Em um cenário de violência atroz, jogadores brasileiros que atuam em clubes do Sudão lutam para conseguir deixar o país após o início do conflito entre as forças do governo e um movimento paramilitar, em 15 de abril. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até sexta-feira (21/4), o embate já deixou ao menos 413 mortos e feriu outras 3,5 mil pessoas.
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Os atletas brasileiros que moram em Cartum, capital do país e cidade em que o combate foi iniciado e está concentrado, relatam momentos de angústia devido a insegurança do local, situação que tem mobilizado governos de diversas nações a retirar diplomatas e cidadãos do país — neste domingo (23/4), os Estados Unidos e o Reino Unido já conseguiram transportar as primeiras pessoas para fora do conflito.
Enquanto observam as movimentações de outros países para a retirada de outros estrangeiros e até mesmo de sudaneses neste domingo (23/4), os atletas Paulo Sérgio e Matheuzinho, ambos do clube Al-Merrikh, relatam uma demora do Itamaraty em resgatar os brasileiros que estão na capital. Após dias sem resoluções práticas, os jogadores deixaram a capital em um ônibus para outra cidade, mas não têm certeza se conseguirão deixar o país.
“Todos organizados e já fechados com outras embaixadas e a gente, estamos com quem??? Só dizem que estão tentando resolver, porém não encontram mais ônibus e nem van para nos tirar daqui’, escreveu Paulo Sérgio em uma rede social.
O atleta classificou como “absurda” a falta de logística do Itamaraty para retirar os brasileiros do local e afirmou que os atletas tentam resolver a situação por conta própria. “Itamaraty, Lula, cadê vocês, p*? Todo mundo metendo o pé desse lugar e vocês demorando para agir. Vocês não têm moral com ninguém! Estamos virados, tentando resolver os problemas por conta própria, absurdo!”, disse o jogador.
Por volta das 13h, o jogador compartilhou que “conseguiram um ônibus” e que iriam para outra cidade, onde passarão a noite e seguirão, na segunda-feira (24/4), para o Egito. No entanto, a viagem não saiu no horário previsto e os jogadores passaram por momentos de tensão com a explosão de bombas no local. “Agora começaram as bombas intensamente! Éramos para tá longe daqui há muito tempo. Desorganizados, medrosos, omissos, mentirosos!”, escreveu inconformado.
Ao Correio, Matheuzinho disse que os jogadores foram retirados da cidade junto com outras dezenas de pessoas. De acordo com o atleta, será um dia de viagem para fora da capital, mas aparenta não se importar com o tempo em que ficará no veículo. “Já preparei minha cama (um cobertor no corredor do ônibus), a viagem é longa, mas estamos saindo”, disse. “Se Deus quiser vai dar tudo certo, Deus é fiel”, diz em outro vídeo.
No Brasil, a deputada federal Rosana Valle (PL-SP) solicitou ao Ministério das Relações Exteriores, chefiado por Mauro Vieira, a retirada dos brasileiros do local, por meio de um documento oficial. A atitude foi tomada após ter contato com os relatos de Paulo.
“De acordo com o jogador, o Itamaraty teria deixado uma funcionária da Embaixada Brasileira no Sudão, sem apoio para deixar o local. Ela estaria junto com ele buscando fugir do conflito armado. Isso é abandono. A guerra deflagrada no Sudão tem deixado um rastro de violência e de mortes. É público. Isso já seria o suficiente para a União se mexer e estender a mão aos brasileiros que precisam voltar para casa”, declarou a paralamentar.
O que diz o Itamaraty
Em nota, o Itamaraty disse que “segue empreendendo esforços para retirar todos os brasileiros em território sudanês tão logo quanto possível”. O governo diz que é prioridade a retirada dos cidadãos que estão em Cartum, onde estavam 16 nacionais. De acordo com a pasta, 15 já foram resgatados e o que ainda está no local, “encontra-se em segurança e aguardando orientações”.
“Entre esses, preocupava especialmente a situação de três crianças, que deixaram Cartum esta madrugada, em companhia do pai, em comboio da ONU para o leste do país. Outros 10 saíram esta tarde por via terrestre em direção ao norte. Uma cidadã seguiu para cidade ao sul, conforme orientada pela organização da qual faz parte. Resta um cidadão brasileiro na capital, que presumia poder ser evacuado esta manhã, o que acabou não sendo possível. Encontra-se em segurança e aguardando orientações”, detalha a nota.
O Itamaraty afirma, ainda, que está em “estreito contato” com a ONU e outros governos para monitorar a situação de outros brasileiros que ainda estão em localidades fora do conflito, “em situação de menor risco relativo”.
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