Estados Unidos

Deputado republicano George Santos pode pegar mais de 20 anos de prisão

Filho de brasileiros, George Santos é acusado de fraude eletrônica, lavagem de dinheiro, roubo de fundos públicos e de enganar o Congresso. Solto sob fiança de US$ 500 mil, aliado de Trump pode pegar mais de 20 anos de prisão

Rodrigo Craveiro
postado em 11/05/2023 06:00
 (crédito: Michael M. Santiago/Getty Images/AFP)
(crédito: Michael M. Santiago/Getty Images/AFP)

Após o pagamento de uma fiança estipulada em US$ 500 mil (cerca de R$ 2,47 milhões) — valor depositado por três indivíduos não identificados —, o deputado republicano George Santos responderá em liberdade por 13 acusações de crimes federais apresentadas pela Promotoria de Nova York. Aos 34 anos, o aliado do ex-presidente Donald Trump descartou renunciar ao cargo. "Eu lutarei a minha batalha", afirmou o filho de imigrantes brasileiros que se transformou no centro de um escândalo de corrupção nos Estados Unidos, depois de ser indiciado por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e apropriação de fundos públicos, e por mentir ao Congresso (veja o quadro). Uma nova audiência foi marcada para 30 de junho.

"Esta acusação pretende responsabilizar Santos por vários supostos esquemas fraudulentos e falsidades descaradas", declarou o promotor Breon Peace, por meio de uma nota. Se condenado pela Justiça norte-americana, ele poderá cumprir uma sentença de 20 anos de prisão apenas pelo crime de fraude eletrônica.

Ao deixar o prédio da Corte Federal, em Central Islip (Nova York), o congressista foi questionado por jornalistas sobre se acredita na própria reeleição. "Não cabe a mim saber. As eleições são muito complicadas. Cabe ao povo. Confio nele para decidir o que é o melhor", respondeu. No fim da tarde, ele tuitou, em letras maiúsculas, como Trump costuma fazer: "Caça às bruxas!". Uma hora depois, nova publicação na rede social: "Onde está o caçador?".

A cadeira de Santos na Câmara dos Representantes veio às custas de uma série de mentiras em relação à sua educação, religião, patrimônio, salário e experiência profissional. Chegou a inventar que era descedente de judeus sobreviventes do Holocausto, fugidos dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Roupas de grife

De acordo com o indiciamento, Santos transferiu US$ 50 mil (ou R$ 247 mil) das doações de campanha para suas contas bancárias e utilizou a verba para cobrir despesas pessoais, comprar roupas de grife e quitar dívidas, além de repassar dinheiro para os próprios sócios. O congressista também é acusado de receber, de maneira fraudulenta, US$ 24 mil (R$ 118 mil) em benefícios de seguro-desemprego.

O memorando com as acusações aponta que Santos mentiu ao Congresso norte-americano, ao apresentar declaração na qual "certificou falsamente" que tinha recebido um salário de US$ 750 mil (R$ 3,7 milhões) da Devolder Organization LLC. A entidade, baseada na Flórida, tem o próprio político como único beneficiário. A informação inverídica foi enviada ao Capitólio durante a segunda campanha eleitoral de Santos, em setembro de 2022.

O republicano relatou, ainda, ter embolsado entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões (R$ 4,96 milhões e R$ 24,7 milhões) em dividendos da Devolder, o que comprovou-se uma falácia. Também mentiu sobre valores milionários na conta corrente e na poupança. A Promotoria alega que o deputado recorre "à desonestidade e ao engano reiterados para ascender aos corredores do Congresso e enriquecer".

Por e-mail, Saurav Ghosh — diretor do Programa de Reforma do Financiamento de Campanha Federal do Campaign Legal Center (CLC, em Washington) e advogado que entrou com uma ação contra Santos — afirmou ao Correio que as acusações impostas pela Justiça indicam que, em breve, o republicano responderá por "violar descaradamente a lei, em busca de cargo eletivo e de enriquecimento pessoal". "Elas mostram, claramente, que ele explorou, de forma consciente, os doadores e roubou-lhes o dinheiro dado para ajudar na campanha. Além disso, Santos mentiu voluntariamente em documentos oficiais e minou a transparência das nossas eleições."

Ghosh acredita que o escândalo colocará muita pressão sobre o Partido Republicano. "Com essas acusações, acho altamente improvável que Santos seja capaz de permanecer no cargo — e é ainda menos provável que ele consiga a reeleição."

"A acusação aborda, especificamente, um esquema por meio do qual Santos, diretamente e por meio de um consultor contratado, pediu a dois doadores de campanha que dessem dinheiro adicional a outra empresa controlada por ele, a Redstones Strategies LLC. A alegação era de que o dinheiro seria usado para apoiar a sua eleição. Na realidade, segundo promotores, Santos roubou o dinheiro e o transferiu para a própria conta", acrescentou Ghosh. O diretor da CLC pontua que isso é uma "atividade extremamente ilegal". "Ela mostra que Santos encheu os bolsos às custas de eleitores."

Kevin McCarthy, presidente da Câmara dos Representantes e um dos principais nomes do Partido Republicano, declarou que não apoiará Santos em uma eventual campanha à reeleição. "Não, não irei apoiá-lo. Acho que ele tem outras coisas no que se concentrar em sua vida, além de disputar a reeleição", disse à emissora CNN. Ele revelou que, se o Comitê de Ética da Câmara determinar que Santos violou a lei, pedirá a renúncia do colega.

Há dois meses, uma comissão legislativa começou a investigar a vida de Santos. Curiosamente, vários detalhes de sua vida sumiram da internet. Entre eles, informações de que ele frequentou a Horace Mann School, renomada escola particular do Bronx, ou que atuou no mercado financeiro para os bancos Citigroup e Goldman Sachs, como havia informado inicialmente.

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As acusações contra George Santos

O congressista norte-americano responderá por acusações de 13 crimes federais:

- 7 por fraude eletrônica (5 por esquema fraudulento de solicitação de contribuição política e 2 por requerimento e recebimento fraudulento de subsídio de desemprego);

- 3 por lavagem de dinheiro (transações financeiras ilegais acima de US$ 10 mil);

- 1 por roubo de fundos públicos;

- 2 por declarações falsas perante a Câmara dos Representantes do Congresso americano. 

"Nós vencemos"

 (crédito: Twitter)
crédito: Twitter

Quase 24 horas depois de a Corte Federal de Manhattan condenar o ex-presidente republicano Donald Trump a pagar US$ 5 milhões em indenização pelo abuso sexual e difamação contra a ex-jornalista E. Jean Carroll, a vítima rompeu o silêncio. "Uh, senhoras, eu posso ter uma palavra com vocês? Nós vencemos", publicou Carroll em seu perfil no Twitter. Até a tarde de ontem, o post tinha sido visualizado 942 mil vezes e recebido 61 mil curtidas. A colunista acusava Trump de tê-la estuprado dentro de uma loja de departamentos, em Nova York, na década de 1990. O magnata reagiu ao veredicto de terça-feira tachando-o de "uma vergonha". 

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