Apesar das críticas de organizações que lutam contra o antissemitismo e pedem a suspensão do leilão, a casa Christie's iniciou nesta quarta-feira (10/5), na Suíça, a polêmica venda das joias pertencentes a uma milionária, cujo marido alemão fez fortuna durante o regime nazista.
Pertencente à falecida milionária austríaca Heidi Horten, a coleção é composta de mais de 700 joias, com valor total avaliado em mais de 150 milhões de dólares (750 milhões de reais).
Nesta quarta, 100 peças foram colocadas à venda em um leilão presencial, e outras 150 serão leiloadas na sexta-feira (12/5). O restante será disponibilizado para compradores on-line em novembro.
Antes do início do leilão, o responsável pela venda e diretor internacional de Joalheria da Christie's, Rahul Kadakia, reiterou as explicações sobre o motivo pelo qual a casa aceitou leiloar esta espetacular coleção de joias, após uma enxurrada de críticas de várias organizações.
A origem das joias é irrepreensível, e "todo o lucro da venda será doado para uma fundação (o conselho de curadores Horten), que apoia causas filantrópicas", insistiu.
Kadakia afirmou ainda que "a Christie's fará uma doação significativa" dos lucros para instituições judaicas e para a educação sobre o Holocausto, que ele disse ser de "importância vital".
Esta semana, o Centro Simon Wiesenthal, ONG conhecida por rastrear criminosos de guerra nazistas foragidos, o Comitê Judaico-Americano (AJC) e o Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (Crif) pediram a suspensão da venda.
Ontem, a organização francesa qualificou a venda de "indecente", já que o marido de Heidi, Helmut Horten, construiu sua fortuna na Alemanha durante o governo dos nazistas, partido ao qual era afiliado.
Uma das joias de maior destaque da coleção de Heidi, falecida em 2022, é um anel Cartier com um rubi "sangue de pombo" de 25,59 quilates. A peça está avaliada em entre 10 milhões e 20 milhões de dólares (entre cerca de 50 milhões e 100 milhões de reais, no câmbio atual).
A venda pode quebrar recordes anteriores estabelecidos pela Christie's, quando a empresa negociou a coleção da atriz Elizabeth Taylor, em 2011, e a "Maharajas & Mughal Magnificence", em 2019, por mais de 100 milhões de dólares (cerca de 403 milhões de reais, na cotação da época).
"Duplamente indecente"
Segundo o ranking anual das pessoas mais ricas do mundo elaborado pela revista Forbes, a fortuna de Heidi Horten totalizava 2,9 bilhões de dólares (14,4 bilhões de reais). A origem do dinheiro de Horten, que já foi dona de uma das grandes redes de lojas de departamentos da Alemanha, atrai críticas.
Em 1936, três anos depois de Adolf Hitler chegar ao poder, Horten assumiu o comando da empresa têxtil Alsberg, após a fuga de seus proprietários judeus. Mais tarde, assumiu o controle de vários negócios pertencentes a judeus que fugiram do Reich nazista. Posteriormente, Horten foi acusado de lucrar com o saque de propriedades de pessoas de origem judaica.
O dinheiro arrecadado com a venda será destinado à Fundação Horten, criada em 2021, e à pesquisa médica, proteção infantil e outras atividades filantrópicas.
"Este leilão é duplamente indecente: não apenas os recursos utilizados para adquirir estas joias procedem, em parte, da 'arianização' de propriedades judaicas feita pela Alemanha nazista, mas a venda também está destinada a financiar uma fundação, cuja missão é garantir que o sobrenome de um nazista passe para a posteridade", denunciou o presidente do Crif, Yonathan Arfi.
Em um comunicado divulgado esta semana, o Centro Simon Wiesenthal pediu que as pessoas "não recompensem aqueles, cujas famílias enriqueceram graças a judeus desesperados perseguidos e ameaçados pelos nazistas".
O Comitê Judaico-Americano afirmou que a venda deve ser suspensa "até que seja feito um esforço sério para determinar quanto dessa riqueza procede das vítimas dos nazistas".
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