Os Estados Unidos se preparam para a chegada de um grande fluxo de imigrantes pela fronteira ao sul do país às vésperas da mudança em sua política de asilo que entra em vigor a partir desta sexta-feira (12/05).
Milhares de pessoas, provenientes sobretudo da América Latina, correm para tentar entrar no país agora, enquanto outras esperam para fazer isso quando a mudança ocorrer à meia-noite de sexta-feira.
Por esse motivo, os governos federal e do Texas mobilizaram forças de segurança nas cidades de fronteira.
Nesta quinta-feira (11/05), expira a medida Title 42, adotada durante a gestão do ex-presidente Donald Trump, que dá ao governo o poder de expulsar imediatamente migrantes sem documentação por motivos de emergência sanitária e obrigar os solicitantes de asilo a aguardar no México para ter seu processo analisado.
A perspectiva do novo cenário atraiu mais de 150 mil migrantes, que aguardam em abrigos e nas ruas dos Estados do norte do México para cruzar a fronteira.
"Não se havia visto nada parecido antes", disse Enrique Lucero, diretor de assuntos migratórios do Estado mexicano de Tijuana, à agência de notícias Reuters.
Pessoas dormem nas ruas
Alguns tentaram atravessar de maneira irregular, em vez de esperar.
As cidades texanas de El Paso, Brownsville e Laredo declararam estado de emergência, à medida que fazem frente a centenas de pessoas — a maioria da América Latina, outras da China, Rússia e Turquia — que já estão lá, esperando que suas solicitações sejam processadas.
Em El Paso, as pessoas dormem na rua, se protegem do Sol sob lençóis ou descansam sobre pedaços de papelão, segundo informações da agência de notícias AFP.
O prefeito, Oscar Leeser, disse que a cidade está se preparando para a chegada de muito mais migrantes nesta sexta-feira, a julgar por uma visita recente a Ciudad Juárez, cidade mexicana vizinha.
"Estimamos que haja entre 8 mil e 10 mil pessoas na rua. Há uma caravana (de migrantes) que estará aqui por volta do dia 11 (de maio), então vamos estar lidando com entre 12 mil e 15 mil pessoas."
O governador do Texas, Greg Abbott, anunciou o envio de 500 integrantes da chamada Força Tática de Fronteira, que vão ficar baseados em pontos críticos ao longo da fronteira para interceptar e repelir migrantes.
Os Estados Unidos insistem que o fim da medida Title 42 não significa que as fronteiras serão abertas.
A partir desta sexta-feira vai entrar em vigor a política Title 8, que permitirá expulsar quem entrar de maneira ilegal nos EUA, com a proibição de reingressar no país por cinco anos e consequências penais caso tentem.
Os imigrantes que desejam entrar nos Estados Unidos por portos regulares vão poder reenviar os pedidos de asilo por meio de um aplicativo e processar seus casos pela via judicial.
No entanto, muitos migrantes relataram que o aplicativo CBP One apresenta muitas falhas e é difícil conseguir agendamento.
Também se espera que seja mais difícil provar um caso de asilo, um processo que leva anos.
Aqueles que tiverem os pedidos rejeitados serão deportados para seus países de origem ou enviados de volta ao México.
Também foram abertas formas para migrantes da Venezuela, Haiti, Nicarágua e Cuba entrarem legalmente de avião se tiverem um patrocinador nos Estados Unidos que possa se responsabilizar por eles financeiramente.
O presidente Joe Biden está sob pressão da oposição republicana, que afirma que a migração está fora de controle. Com as eleições daqui a 18 meses, Biden quer evitar um fluxo migratório que possa ser usado como arma política pelos adversários.
Abbot, o governador republicano do Texas, criticou as novas medidas de Biden, dizendo que o governo "está estendendo o tapete de boas-vindas para pessoas de todo o mundo".
O governador do Texas ordenou a instalação de uma cerca de arame farpado para dificultar ainda mais a entrada deles, enquanto Biden reforçou as fronteiras com 4 mil agentes, incluindo 1,5 mil militares que vão realizar tarefas administrativas por 90 dias.
Enquanto isso, o secretário de Segurança Nacional, Alejandro Mayorkas, afirmou que eles estão "preparados" para enfrentar a onda de travessias irregulares na fronteira diante do fim da medida.
Em El Paso, a fronteira mais movimentada, as autoridades estão preparando escolas vazias para servir de abrigo e preparando meios de transporte para que os migrantes que entram no país possam se deslocar até lugares onde familiares ou amigos os aguardam.
"Isso não acaba nunca, realmente precisamos saber para onde estamos indo", disse o prefeito Leeser, que pede uma lei de imigração clara que parece impossível de ser aprovada por um Congresso em que republicanos e democratas têm posições muito polarizadas sobre migração.
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