Reino Unido

Nem tudo foi flores: protesto cordial marca coroação de Charles III

Em meio à multidão que foi às ruas para saudar o sucessor de Elizabeth II, centenas de republicanos ocuparam espaço no caminho percorrido por Charles III em defesa de mudanças

Correio Braziliense
postado em 07/05/2023 06:00
Carruagem real passa diante de manifestantes antimonarquia, que exibiam cartazes com a frase
Carruagem real passa diante de manifestantes antimonarquia, que exibiam cartazes com a frase "Não é meu rei" - (crédito: Violeta Santos Moura/AFP)

Apesar da chuva, milhares de pessoas lotaram os arredores do Palácio de Buckingham e todo o trajeto até a Abadia de Westminster, onde foi realizada a cerimônia de coroação do rei Charles III. As ruas de Londres estavam tomadas pelo vermelho, branco e azul, as cores da bandeira britânica, num clima predominantemente festivo. No caminho da realeza, porém, houve protestos contra a monarquia, que não passaram despercebidos.

Na passagem da carruagem em que o rei Charles III, acompanhado da rainha Camilla, se dirigia à sua coroação em Londres, Anna Edwards exibiu um cartaz com a frase Not my king! (Não é meu rei!), ao invés de agitar a bandeira britânica. Assim como ela, centenas de manifestantes republicanos se concentraram na Trafalgar Square e penduraram enormes bandeiras amarelas com os palavras "abolir a monarquia" ao longo do trecho percorrido pelo casal real.

"Defendo a democracia e acredito que as pessoas deveriam poder escolher se querem ou não um monarca como chefe de Estado", afirmou Edwards, uma londrina de 33 anos. "Não sou particularmente antimonarquista, mas sou a favor da eleição", disse ela à agência de notícias France-Presse (AFP). Segundo o jornal britânico The Guardian, os atos mobilizaram ao menos 2 mil pessoas.

Em meio aos protestos, rapidamente, espalhou-se a notícia de que Graham Smith, líder do grupo 'Republic', que convocou a manifestação, tinha sido detido. "A polícia deteve seis dos nossos organizadores e confiscou centenas de cartazes com o lema 'Não é meu rei'", denunciou um porta-voz do grupo minutos depois. "Libertem Graham Smith!", repetiam os manifestantes, em coro, enquanto vigiavam a multidão, de uma plataforma elevada, usando câmeras e binóculos.

"É por isso, exatamente, que estamos aqui, porque a monarquia representa tudo o que está errado no Reino Unido: os privilégios, a desigualdade e a falta de democracia", disse à AFP Martin Weegman, que usava um boné com a palavra Republic.

Os republicanos continuam sendo minoria no Reino Unido, mas se tornaram mais visíveis desde a morte da popular rainha Elizabeth II, em setembro do ano passado. Desde então, vários se manifestam com frequência quando Charles III se desloca em alguma visita oficial.

Os atos de ontem incomodaram os que foram às ruas para apoiar o monarca. Usando um chapéu estampado com a bandeira britânica, Alice Ridge, 65 anos, foi saudar o rei e ficou contrariada com o que viu. "Não estraguem a festa", pediu.

A convivência foi cordial entre os manifestantes e o restante da multidão até que, na aproximação do cortejo real, os apoiadores da monarquia vaiaram aqueles que gritavam "Não é meu rei!" e "Abaixo a coroa!". Em seguida, começaram a cantar o hino nacional, God Save The King (Deus salve o rei), enquanto agitavam bandeiras britânicas.

Jane, de 30 anos, se divertiu com o confronto. Ela ficou contente de que tantos manifestantes tivessem saído, apesar da chuva, para criticar uma monarquia que chamou de "antiquada". "É muito agradável ver gente sensata e reflexiva protestando contra essa farsa", contou. "Agora, existe uma voz verdadeira para o republicanismo (no Reino Unido), acrescentou Anna, 54 anos. Ela lembrou que pesquisas recentes mostram um aumento do sentimento republicano, sobretudo entre os mais jovens. "Chegou o momento", afirmou.

Apoio à realeza

O clima de euforia da imensa maioria dos súditos, de qualquer forma, prevaleceu. Caryl Hall acordou cedo com os filhos adolescentes. "Estou muito emocionada. O ambiente é bom, amistoso, alegre, patriótico", disse a mulher de 55 anos, enrolada em uma bandeira britânica e com uma coroa de plástico na cabeça.

Milhares de admiradores da monarquia amanheceram no 'Mall', a grande avenida que começa no Palácio de Buckingham. Centenas chegaram a acampar no local nos dias que antecederam a cerimônia. "Vale a pena madrugar para ter um bom lugar", ressaltou o londrino Bokenham, que usava um gorro de lã com a bandeira da Grã-Bretanha.

Hillary, 72 anos, e a filha Jo, 47, saíram de casa nas primeiras horas do dia para acompanhar o evento de perto. "É histórico. Ele nunca será a rainha (Elizabeth II), mas é nosso rei e hoje só queremos celebrá-lo", enfatizou a mãe, que não revelou o sobrenome.

A Union Jack, a bandeira britânica, estava onipresente: em faixas, camisas e pintada no rosto das pessoas. Também era possível observar que um grande número de pessoas usavam coroas, de peças simples de plástico até objetos mais sofisticados.

Não só britânicos estavam nas ruas. Havia inúmeros estrangeiros, incluindo a canadense Christine Wilen, 55 anos. "Eu fiz a viagem para a coroação", declarou uma enfermeira canadense aposentada, acrescentando: "Estou muito emocionada de estar aqui, de fazer parte da história. Sempre fui monarquista".

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