O juiz mais conservador da Suprema Corte dos Estados Unidos, Clarence Thomas, aceitou por mais de 20 anos estadias de luxo financiadas por um milionário conhecido por suas doações ao Partido Republicano, afirma uma investigação jornalística publicada nesta quinta-feira (6).
A organização investigativa eletrônica ProPublica diz ter entrevistado "dezenas de pessoas" e revisado documentos internos para mostrar que o magistrado aceitou presentes de luxo do empresário Harlan Crow sem declará-los.
Revelações "assombrosas", classificou a associação Fix The Court, que faz campanha por uma reforma da Suprema Corte. Isto confirma, segundo a mesma, a necessidade de "uma reinvenção total, dirigida pelos congressistas, de suas responsabilidades,quando se trata de medidas básicas de controle" e, em particular, regras mais rígidas sobre os presentes recebidos por seus membros.
A amizade entre o juiz e o magnata do setor imobiliário foi tema de reportagem do jornal "The New York Times" em 2011, que a descreveu como "incomum e eticamente delicada".
- 'Deve renunciar' -
Esta não é a primeira vez que o juiz se vê mergulhado em uma polêmica. O envolvimento de sua mulher, Ginni Thomas, na política atraiu seu próprio escrutínio, por relatos de que ela participou dos esforços liderados por Donald Trump para anular ilegalmente os resultados da eleição presidencial de 2020.
Indicado pelo então presidente republicano, George H.W. Bush, em 1991, Thomas foi confirmado no cargo apesar das acusações de assédio sexual feitas por uma ex-assistente. O juiz as negou e se disse vítima do que chamou de "linchamento de alta tecnologia".
Em sua investigação, a ProPublica também aponta que Clarence Thomas viaja em quase todos os verões para uma propriedade do empresário nas Adirondacks, estado de Nova York, e que o acompanhou ao "Bohemian Grove", no estado da Califórnia, um clube de elite exclusivamente masculino reservado a políticos, artistas, celebridades e empresários.
"Para manter o que resta do respeito da população à Suprema Corte, o juiz Thomas deve renunciar imediatamente", tuitou o congressista Hank Johnson.
O senador democrata Dick Durbin, por sua vez, afirmou que o comportamento de Thomas "é, simplesmente, inconsistente com os padrões éticos que o povo americano espera de qualquer servidor público, mais ainda de um juiz da Suprema Corte".
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse que nenhum comentário seria feito: "Há outros órgãos do governo que deveriam se ocupar disso."