, se alguém interferir nas nossas instituições, pagará por isso."
Ainda de acordo com Beirich, os membros do Oath Keepers são "virulentamente antidemocráticos e antigovernamentais". "Eles estão dispostos a usar a violência para mudar o sistema democrático. Até esses julgamentos, eram grave ameaça à segurança nacional."
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Oath Keepers, pretensos "defensores" da Constituição norte-americana
Eles se julgam os guardiões da República. Em seu site, os Oath Keepers se definem como "uma associação não partidária formada por militares, policiais e socorristas da ativa e antigos", que se comprometem a cumprir o juramento em defesa da Constituição "contra todos os inimigos, estrangeiros e domésticos". A organização não governamental Southern Poverty Law Center os identificam como um dos vários grupos antigovernamentais de extrema direita em atividade nos Estados Unidos.
Fundado em março de 2009 por Stewart Rhodes, um ex-estudante de direito da prestigiosa Universidade de Yale e ex-paraquedista, o grupo Oath Keepers mantém em seus quadros cerca de 38 mil militantes, segundo uma lista obtida pela Liga Antidifamação (ADL), uma ONG judaica internacional baseada nos Estados Unidos. Nos últimos anos, colecionou um histórico de ameaças ao Capitólio do estado de Oregon e à ex-primeira-dama Hillary Clinton, além de militantes uniformizados com roupas de paramilitares terem participado ativamente da invasão ao Congresso norte-americano, em 6 de janeiro de 2021.
Trump debocha de Ron DeSantis
O lançamento virtual da campanha de Ron DeSantis à indicação do Partido Republicano para a corrida rumo à Casa Branca, ofuscado por problemas técnicos no Twitter, foi prato cheio para Donald Trump, 76 anos. Adversário do governador da Flórida, o ex-presidente dos Estados Unidos usou a Truth Social, rede social criada por ele próprio, para debochar de DeSantis, 44.
"Uau! O lançamento de DeSanctus pelo Twitter é um desastre. Toda a sua campanha será um desastre", escreveu Trump, ao alterar de propósito a grafia do nome do oponente. Na noite de quarta-feira, o anúncio oficial da candidatura, mediado pelo bilionário Elon Musk, teve que ser adiado em 25 minutos, devido a problemas no áudio. Mais de 400 mil pessoas acompanharam o evento.
Trump chamou DeSantis de uma "catástrofe" e publicou um vídeo do SpaceX, foguete criado por Musk, se despedaçando e explodindo, com as palavras "Ron! 2024" sobrepostas à fuselagem. O magnata que tenta retornar ao comando da nação também compartilhou um vídeo no qual ridicularizava os problemas técnicos do Twitter e sugeria uma line-up de palestrantes, como o líder nazista, Adolf Hitler; o ex-vice-presidente Dick Cheney; e até o Satanás.
O ex-presidente enalteceu a Truth Social, ao criticar o Twitter. "Rob, meu botão vermelho é maior, melhor, mais forte, e está funcionando (verdade!). O seu, não!", ironizou Trump.