Jornal Correio Braziliense

Guerra na Ucrânia

Presidente da China admite a Zelensky que negociar é a 'única saída' para guerra

Durante a ligação de quase uma hora, Xi disse ao homólogo ucraniano que "o diálogo e a negociação" são a única via para a paz

Em um desdobramento considerado importante para o futuro da guerra na ex-república soviética, os presidentes da China, Xi Jinping, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, conversaram por telefone pela primeira vez desde a invasão russa. "Tive um telefonema longo e significativo com o presidente Xi Jinping. Acredito que esta chamada, assim como a nomeação do embaixador da Ucrânia para a China, dará forte impulso ao desenvolvimento de nossas relações bilaterais", escreveu o líder ucraniano em seu perfil no Twitter.

Durante a ligação de quase uma hora, Xi disse ao homólogo ucraniano que "o diálogo e a negociação" são a única via para a paz. "Sobre a questão da crise ucraniana, a China sempre esteve do lado da paz e sua posição fundamental é promover um diálogo de paz", disse o chinês. "O diálogo e a negociação são a única saída para o conflito com a Rússia."

De acordo com Olexiy Haran, professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla, a conversa é um "bom sinal". "Demorou 18 anos, desde o início da invasão à Ucrânia (com a anexação da Crimeia), para que ela ocorresse. A China apontou um representante diplomático especial para acompanhar a guerra na Ucrânia", disse ao Correio.

Ele critica o fato de a iniciativa de paz proposta pelos chineses não comportar um apelo à retirada russa. "A China fala em respeito à soberania, mas trata-se de algo vago. Pequim deveria se pronunciar sobre o fato de que a integridade territorial da Ucrânia tem que ser recuperada."

Haran rejeita a proposta chinesa como "fórmula para a paz". "Poderia existir, no plano chinês, uma posição unificada dos Brics — grupo formado por Brasil, Índia, China e África do Sul, além da Rússia — para influenciar Moscou a parar com a chantagem nuclear e a abrir corredores humanitários a partir da Ucrânia, por exemplo. Outro ponto seria resguardar a segurança das usinas nucleares, como a de Zaporizhzhia (sul)", explicou.

Anton Suslov, especialista da Escola de Análise Política (em Kiev), considera o telefonema como "crucial". "Apesar de usar termos como 'crise ucraniana' e não mencionar a Rússia como o agressor, a conversa entre Xi e Zelensky é um progresso", admitiu ao Correio. 

Suslov lembrou que ações anteriores da China dizem mais do que palavras. Ele cita a recente visita de Xi a Moscou, a ida do ex-presidente russo Dmitry Medvedev a Pequim, e um "plano de paz" vago e genérico que apoia as alegações da Rússia sobre a ameaça representada pela Otan e pelas sanções. "Todas são evidências de apoio à Rússia. Na Ucrânia, há expectativas de que a comunicação entre os líderes possa contribuir para a melhor compreensão do lado chinês, tornando Pequim um ator neutro."