Jornal Correio Braziliense

VIOLÊNCIA

Brasileira gritava por socorro antes de cair de prédio na Argentina, dizem vizinhos

Registros em áudio obtidos pela polícia e compartilhados pela imprensa argentina revelam inúmeras ligações de vizinhos antes e depois da mulher cair do apartamento do empresário Francisco Sáenz Valiente

“Olá, sim, um policial poderia vir aqui, por favor? (Fala o endereço). Tem uma mulher que está gritando lá em cima, em um andar aqui em cima. Uma menina está gritando, eu acho que é no sexto andar. Ela está pedindo ajuda”. Essa foi a primeira de muitas chamadas registradas pela Central de Emergência Policial de Buenos Aires na manhã em que a brasileira Emmily Rodrigues Santos Gomes caiu do 6º andar do edifício Libertad, na última quinta-feira (30/3).

Registros em áudio obtidos pela polícia e compartilhados pela imprensa argentina revelam inúmeras ligações de vizinhos antes e depois da mulher cair do apartamento do empresário Francisco Sáenz Valiente, de 52 anos. As provas servirão para a investigação do caso, que procura descobrir se a baiana foi derrubada da varanda do local, como vítima de homicídio, ou se jogou do parapeito em uma ação própria.

Caso a hipótese de assassinato seja confirmada, Francisco Sáenz é tido como principal suspeito pela morte da brasileira — ele está preso e afirma que a mulher se jogou da varanda do apartamento dele.

“A menina está deitada lá. Não sei se ela pulou ou a jogaram, ela estava discutindo com uma pessoa mais velha. Ela pulou da janela, ela pulou ou eles a jogaram”, diz aos prantos uma vizinha em outra chamada à Central de Emergência ao se deparar com o corpo nu e sem vida de Emilly em uma das esquinas do edifício. Os áudios foram revelados pelo jornal argentino Clarín.

De acordo com fontes do Clarín, além dos áudios obtidos pela Central de Emergência, os depoimentos de moradores à polícia também afirmam que Emmily pediu socorro antes de cair do sexto andar.

Francisco também ligou duas vezes para a Central de Emergência — as duas antes da queda de Emilly. Na primeira chamada, o empresário pedia uma policial porque “tinha uma menina que estava muito perturbada" na casa dele. “Perturbada de que forma?”, pergunta o atendente da Central.

“Alterada. Se eles puderem vir bem rápido porque ela está gritando muito”, emenda o empresário com gritos desesperados de Emmily no fundo da chamada. “Você a conhece?”, questiona o operador. “Eu a via hoje, a amiga dela, sim (conheço). Ela está gritando muito, está como que possuída”, disse.

Na segunda ligação, os gritos perturbadores continuam ao fundo. Em determinado momento, é possível escutar a voz de Emmily rezando um Pai Nosso.

“Venham urgente, por favor”, diz o homem. De acordo com o Clarín, um dos gritos de Emmily parece ser “vai me matar, filho da p*” ou “vou me matar, filho da p*”. O jornal diz que não é possível ouvir com clareza a frase devido à má qualidade da ligação. Ao g1, a família de Emmily confirma que a voz é da brasileira.

Entenda o caso

Emmily morava em Buenos Aires há quatro anos. Em 29 de março, a convite de uma amiga, identificada como Juliana Magalhães Mourão, ela saiu para jantar e jogar boliche. A noite foi estendida pelas mulheres, que se dirigiram ao apartamento de Francisco — até o momento não se sabe o motivo da ida para o local, só se sabe, apenas, que Juliana conhecia o empresário.

Na quinta-feira (30/3) pela manhã, vizinhos ouviram os gritos desesperados da brasileira, que logo depois caiu do sexto andar no pátio interno do prédio. Ela estava nua. À polícia, Francisco negou ter jogado Emmily do prédio e afirmou que a mulher teve “um surto” e que “reagiu inesperadamente indo até uma janela e se jogando”. A defesa do homem também falou que a mulher estava sob efeito de drogas e bebidas alcoólicas.

Ao g1, a família de Emmily diz que a mulher não faz uso das substâncias e que não tem o hábito de beber muito. Além disso, o pai da brasileira disse ao jornal que o corpo da mulher está com marcas de violência que revelam agressões anteriores à queda.

"Essas marcas de arranhões aparentam que existiu agressões antes dela ser empurrada de lá do sexto andar. Vizinhos ouviram, pessoas testemunharam que ela pediu por socorro, pediu ajuda. O corpo também tinha sinais de que ela foi arrastada, ferimentos. Não foram identificadas marcas apenas do impacto da queda, mas também marcas de agressões que ocorreram antes disso”, relatou Aristides ao g1 Bahia.