Jornal Correio Braziliense

Israel

Polícia de Israel invade a Mesquita de Al-Aqsa e prende 350 palestinos

Em comunicado, a polícia israelense afirmou que centenas de "agitadores" e "profanadores da mesquita" se barricaram no Monte do Templo, à noite, "de modo violento"

Professor da Universidade de Tel Aviv, o palestino Ali Al Awar — especialista em temas israelenses — estava na Mesquita de Al-Aqsa, na noite de terça-feira e ontem pela manhã, quando as forças de Israel invadiram, por duas vezes, o terceiro local mais sagrado do islã, na Cidade Velha de Jerusalém. "Existe um acordo entre o rei Abdullah II, da Jordânia, e o premiê israelense, Benhamin Netanyahu, de não mudar o status quo do templo.

À zero hora de hoje (ontem), a polícia de Israel exigiu que os palestinos abandonassem a mesquita. Um grande contingente invadiu o local quando orávamos. Nós fomos atacados. Às 7h, quando finalizávamos as orações da manhã, um grupo de judeus radicais religiosos entrou no pátio da Mesquita de Al-Aqsa, acompanhado pelos policiais", relatou ao Correio, por telefone, de Jerusalém. Pelo menos 350 palestinos foram detidos, e 37 ficaram feridos. 

Na madrugada de ontem, depois da primeira operação policial, militantes do movimento fundamentalista islâmico Hamas dispararam foguetes Qassam contra o sul de Israel, no momento em que os judeus comemoravam a Pesach, sua Páscoa. O grupo denunciou um "crime sem precedentes" e convocou os palestinos da Cisjordânia ocupada a se dirigirem à mesquita para "defendê-la". Pela manhã, a aviação de Israel bombardeou a Faixa de Gaza, de onde partiram os foguetes.

Em comunicado, a polícia israelense afirmou que centenas de "agitadores" e "profanadores da mesquita" se barricaram no Monte do Templo, à noite, "de modo violento". "Eles usaram rojões e pedras", denunciaram. Ontem à noite, mais dois foguetes foram lançados contra o território de Israel. 

"Por aqui, os moradores estão tensos e esperam mais ataques. Durante a madrugada de hoje (ontem), 17 foguetes foram disparados em direção à minha cidade e imediações", contou à reportagem o relações públicas Dov Trachtman, 31 anos, que vive em Sderot, a 5km da fronteira com Gaza. "Estou preocupado, pois a situação continua a escalar. Mais foguetes aumentam a probabilidade de morte. Eles (Hamas) disparam indiscriminadamente contra civis e não se importam se matam crianças."

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse sentir-se "impactado e consternado" com "a violência e as agressões" das forças israelenses dentro da mesquita, segundo o porta-voz, Stéphane Dujarric. Analista política baseada em Ramallah, a palestina Nour Odeh lembrou ao Correio que Israel tem invadido a Mesquita de Al-Aqsa ao longo do Ramadã, desde o início do mês sagrado para o islã. "As incursões ocorriam em uma intensidade menor. Durante muitos anos, Israel transformou em hábito a invasão à mesquita, interferindo nas orações dos muçulmanos. De certa forma, em muitos casos, os israelenses anteciparam as tensões. Os palestinos entendem que têm o direito de se reunirem em Al-Aqsa durante a noite. É uma tradição secular. Às vezes, oram do pôr-do-sol ao amanhecer", explicou. 

Segundo Odeh, Israel tem utilizado a justificativa de que "agitadores" frequentam a mesquita. "Sob a lei internacional, forças israelenses não têm o direito de invadirem Al-Aqsa ou de interferirem em como as pessoas professam sua fé. Isso cria uma atmosfera muito tensa. A cada ano, a brutalidade aumenta", lamentou.

Ela esclareceu que, durante o Ramadã, os palestinos têm o costume de orar, refletir e expressar solidariedade, além de fazer doações. "Homens, mulheres e crianças frequentam a Mesquita de Al-Aqsa. Estou muito preocupada com o grau de tensão, neste momento. Israel pode transformar o Ramadã em fonte de dor, tensão e agitação para os palestinos", acrescentou Odeh.

Ela acusa os judeus de realizarem ações "provocativas e incendiárias" e de pretender controlar "cada  aspecto da vida" dos palestinos. "Querem regular o acesso aos locais sagrados, em Jerusalém, de muçulmanos e cristãos. Isso é parte de uma operação sistêmica ao longo do último século", lamentou a analista política palestina.