Estados Unidos

Budweiser sofre boicote após parceria com influencer trans e vendas caem 17%

As vendas da cerveja caíram em uma semana e, logo depois do início do boicote, a empresa perdeu R$ 30 bilhões em valor de mercado. Por conta da polêmica, a Budweiser decidiu afastar dois diretores

Aline Brito
postado em 27/04/2023 05:00
 (crédito: Reprodução/Instagram @dylanmulvaney)
(crédito: Reprodução/Instagram @dylanmulvaney)

A marca de cerveja Budweiser tem sido alvo de boicote nos Estados Unidos, desde o início de abril, após ter contratado a influenciadora transgênero Dylan Mulvaney para participar de uma ação publicitária. Depois da publicação de um vídeo em que Mulvaney mostra a bebida, grupos conservadores norte-americanos iniciaram uma série de ações que resultaram na queda de 17% nas vendas da empresa na última semana e uma perda de valor de mercado de aproximadamente R$ 30 bilhões.

O caso envolve a Bud Light, uma variação da bebida mais leve e com menos calorias. O vídeo foi publicado pela influenciadora, que tem 1,8 milhões de seguidores no Instagram e 10,8 milhões no TikTok, em 1º de abril e Mulvaney aparece mostrando seis latas da cerveja que foram enviadas para ela com um desenho de seu rosto estampado na embalagem, como forma de comemorar o marco de um ano desde que se declarou trans publicamente.

As reações começaram logo que o conteúdo foi publicado nas redes sociais da influenciadora. Grupos estadunidenses conservadores passaram a acusar a Budweiser de apoiar causas transgênero e de “expor crianças à sexualidade” — mesmo que nos Estados Unidos a venda de cervejas seja proibida para menores de 21 anos.

Celebridades e políticos entraram na onda de sabotagem à empresa, incluindo o músico Kid Rock, que fez sucesso no país entre os anos 1990 e 2000. Ele compartilhou um vídeo em seu Instagram em que aparece com um fuzil automático e atira diversas vezes contra caixas de Bud Light.

Outras personalidades como o influenciador de direita Ben Shapiro e o deputado republicano do Texas Dan Crenshaw, incentivaram o boicote. Além disso, segundo a imprensa local, houve uma ameaça de bomba a uma fábrica da Budweiser em Los Angeles.

Em meio à polêmica e com perdas significativas em suas ações e em vendas, a AB InBev, abreviação para Anheuser-Busch, dona da marca Budweiser, anunciou o afastamento de dois diretores de marketing. Alissa Heinerscheid, vice-presidente de marketing da Bud Light, e Daniel Blake, vice-presidente da Anheuser-Busch e responsável por supervisionar o marketing das principais marcas da Anheuser-Busch, entraram de licença.

A empresa emitiu comunicado, que foi divulgado pelo jornal The New York Times, primeiro veículo a noticiar o caso, e confirmou as mudanças na equipe de marketing. De acordo com a cervejaria, os ajustes foram feitos para “reduzir camadas”. “Fizemos alguns ajustes para simplificar a estrutura de nossa função de marketing para reduzir as camadas, de modo que nossos profissionais de marketing mais experientes estejam mais conectados a todos os aspectos das atividades de nossas marcas”, afirmou.

O presidente-executivo da Anheuser-Busch InBev, Brendan Whitworth, também tocou no assunto em outro comunicado, emitido em 14 de abril. Segundo ele, a AB InBev “nunca pretende fazer parte de uma discussão que divide as pessoas”. “Nosso negócio é reunir as pessoas para tomar uma cerveja”, ressaltou. Já a influenciadora trans Dylan Mulvaney falou indiretamente sobre o boicote durante entrevista a um podcast e disse que é um alvo fácil por ser nova nas redes sociais. “Acho que ir atrás de uma mulher trans que faz isso há 20 anos é muito mais difícil [...] Mas qual é o objetivo deles?”, indagou Mulvaney.

  • Budweiser sofre boicote desde que a influenciadora trans Dylan Mulvaney fez uma campanha publicitária em seu Instagram para a marca Reprodução/Instagram @dylanmulvaney
  • A Budweiser enviou uma lata personalizada para Dylan Mulvaney, em comemoração a uma ano desde que ela se assumiu transgênero Reprodução/Instagram @dylanmulvaney
  • Dylan Mulvaney participou de ação publicitária da cerveja Bud Light, da Budweiser Reprodução/Instagram @dylanmulvaney

Seguidores reclamam de "ofensa às mulheres"

Os grupos conservadores que protagonizam o boicote também acusam Mulvaney de zombar das mulheres e de reproduzir estereótipos machistas sobre o comportamento feminino.

No vídeo publicado pela influenciadora, que durou menos de um minuto, ela fala, principalmente, sobre um sorteio de 15.000 dólares que a Budweiser promoveu durante o “March Madness” — Março da Loucura, em português. A expressão é usada para se referir ao campeonato de basquete que acontece no mês de março com as universidades selecionadas para disputar o torneio da NCAA, principal competição de basquete universitário.

Tanto na legenda da publicação quanto no vídeo, Mulvaney afirma que não sabia que “March Madness” era sobre esportes. Nas imagens ela está vestida com roupas, acessórios e usa um penteado que remete aos anos 1960, se assemelhando à personagem do filme Bonequinha de Luxo. Além disso, a influenciadora comenta que a Budweiser enviou uma lata alta com seu rosto estampado para comemorar os 365 dias, completados em março, desde que se revelou transgênero.

“Feliz março da loucura!! Acabei de descobrir que isto tinha a ver com desporto e não apenas com dizer que é um mês louco”, escreveu a influenciadora na publicação. Após as afirmações, os internautas foram aos comentários da publicação atacar Mulvaney sobre suas falas acerca do March Madness. “Não entendo porque você está zombando das mulheres retratando literalmente todos os estereótipos sobre nós. Não vivemos de salto alto e vestidos”, reclamou uma usuário do Instagram.

“Essa foi a coisa mais estranha de anúncio que já vi. Que estranho. Será que ela está zombando com as mulheres, tipo somos tão burras/ignorantes que nem sabemos o que é March Madness? Isso é tudo tão estranho”, comentou outra internauta. A postagem acumula mais de 12 mil comentários.

 
 
 
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Uma publicação compartilhada por Dylan Mulvaney (@dylanmulvaney)

Estados Unidos enfrenta onda conservadora contra os direitos trans

As críticas à Bud Light são o episódio mais recente da onda conservadora antitrans que atravessa os Estados Unidos. Grupos conservadores têm, há meses, se colocado contra os direitos da população transgênero. Outras empresas, como a marca de chocolates em forma de confetes M&Ms, enfrentou um boicote após mudar a identidade visual de seus mascotes.

A onda de reclamações ocorre quando os legisladores estaduais republicanos estão propondo uma lei que busca regular a vida de jovens transgêneros, restringir shows de drag queens de uma forma que possa incluir apresentações de pessoas transgênero, e exigir que as escolas exponham os alunos transgêneros a seus pais.

Em defesa, a Anheuser-Busch disse, no início deste mês, que "trabalha com centenas de influenciadores em nossas marcas como uma das muitas maneiras de se conectar autenticamente com o público em vários grupos demográficos" e deu a Mulvaney uma lata personalizada com seu rosto para "celebrar um momento pessoal marco."

A AB InBev vende mais de 100 marcas de cerveja nos Estados Unidos e é a maior cervejaria do mundo. O Correio entrou em contato com a assessoria de imprensa da Ambev, empresa brasileira do grupo Anheuser-Busch InBev, dona da Budweiser, para esclarecer o assunto, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.

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