Depois de nove meses de espera, a Finlândia foi oficializada, ontem, como o 31º país-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A adesão ocorre em meio à guerra travada pela Rússia na Ucrânia. Moscou não tardou em ameaçar com represálias. "A ampliação da Otan é um ataque à nossa segurança e aos nossos interesses nacionais. Isto nos obriga a adotar contramedidas", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
O acesso ao bloco militar foi saudado pelo secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. "Hoje é um dia histórico. Nós saudamos a Finlândia como o mais novo integrante de nossa aliança. (...) O presidente (russo Vladimir) Putin queria fechar as portas da Otan. Agora, mostramos ao mundo que fracassou, que as agressões e intimidação não funcionam", afirmou. "A Finlândia agora tem os amigos e aliados mais fortes do mundo", acrescentou, ao anunciar o fim da era do não alinhamento.
O presidente dos EUA, Joe Biden, celebrou a adesão e disse estar ansioso em ver o mesmo ocorrer com a Suécia. O democrata mandou um recado à Rússia: "Quando Putin lançou sua brutal guerra de agressão contra o povo da Ucrânia, imaginou que poderia dividir a Europa e a Otan. Ele estava errado. Hoje, estamos mais unidos do que nunca", disse Biden. O presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, assegurou que o país está comprometido com a segurança de todos os Estados-membros da Otan e será um "aliado confiável que fortalece a estabilidade regional".
De acordo com Heikki Patomäki, professor de política mundial da Universidade de Helsinque, a adesão da Finlândia à Otan é um elemento inserido em um grande processo, cuja dinâmica é bastante instável. "A Finlândia é um país pequeno, mas próximo dos principais centros da Rússia, especialmente de São Petersburgo e da Península Kola. O simples fato de a Rússia ter 1.300km de fronteira ccom a Otan envolve mudanças. A Rússia, como qualquer outro país em situação similar, tomará medidas como resposta", afirmou ao Correio, por e-mail.
Professor de história política da mesma universidade, Juhana Aunesluoma admitiu ao Correio que a entrada na Otan representa um "ponto de guinada histórico" para a Finlândia. Membro da União Europeia desde 1955, o país nunca tinha feito parte de qualquer aliança militar formal. Ele entende que isso fortalecerá a credibilidade da defesa nacional finlandesa, mas exigirá de Helsinque a ajuda aos aliados, em caso de conflito.