Progressistas podem formar coalizão e afastar generais do comando da Tailândia

O novo primeiro-ministro será escolhido conjuntamente pelos 500 deputados eleitos da Câmara Baixa e pelos 250 membros do Senado designados pela junta de Prayut, o que favorece o exército

Correio Braziliense

postado em 16/05/2023 06:00

(crédito: AFP)

O líder da oposição da Tailândia, Pita Limjaroenrat, reivindicou a vitória do partido progressista Move Forward (Avançar, em inglês), que poderá formar uma coalizão para afastar do poder os generais que governam o país há quase uma década. "Sou Pita Limjaroenrat, o próximo primeiro-ministro da Tailândia", disse o candidato reformista, de 42 anos, em entrevista coletiva em Bangcoc.

A legenda registrou um resultado histórico nas eleições legislativas de domingo, nas quais concorreu com um programa de mudanças alinhado às manifestações massivas de 2020, que exigiam uma reforma da monarquia. "Era o momento certo, as pessoas suportaram demais [...] Hoje é um novo dia e espero que traga luz do sol e esperança", disse Pita Limjaroenrat, formado em Harvard.

Analistas já preveem que suas posições a favor da alteração do polêmico artigo sobre o crime de lesa-majestade ou da eliminação do alistamento obrigatório podem causar atritos com a elite monarquista-militar, altamente influente nas instituições.

As eleições registraram uma participação recorde de 75%. O movimento Move Forward conquistou 151 das 500 cadeiras da Câmara Baixa, segundo as projeções, à frente de Pheu Thai (141 deputados), a outra grande força da oposição.

Já o partido Nação Tailandesa Unida (UTN) do atual primeiro-ministro, Prayut Chan-O-Cha, ficou muito atrás, em quinto lugar, com 36 cadeiras, após permanecer nove anos no poder por um golpe em 2014. Entretanto, as complexas normas eleitorais obrigam os partidos da oposição a formar uma grande coalizão para ter acesso ao poder.

Dessa forma, todos os cenários estão sobre a mesa. Pita Limjaroenrat se adiantou e estendeu a mão à líder do Pheu Thai, Paetongtarn Shinawatra, para formar uma aliança de seis partidos. A filha do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, no exílio, respondeu favoravelmente, abrindo caminho para constituir uma maioria com pouco mais de 300 cadeiras.

Ambos concordam que a economia tailandesa exige reformas, mas discordam em várias questões sociais, como o artigo que prevê punições severas para o crime de lesa-majestade, texto que, segundo seus críticos, tem sido perversamente utilizado para reprimir qualquer voz dissidente.

O novo primeiro-ministro será escolhido conjuntamente pelos 500 deputados eleitos da Câmara Baixa e pelos 250 membros do Senado designados pela junta de Prayut, o que favorece o exército. Assim, a oposição precisa de 376 cadeiras para contra-atacar a influência dos senadores, enquanto o lado pró-militar teria maioria garantida com apenas 126 deputados.

A história recente da Tailândia, que já viveu uma dezena de golpes de Estado desde o fim da monarquia absoluta, em 1932, tem sido marcada por uma sucessão de intervenções do exército e da Justiça em nome do respeito pelas instituições. Uma dinâmica com a qual a Move Forward quer acabar.