Jerusalém — Radares ultramodernos "escaneiam" a Faixa de Gaza 24 horas por dia. O mapeamento é feito cinco vezes a cada segundo. No momento em que um foguete Qassam é lançado pelo Hamas ou pela Jihad Islâmica, o sistema o identifica e, um segundo e meio depois, calcula a trajetória do artefato e o alvo. A interceptação ocorre quando o sistema "entende" que uma área povoada sofre a ameaça de ataque. A avaliação de risco leva em conta a divisão do território de Israel em 2 mil pequenos perímetros.
Em caso de necessidade, como quando aeroportos e infraestrutura civil ou militar estão sob perigo, três ou quatro mísseis interceptores são acionados de uma só vez. Os 60 mil moradores do "envelope de Gaza" — o entorno da fronteira com o enclave palestino — têm entre 11 e 15 segundos para buscar abrigo, assim que um projétil é disparado.
Desde 2011, o "Domo de Ferro" (veja arte) emprestou aos cidadãos do sul de Israel e do restante do país uma sensação de mais segurança. Atualmente, a taxa de sucesso na interceptação dos foguetes é de 92%.
O Correio visitou uma das baterias do Domo de Ferro, próximo a Sderot, cidade de 25 mil habitantes situada a 5km da fronteira com Gaza. Era feriado de Purim, festa judaica que comemora a salvação dos judeus persas de um plano de extermínio. Crianças foram até o local para entregar doces aos cerca de 15 soldados (homens e mulheres) que guardavam as unidades de disparo. Um sinal de gratidão da população pela existência do escudo antimísseis.
Morador de Sderot, o relações públicas Dov Trachtman, 31 anos, disse à reportagem que o Domo de Ferro o faz se sentir "um pouco mais seguro". "Ele interceptou milhares de foguetes, ao longo da última década, e inúmeras vidas foram salvas por isso", sublinhou. "O fato de haver um sistema de interceptação significa menos mortes, feridos e danos. Com isso, Israel se permitirá 'conter' e 'absorver' a escalada de terror vinda de Gaza."
Ainda segundo Trachtman, o Domo de Ferro se traduz em menos reação e mais passos calculados. "O problema é que, em tempos de escalada contenciosa, uma falta de ação é percebida por muitos como um abandono por parte do governo israelense, uma falta de cuidado com os cidadãos do sul do país. É um assunto complexo, que afeta muitas coisas."
"Os foguetes do Hamas e da Jihad Islâmica ficaram maiores e passaram a alcançar regiões mais distantes, o que aumentou sua letalidade", explicou Jonathan Conricus, ex-porta-voz internacional das Forças de Defesa de Israel (IDF) e ex-militar que combateu o Hamas na Faixa de Gaza. "A única defesa que Israel tem contra 30 mil foguetes e morteiros de Gaza é o Domo de Ferro", acrescentou.
O projeto foi autorizado, em 2006, pelo então ministro da Defesa, Amir Peretz. Passaram-se quatro anos até que o primeiro sistema fosse desenvolvido em conjunto com os EUA — a operacionalização teve início em 2011.
Exposição
Durante a última guerra entre israelenses e palestinos, em maio de 2021, os militantes palestinos lançaram 4.400 foguetes contra Israel em 11 dias de combates. Alguns deles podem atingir Tel Aviv, a 70km da fronteira norte com a Faixa de Gaza, e Jerusalém, a 90km. O tempo de reação dos moradores de Tel Aviv, assim que as sirenes antiaéreas soam, costuma ser de 90 segundos. Em tese, entre 3 milhões e 4 milhões de israelenses estão no raio de alcance dos projéteis. Enquanto o Hamas gasta, em média, US$ 300 (ou R$ 1,5 mil) para fabricar cada foguete Qassam, o custo de cada bateria do Domo de Ferro chega a US$ 60 mil (ou R$ 300 mil). O dinheiro é financiado pelos Estados Unidos e alocado em orçamento legislativo do Congresso norte-americano para a defesa de Israel.
Relacões públicas em uma empresa de energia solar, o costarricense Daniel Campos, 37 anos, vive em Ashdod desde 2007. "As pessoas por aqui se sentem mais seguras, mas temos adultos e crianças com transtorno de estresse pós-traumático", afirmou ao Correio. "Não fosse o Domo de Ferro, a maioria desses foguetes atingiria o prédio onde moro. Antes de ele começar a operar, as pessoas corriam em pânico. Não sabíamos se o foguete cairia sobre uma casa, um carro ou em um campo aberto. Agora, as sirenes soam e esperamos a explosão, sabendo que o foguete foi destruído no ar." Em tempos de acirramento do conflito, os moradores, de dentro de suas residências, conseguem ver as luzes dos mísseis do Domo de Ferro em perseguição aos Qassam.
Em Ashkelon, a 32km de Gaza, a produtora de mídia Sofi Lev, 29, reconhece que o Domo de Ferro é o que mantém seguro o sul de Israel. "É um sistema eficiente, por prevenir que os mísseis palestinos atinjam os alvos. Isso significa que menos civis são feridos. Lembro-me do tempo antes de termos o Iron Dome em nossa região. Era muito mais perigoso e, claro, muito mais estressante e traumático para todos nós", disse ao Correio.
A apenas 1km do enclave palestino, no kibbutz Mefalsim, a consultora de negócios e professora Noga Gulst, 56, concorda com Sofi e classifica o sistema de defesa antiaérea de Israel como um desdobramento muito importante para a segurança do país. "Desde que ele passou a ser utilizado, houve muito menos pousos bem-sucedidos de foguetes. Não que possamos parar de ir para os quartos seguros em nossas casas, ou ficar do lado de fora, quando o alarme disparar, mas nos sentimos mais seguros", afirmou à reportagem.
Noga lembra que, quando ocorre a interceptação de um artefato do Hamas ou da Jihad Islâmica, é comum uma "chuva" de destroços. "Ela não é menos perigosa do que o próprio foguete. Por isso, desde a ativação do Domo de Ferro, fazemos questão de permanecer o tempo todo no abrigo", explicou. Mesmo quando despertadas no meio da noite por uma explosão do escudo antimísseis, ela e a família se movem para o quarto seguro pelo resto da noite. "É melhor continuar nosso sono tranquilamente pelo resto da noite, sem termos que nos preocupar que algo caia sobre nós. Ao levar tudo isso em conta, sou muito grata pelo Domo de Ferro!", concluiu.
(*) O repórter viajou a convite da Embaixada de Israel