Jornal Correio Braziliense

Ucrânia

Supostas decapitações feitas por soldado russo provocam ultraje

Imagens mostram carrasco russo cortando a cabeça de prisioneiro de guerra ucraniano ainda vivo. Uma segunda gravação exibe corpos desmembrados. Zelensky promete não perdoar assassinos e ordena investigação. ONU se mostra "horrorizada"

Um dos vídeos, com duração de 1 minuto e 40 segudos, circula na internet desde terça-feira. Um combatente russo utiliza uma serra para decapitar outro homem, de uniforme. "Isso dói", grita a vítima, caída no chão. A imagem está borrada, mas a presença de plantas no terreno sugere que a execução tenha ocorrido durante o verão. Após o assassinato, a cabeça é mostrada pelo carrasco, enquanto se escuta aplausos ao fundo. "Você deve colocar em uma sacola e enviar para o comandante", diz uma voz, em russo. Na outra gravação, publicada em canal de mídia social pró-Rússia, em 8 de abril, corpos sem cabeça de soldados ucranianos estão espalhados pelo sol, perto de um veículo militar destruído. "O carro blindado foi f... por um mina. Eles o mataram. Alguém se aproximou deles e cortou suas cabeças", diz um suposto mercenário do chamado Grupo Wagner, uma unidade paramilitar aliada do Kremlin. Os soldados mortos também estão sem as mãos.

Ante as imagens, o presidente Volodymyr Zelensky determinou ao Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) a abertura de uma investigação sobre supostos crimes de guerra e avisou, por meio de um vídeo, que não perdoará os assassinos, caso os vídeos sejam confirmados. "Há algo que ninguém no mundo pode ignorar: com que facilidade estes animais matam! Esse vídeo... A execução de um prisioneiro ucraniano... O mundo precisa ver isso. Esse é um vídeo do que a Rússia é. Do tipo de criaturas que eles são. Não há pessoas para eles. Um filho, um irmão, um marido, o filho de alguém... Isso é um vídeo da Rússia tentando apenas fazer daquilo uma nova norma. Um hábito de destruir vidas. Isso não é um acidente", disse Zelensky.

O presidente lembrou que casos assim ocorreram "milhares de vezes" em Bucha — cidade situada 15km a noroeste de Kiev que foi palco de um massacre, em março de 2022. "Todos devem reagir, todos os líderes. Não esperam que isso seja esquecido. O tempo passará. Não esqueceremos de nada. Nem perdoaremos os assassinos", acrescentou. Ele assegurou que "haverá responsabilidade legal por tudo". Por sua vez, Vasyl Maliuk, chefe do SBU, prometeu punição: "Nós encontraremos esses desumanos. Se preciso, vamos pegá-los onde quer que estiverem: debaixo do solo ou do outro lado. Mas eles definitivamente serão punidos por suas ações". Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia,  considerou a Rússia "pior que o Estado Islâmico" e defendeu a expulsão dos "terroristas russos da Ucrânia e da ONU".

A Rússia colocou em dúvida a veracidade dos vídeos. "Claro que são imagens horríveis. Mas, no mundo de 'fakes' em que vivemos, a autenticidade destes vídeos deve ser compravada", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. A Missão de Monitoramento dos Direitos Humanos da ONU na Ucrânia mostrou-se "horrorizada" com os vídeos "terríveis".  "Um dos vídeos mostra uma execução brutal de um homem que parece ser um prisioneiro de guerra ucraniano, enquanto outro mostra corpos mutilados de supostos prisioneiros", afirmou a nota. A União Europeia advertiu que, caso confirmada, a filmagem será "outra brutal lembrança sobre a natureza desumana da agressão russa". Também reiterou o compromisso em responsabilizar todos os perpetradores e cúmplices de crimes de guerra. 

Diretor da organização não governamental Eurasia Democracy Initiative (em Kiev), Peter Zalmayev  acusou a Rússia de mentir de forma reiterada. "Isso ocorreu com as atrocidades cometidas durante o último verão. Os soldados russos deceparam a genitália de um militar ucraniano. Eles negam a realidade. Negaram o que houve em Bucha e o massacre em Mariupol. Eles negam até a invasão à Ucrânia. O jogo deles é tentar convencer as pessoas de que tudo o que veem não é verdade", explicou ao Correio. 

Segundo Zalmayev, é preciso ter em mente que várias facções travam combates na região do Donbass, incluindo Grupo Wagner, o qual opera com normas próprias de conduta. "Uma grande questão é o quanto de apoio da Rússia esses mercenários recebem. Isso mostra a desorganização do esforço militar russo na Ucrânia e a falta de êxito de Moscou no front." O especialista acredita que os vídeos são parte de uma estratégia para amedrontar os ucranianos. "O Exército russo é uma entidade terrorista, assim como  Vladimir Putin é um criminoso de guerra", acrescentou Zalmayev.

Tentativa de compra de armas da Turquia

Um dos documentos de inteligência vazados dos Estados Unidos na internet mostra que o Grupo Wagner tentou comprar armas e equipamentos de uma fonte considerada improvável: a Turquia país-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O dossiê obtido pela emissora CNN mostra até onde o grupo paramilitar foi para buscar fortalecer suas capacidades ofensivas na Ucrânia. Na condição de membro da Otan, a Turquia é considerada uma nação aliada dos EUA e de outros países, fornecendo apoio militar direto a Kiev. 

Frase

"Há algo que ninguém no mundo pode ignorar: com que facilidade estes animais matam!"

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia