Sob forte esquema de segurança, milhares de fiéis se reuniram, ontem, em Jerusalém, para celebrações da Páscoa cristã, do Pessach judaico e do Ramadã, o mês sagrado muçulmano. Os rituais ocorreram em um momento de escalada de violência entre israelenses e palestinos, deflagrada por uma operação das forças de segurança israelenses, na última quarta-feira, na Mesquita de Al-Aqsa, considerada o terceiro local sagrado do Islã. A intervenção provocou muitas críticas internacionais e acirrou o clima na região.
Logo após a polícia invadir a mesquita em Jerusalém e prender 350 pessoas, foram disparados, do Líbano, mais de 30 mísseis em direção a Israel, na escalada mais grave, desde 2006, na fronteira entre os dois países, que tecnicamente permanecem em guerra após vários conflitos. Israel respondeu e bombardeou infraestruturas do movimento radical palestino Hamas na Faixa de Gaza, governada pelo grupo, e no sul do Líbano.
Na sexta-feira, aconteceram dois atentados. O primeiro em um assentamento judaico na Cisjordânia ocupada, resultando na morte de duas irmãs israelenses de 16 e 20 anos. O segundo, em Tel Aviv, que matou um turista italiano. Um dia depois, foguetes saíram da Síria rumo às Colinas de Golã, área anexada por Israel, e à fronteira entre os dois países. Em retaliação, forças israelenses realizaram ataques contra os sírios visando um complexo militar e postos de radar e artilharia.
Nesse cenário de tensões acirradas, a Cidade Antiga, em Jerusalém Oriental, amanheceu ontem com o policiamento reforçado por autoridades israelenses. O local é conhecido como ponto de confronto entre as três religiões e tem registrado um aumento considerável de episódios de violência desde a operação na mesquita.
Centenas de fiéis compareceram, durante a manhã, à missa de Páscoa no Santo Sepulcro, um local sagrado disputado por várias denominações cristãs. A uma distância relativamente curta, milhares de judeus visitaram o Muro das Lamentações para a tradicional bênção dos Kohanim. Quase 500 judeus visitaram a Esplanada das Mesquitas antes do meio-dia, enquanto os fiéis muçulmanos rezavam pelo Ramadã.
Não foram registrados confrontos, mas visitantes externalizaram insatisfações. "Acredito que Jesus e Deus sofrem por estarmos divididos entre cristãos. Mesmo aqui estamos divididos, lamentavelmente, e há muita violência", disse, à agência France-Presse de notícias (AFP), a freira Elizabeth, missionária do Chade. "A situação não é muito boa", declarou, Mahmud Mansur, um palestino de 65 anos que também lamentou o fato de a polícia apoiar as visitas de judeus para "deixar de lado os muçulmanos". "Mas vamos lutar e esperamos (...) que um dia exista paz em Jerusalém", completou.
A Esplanada Sagrada é um poderoso símbolo de identidade religiosa e política para israelenses e palestinos. Para os judeus, é conhecida como o Monte do Templo, onde ficavam o Primeiro e o Segundo Templos da fé. Para os muçulmanos, é o Santuário Nobre, onde o profeta Maomé ascendeu aos céus. Em tese, os judeus não podem entrar no Monte do Templo, por proibição dos rabinos, mas muitos ignoram o veto. As visitas aumentaram nos últimos anos e são vistas com desconfiança por muitos palestinos, que temem que Israel planeje um dia assumir o controle do local ou dividi-lo.
Segundo o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, o país "está empenhado em manter o status quo no Monte do Templo e permitir aos fiéis acesso livre e seguro a todos os locais sagrados". "Nos últimos dias, em meio às celebrações de Pessach, Ramadã e Páscoa, houve muitas tentativas de provocar e criar confrontos entre israelenses e palestinos em Jerusalém e outros lugares. Pessoas que vêm a uma mesquita com paus, pedras e fogos de artifício não vêm para rezar, mas para provocar", relatou, em nota.
"Eixo de resistência"
Em contraponto, líderes do Hezbollah, o movimento libanês que tem um braço armado, e do Hamas, o grupo radical islâmico palestino, se reuniram em Beirute para falar sobre a "cooperação" contra Israel, segundo o grupo libanês. Ismail Haniyeh, líder do Hamas, se encontrou com o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, na capital do Líbano. O dia da conversa não foi divulgado, mas Haniyeh está em Beirute desde quarta-feira, quando houve a operação na Mesquita de Al-Aqsa.
Durante a reunião, os dois discutiram a "intensificação da resistência na Cisjordânia em Gaza", os acontecimentos na mesquita, "a disponibilidade do eixo de resistência" e a cooperação entre seus membros diante do acirramento dos conflitos, relata um comunicado do Hezbollah. O "eixo de resistência" é uma referência a palestinos, libaneses, sírios e outros grupos apoiados pelo Irã que se opõem a Israel.