Uma das eleições mais tensas e disputadas dos últimos tempos na Turquia foi marcada pelo alto índice de comparecimento às seções — 88,83% dos 64 milhões de turcos aptos votaram — e por denúncias de bloqueio de votos. Na noite de domingo (14/5), com 97,77% das urnas apuradas, o presidente Recep Tayyip Erdogan tinha 49,35% dos votos, enquanto o candidato adversário Kemal Kiliçdaroglu, 44,98%. A imprensa turca apontava para a alta probabilidade de a batalha eleitoral ser decidida apenas em nova rodada de votação, marcada para 28 de maio. Seria algo sem precedentes, uma vez que Erdogan sempre havia vencido em primeiro turno.
Erdogan discursou do lado de fora do quartel-general do AKP, em Ancara, e declarou: "Ainda não sabemos se a eleição será concluída no primeiro turno, mas se o povo nos levar para um segundo turno, também respeitaremos isso. (...) Nosso povo é o vencedor, independentemente do resultado". O presidente aproveitou para provocar o candidato rival. "Alguém está na cozinha, nós estamos na varanda", ironizou, em alusão aos vídeos gravados por Kemal Kiliçdaroglu na cozinha, uma tentativa da campanha de humanizar a sua imagem ante os eleitores.
Erdogan assegurou ter "clara vantagem" na apuração. A aposta do homem que governa a Turquia há duas décadas está no voto dos cidadãos que vivem no exterior — 55,47% tinham sido contabilizados. Ele celebrou a vitória da coalizão governista nas eleições parlamentares, ao anunciar que a aliança entre o AKP, o ultranacionalista MHP e facções islamitas conseguiram a maioria no Parlamento.
"Nosso país tem uma festa da democracia completa nessas eleições. Ainda que os resultados não sejam claros, estamos na liderança, de longe. Os resultados das votações domésticas e estrangeiras levarão tempo para chegar", explicou o presidente. "Sempre fomos honestos (...), sabemos que estamos muito à frente nas eleições de hoje, mas esperamos os resultados exatos."
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Kiliçdaroglu acusou o AKP de bloquear a apuração, ao apresentar objeções aos resultados onde a oposição teve um número mais alto de votos. "Não bloqueiem a vontade da nação. Deixem os resultados virem e que todos os conheçam. O país não tem mais paciência para a instabilidade", recomendou. Durante a madrugada de hoje, depois do discurso de Erdogan, ele prometeu vencer no segundo turno. "Se a nação decidir pelo segundo turno, nós certamente venceremos. A vontade de mudança na sociedade é maior do que 50%", disse.
Morador de Bodrum (sudoeste), o empresário Fatih Guner, 41 anos, afirmou ao Correio que as eleições ganharam importância pelo fato de o AKP, partido conservador e islamita de Erdogan, ter iniciado uma escalada autoritária em 2015. "A oposição, neste ano, tem uma poderosa oportunidade para quebrar a hegemonia do AKP. No entanto, parece que a opinião pública não está alinhada com ela. Não acho que Kiliçdaroglu seja o nome ideal para derrotar Erdogan", alertou.
Guner afirmou que o comparecimento às urnas, na Turquia, é tradicionalmente um dos maiores do mundo. "Nós vamos, depositamos nossos votos, esperamos que sejam contados e temos que vigiar cada voto para fazer com que não seja roubado pelo partido governista. Nós, turcos, sempre achamos que, para a democracia funcionar melhor, temos que votar."
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